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Pilar fundamental na reaproximação de Saramago a Azinhaga

Pilar fundamental na reaproximação de Saramago a Azinhaga

Documentário “José e Pilar” revela episódio desconhecido, antes do regresso do escritor às origens

Pilar del Rio esteve na apresentação do filme em Santarém e garantiu que pólo de Azinhaga da Fundação Saramago vai continuar a promover a cultura e a vida e obra do escritor.

O regresso de José Saramago à sua terra natal em Novembro de 2006, após muitos anos de ausência, só foi possível graças à insistência da sua mulher, Pilar del Rio. O escritor mostrava-se relutante em apresentar o seu livro “Pequenas Memórias” na aldeia do concelho da Golegã, alegando que já não conhecia ali ninguém. E foi a esposa que lhe disse: “Não o fazes por ti, fazes pela tua aldeia, por gente que gosta de ti”. O autor acabou por anuir a contragosto, mas a verdade é que nesse dia de Outono, em que celebrava 84 anos, Saramago foi recebido calorosamente por centenas de pessoas, reviu velhos amigos e parentes, autografou centenas de livros e até teve direito a um bolo de aniversário.Um momento marcante que mudou a relação do escritor com a localidade ribatejana, onde voltou mais vezes até à sua morte, em 18 de Junho de 2010. Esse é um dos episódios retratados no documentário “José e Pilar”, apresentado no dia 24 de Novembro em Santarém, em que Azinhaga é o cenário da acção. O outro é na recepção a José Saramago em Junho de 2008 para a inauguração do pólo da Fundação Saramago. Pilar del Rio, que assistiu à projecção do filme no Teatro Sá da Bandeira, garante que Azinhaga vai continuar a ter um papel marcante no trabalho da Fundação José Saramago, de que é “presidenta”. “Azinhaga é um lugar saramaguiano por excelência. Porque nasceu aí Saramago, porque estão lá vivas as memórias e a sensibilidade de Saramago”, disse a O MIRANTE, acrescentando: “O papel do pólo de Azinhaga da fundação é, de momento, deixar claro que de uma família de pastores nasceu um prémio Nobel”.A jornalista espanhola revela que a fundação “tem muitos projectos que desgraçadamente ficaram cerceados com morte de Saramago”. Mesmo assim, realizaram-se durante o Verão em Azinhaga vários espectáculos de música e teatro no âmbito do festival “Sete Sóis, Sete Luas” e, “no futuro, haverá mais coisas, mas teremos que assumir ainda o golpe terrível da morte de Saramago”.Entretanto o pólo de Azinhaga da Fundação Saramago continua aberto ao público, com uma ciber-biblioteca, e com a parte de cima do imóvel onde se recria o interior de uma casa de época e “onde se pode ver a cama onde os avós de Saramago punham os porquinhos para que não morressem nas noites frias de Inverno”.Um filme de ternura e humorO filme “José e Pilar”, realizado por Miguel Gonçalves Mendes, retrata o quotidiano de José e Pilar durante 2006, 2007 e 2008. A maior parte da acção decorre em Lanzarote, na casa do casal. Mostra cenas da vida doméstica e familiar, como o casamento dos dois ou o funeral da mãe de Pilar, revelando pormenores recheados de ternura e humor. O documentário evidencia também a vida agitada do escritor e as suas andanças pelo mundo em resposta às múltiplas solicitações. A sua aversão a entrevistas e a jornalistas, a sua negação em escrever dedicatórias nos livros, limitando-se a autografá-los são expostas várias vezes. Há momentos de humor, autênticos “apanhados”, como o do leitor brasileiro que, numa sessão de autógrafos, pede ao escritor para desenhar um hipopótamo junto à assinatura no livro “A Viagem do Elefante”.A decadência física e a falta de tempo para concretizar os projectos literários que tinha na mente são momentos pungentes, sempre acompanhados de comentários intimistas do próprio. Um exemplo: “Sentir como perda irreparável o fim de cada dia. Provavelmente é isto a velhice”.
Pilar fundamental na reaproximação de Saramago a Azinhaga

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