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Os efeitos do tornado ainda se sentem uma semana depois

Os efeitos do tornado ainda se sentem uma semana depois

Tomar e Ferreira do Zêzere recompõem-se lentamente da catástrofe que causou pânico entre a população

Tornado causou prejuízos de 2 milhões de euros em Ferreira do Zêzere, vila que ficou com vários equipamentos municipais inutilizados. Em Tomar a estimativa ascende aos 9,4 milhões de euros. Governo promete ajuda dentro de nove meses.

Uma semana depois do tornado que varreu os concelhos de Tomar e Ferreira do Zêzere, no distrito de Santarém, e Sertã (já no distrito de Castelo Branco), a região recompõe-se aos poucos do cenário devastador que causou pânico em quem viveu e presenciou os efeitos desse fenómeno natural. Vão ser precisos cerca de treze milhões de euros e um bom par de meses para que a normalidade regresse a essa zona da região norte do distrito. Em Tomar, o valor dos prejuízos causados a particulares ascende a 9,4 milhões de euros. As situações particulares, que dizem respeito a danos em habitações e viaturas, rondam os 6,5 milhões de euros, enquanto no âmbito empresarial a destruição causada pelo tornado está estimada em 1,65 milhões de euros. O município de Ferreira do Zêzere calcula os prejuízos em dois milhões de euros, sendo 500 mil destinados à recuperação de equipamentos municipais. Os números foram confirmados a O MIRANTE na tarde de segunda-feira, 13 de Dezembro, pelos autarcas que gerem os destinos dos dois municípios ribatejanos, Jacinto Lopes (PSD) em Ferreira do Zêzere e Corvêlo de Sousa (PSD) em Tomar. Em Tomar, é na Rua de Leiria que, seis dias após o ocorrido, se notam mais os efeitos do tornado, reveladas pelas estruturas montadas nos telhados e habitações. A principal estrutura afectada foi o Jardim-Escola João de Deus, localizado nessa rua que foi literalmente varrida pelo cone de vento em fúria, que destruiu janelas e telhados de quase todas as habitações. O telhado do jardim-escola está neste momento a ser reconstruído por uma empresa, desconhecendo-se quando se dará a sua reabertura. Até lá, as 140 crianças do pré-escolar e 1.º ciclo que se esconderam na cave ficam instaladas no outro jardim-escola da cidade, pertencente à mesma instituição, na rua Miguel Ferreira, ao lado do ex-Colégio Nun’ Álvares, onde foram montados três contentores para os alunos poderem ter as suas actividades. O acolhimento aos alunos decorreu dentro da normalidade na manhã de segunda-feira, 13 de Dezembro, altura em que crianças, auxiliares e educadores se reencontraram.“Das 400 casas afectadas já nenhuma mete água”O presidente da Câmara Municipal de Tomar disse a O MIRANTE que todas as habitações já foram intervencionadas mas que vão ser necessários pelo menos mais dez dias para concluir os trabalhos de recuperação dos telhados das casas atingidas pelo tornado. “Existem habitações cujos telhados já estão completamente repostos, mas noutros casos os proprietários aguardam por material”, disse Corvêlo de Sousa, acreditando que a situação estará colmatada antes do Natal. “Não há nenhuma casa neste momento que meta água mas ainda não houve tempo para recuperar completamente nenhuma das casas”, garantiu o autarca na tarde de segunda-feira, 13 de Dezembro, acrescentando que existem habitações que estão a ser analisadas no sentido de aferir se os danos que apresentam não trazem complicações nos trabalhos. O plano de emergência municipal foi desactivado pelas 12h30 deste dia mas a autarquia prossegue os trabalhos para repor a normalidade, quer no apoio à reconstrução das habitações afectadas, como no apoio social e banco de voluntariado.Em visita a Tomar e Ferreira do Zêzere na tarde de segunda-feira 13 de Dezembro, o secretário de Estado da Administração Local, José Junqueiro, garantiu que dentro