Tradicionalmente os ladrões dão tréguas aos polícias na noite de Natal
Na esquadra de Santarém há quem coma o bacalhau da ceia à secretária
Para os agentes que não gostam de passar a consoada longe da família e estão de serviço resta tentarem uma troca com quem esteja de serviço no Ano Novo.
Na noite de Natal os ladrões costumam deixar os polícias ter uma consoada tranquila. É raro o ano em que há uma ocorrência registada na noite de 24 para 25 de Dezembro, na zona de Santarém. Parece haver uma espécie de trégua não negociada para a chamada noite da família. E os ladrões também têm a sua família. Para os agentes que estão de serviço o tradicional bacalhau com couves é feito na esquadra numa pequena confraternização. Mas há pelo menos um que tem uma consoada solitária e come sentado à secretária. É quem está de serviço à central de comunicações. O agente principal José Brito leva 24 anos de serviço na PSP e desde 2003 que é um dos operadores de comunicações na central do comando distrital da Polícia em Santarém. Uma função que é muito exigente e que requer bastante atenção. Por isso é o único local dentro das instalações cuja porta está trancada e só pode ser accionada a partir do interior. Por questões de segurança e para que os agentes que recebem também os telefonemas de emergência do 112, não sejam incomodados. É assim todos os dias, todo o ano e a noite de Natal não é excepção. E como nesse horário só está um elemento de serviço ele não pode abandonar o seu posto. José Brito já passou duas noites de Natal “enclausurado” na sala enquanto os colegas da esquadra e do trânsito vão preparando o jantar. Nestas alturas não há cozinheiro de serviço e por isso é nomeado um polícia para cozer o bacalhau e as couves. Tudo é comprado com o dinheiro que os serviços sociais da PSP atribuem a cada agente que está de serviço nesta altura festiva. Quando chega a hora de comer os elementos sentam-se à mesa e um deles leva um prato ao agente Brito. Numa das ocasiões quem lá foi levar-lhe a ceia acabou por ficar a fazer-lhe um pouco de companhia. “Quando está um elemento apenas na sala de comunicações não se pode abandonar o local e como é um serviço muito técnico e que exige uma preparação específica, não se pode pedir a outro colega que não é da área para nos substituir, nem que seja por uns minutos. E isto aplica-se também à noite da consoada”, diz José Brito. Ao seu lado, a chefe Nazaré Cavaca, com quem fez o curso de ingresso na PSP, conta, que teve a sorte de só ter estado de serviço uma noite de Natal nos vinte e quatro anos que já tem de serviço. O segredo está nas trocas. Quando lhe calha o Natal costuma trocar com quem está de serviço na noite de Ano Novo.Ao agente principal Brites não o incomoda passar esta época festiva longe da família, porque “um polícia tem que se habituar a tudo”, justifica. Mas a chefe, não gostou da única noite de consoada que teve que passar na esquadra. “Em termos de serviço a noite é calma, não costuma haver ocorrências. Às vezes toca o telefone e pensamos que é alguma chamada para alguma situação, mas são pessoas a desejarem-nos boas festas. Sentimo-nos em família, a nossa segunda família que são os polícias, mas foi uma noite muito triste para mim”, confessa Nazaré Cavaca. “Na altura pensei que só nos acontece a nós estar a trabalhar quando toda a gente está a comemorar em casa com os familiares”, recorda. Geralmente os familiares dos agentes não costumam ir visitá-los à esquadra, apesar de não estarem impedidos de o fazer. Mas não deixam de aparecer visitas. Geralmente são cidadãos anónimos que passam pelas instalações para deixarem algumas ofertas, geralmente doces, bolo-rei ou uma ou outra garrafa de vinho do Porto, apesar de os agentes não poderem beber quando estão de serviço.
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