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Morreu o forcado que pegava os touros de costas

Morreu o forcado que pegava os touros de costas

José Luís Coragem faleceu no primeiro dia de 2011

Natural de Alhandra e tendo Coruche como terra adoptiva, tinha 83 anos e um apelido que lhe assentava na perfeição.

O forcado que pegava touros de caras, de costas e sentado numa cadeira faleceu no primeiro dia de 2011, com 83 anos. Coragem era o apelido de José Luís, mas também sinónimo da forma como o antigo forcado se exibia nas arenas. José Luís Coragem faleceu no dia de ano novo e o seu funeral realizou-se no domingo, dia 2. Foi um dos mais reconhecidos forcados de sempre. Nasceu a 27 de Fevereiro de 1927. Era natural de Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira, e cedo foi viver para Coruche, que adoptou como sua terra. Foi a pegar de costas e sentado numa cadeira que José Luís Coragem acrescentou fama à que já tinha na arte de pegar de caras. Foi por isso natural que cativasse muitos aficionados para o seu estilo e alguns ainda recordam episódios marcantes. Manuel Coelho, Aristides Albuquerque, Alfredo Melro e Manuel Carrapo são companheiros de conversa na cafetaria do Museu Municipal de Coruche. Da geração de Coragem, um em particular lembra-se dos seus feitos. “Foi o maior forcado de sempre. Lembro-me de uma corrida que vi no Campo Pequeno, há mais de 50 anos, em que o Coragem foi colhido pelo touro e partiu uma perna ao cair no chão. Mesmo assim levantou-se e conseguiu pegá-lo de caras com mais um ajuda. A praça levantou-se com grande fervor e ele saiu de imediato para o hospital”, conta o aficionado com o mesmo entusiasmo de então.Manuel Carrapo recorda ainda mais duas histórias. Uma em Vila Franca de Xira na qual José Luís Coragem pegou à saída dos curros da praça um touro que tinha fugido para o interior, levando a multidão ao rubro e a levá-lo em ombros pela arena. E outra pega, na antiga praça de Coruche, na margem esquerda do Sorraia, a um touro que, momentos antes, o tinha deixado estendido no chão.Após a carreira de forcado que concluiu com 46 anos – e era apenas disso que vivia – José Luís Coragem e a mulher tiveram uma barraca com que percorriam feiras a vender frangos, sandes e outras comidas e bebidas, de que se lembram bem os convivas do museu. “Mais tarde foram também proprietários de uma loja de bijutaria no centro comercial Horta da Nora, na vila”, acrescentam. Em Agosto de 2006 a Câmara de Coruche homenageou figuras da festa brava ligadas à vila, com um memorial evocativo junto à praça de touros. Entre esses nomes está o de José Luís Coragem.Ex-cabo dos Forcados Amadores de Coruche, o actual presidente da autarquia, Dionísio Mendes, recorda-se de ver actuar o forcado. “Vi-o aqui na praça de Coruche algumas vezes. Foi profissional durante muitos anos e tinha a novidade de pegar touros de costas e sentado numa cadeira”, recorda o autarca, considerando-o uma figura marcante. Em Agosto de 2010, durante a inauguração do Núcleo Tauromáquico de Coruche, no antigo edifício dos CTT, José Luís Coragem já se apresentava debilitado. Sofria de asma e estava doente. A mulher, Rosa, faleceu há mais tempo. O antigo forcado tem uma filha e um neto que ia visitar com alguma frequência a Inglaterra.Forcado profissional em família com tradiçãoJosé Luís Coragem foi forcado profissional no grupo de Lisboa. Ocasionalmente liderou uma formação de Coruche. Passou ainda pelos grupos da Moita, de João Soeiro, do Vale de Santarém, de Edmundo de Oliveira, de Vila Franca de Xira e de Riachos. Aos 46 anos despediu-se das arenas, em 22 Abril de 1973, na praça de Coruche. Era neto e sobrinho dos famosos forcados do início do século XX, Luís e Germano Vintém, de quem herdou o gosto pela forcadagem. Contemporâneo dos irmãos BadajozOs irmãos Manuel e António Badajoz, de Coruche, notabilizaram-se como bandarilheiros e foram contemporâneos de José Luís Coragem. Para Manuel Badajoz, o forcado marcou uma época. “Ele pegava de caras com grande brilhantismo. Vi-o fazer grandes pegas e com aquela inovação nunca vista na forcadagem que era pegar de costas, mais do que pegar de cadeira. Acompanhei muito a vida artística dele e ele ajudou a rapaziada nova de Coruche, os forcados mais novos. Foi um contributo notável para a festa”, refere Manuel Badajoz.
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