de menos de nove meses os apoios serão desbloqueados, evitando a demora na transferência de verbas como sucedeu com o mini-tornado de 2008 que afectou os concelhos de Alcanena, Santarém e Torres Novas. “Antes, não existia um enquadramento legislativo mas agora já existe e que permitiu pagar essas verbas aos lesados. No que diz respeito aos equipamentos municipais, fizemo-lo num prazo de nove meses e agora queremos bater o recorde e fazer em menos tempo”, garantiu o governante, após ter reunido com as duas autarquias ribatejanas. O governante frisou a necessidade de definir estratégias no que diz respeito ao método de actuação. “No que diz respeito aos equipamentos municipais, a orientação passa por se fazerem, de imediato, as reparações. Isto porque na apresentação das candidaturas, desde que sejam validadas, existirá uma comparticipação de 60%, o máximo permitido por lei”, sublinhou. Em relação aos empresários, o secretário de Estado referiu que o IAPMEI vai intervir e “procurar, numa linha própria, ajudar as pessoas”. Mais complicado são os apoios destinados a quem viu a sua habitação ser destruída pelo tornado. “Existe uma conta de emergência que foi criada pelos Governos Civis de Santarém, Lisboa e Leiria que funcionou para o Oeste. A ideia é reforçar essa conta para ajudar as famílias que são totalmente carenciadas”, apontou, apelando ainda às seguradoras para fazerem uma avaliação “rápida e justa” dos estragos provocados pelo tornado que afectou estes concelhos.“Escondi-me debaixo de um jipe que andava a arranjar na oficina e foi essa a minha sorte”. Albino Brito, 67 anos, morador no número 14 A rés-do-chão esquerdo da Rua de Leiria desfila os prejuízos: “O roupeiro, a cama, o edredon está tudo cravado de vidros. Tenho as persianas, os caixilhos das janelas destruídos. Por estes dias dorme em cima do sofá uma vez que os quartos foram os mais atingidos. Só quando terminar as limpezas profundas pode voltar a dormir sossegado. “Até agora ninguém me veio perguntar se precisava de alguma coisa. Os empreiteiros andam agora a arranjar o telhado porque os moradores pediram um orçamento e a Junta de São João Baptista está a dar as telhas”, aponta. Ao todo calcula-se que 400 casas tenham sido atingidas pelo tornado de terça-feira, 7 de Dezembro, ao que se acrescenta mais de cem viaturas a ficarem danificadas.Cada vez que se recorda do momento Maria da Conceição Antunes, 72 anos, moradora na Ponte da Vala, junto ao degradado edifício da velinha Fábrica da Fiação, leva as mãos à cabeça. “Fiquei agarrada à porta da rua que, por milagre, não a consegui abrir. Senão tinha ido com o vento”, relata. Seis dias depois da tragédia, o telhado foi recuperado pelo Departamento de Obras Municipais da autarquia mas como todas as roupas ficaram encharcadas, foi realojada pela autarquia, juntamente com a neta, numa pensão da cidade. As refeições são servidas gratuitamente numa estalagem mas Maria da Conceição aproveita todos os momentos para limpar os destroços. “Vivo só da minha pensão, não posso pagar a lavandaria para secar toda esta roupa da cama”, confessa destroçada. Venda Nova, na freguesia de Casais, Tomar, foi uma das localidades mais fustigadas pelo tornado, com os danos a ascenderem a 2,5 milhões de euros. O lugar de Carrascal, ali perto, foi o mais afectado. Uma semana após o tornado, os destroços de duas empresas continuavam à vista de todos os que circulavam na Estrada Nacional. Jorge Mendes, da empresa de reboques “Batichama”, localizada na Venda Nova, “angariou” dois amigos e preparava-se para retirar algum entulho recorrendo a uma viatura que se salvou embora tenha sido atingida no vidro da frente. A empresa ficou reduzida a um monte de escombros e o empresário queixa-se que não sabe quem vai pagar os prejuízos.
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