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O artista das paisagens do Tejo

António Silva trabalha numa lavandaria porque não consegue sobreviver da arte

António Silva é um artista que pinta telas, azulejos, cenários e até paredes. Alhandra é a terra do coração e da inspiração para a arte que tem aperfeiçoado ao longo da vida.

António Silva, 56 anos, é um filho de Alhandra. Sempre morou na vila e é por lá que pretende ficar. Nas telas e nos azulejos que pinta Alhandra está invariavelmente presente, embora também desenhe outros temas, naturezas-mortas ou mesmo a imagem de Fernando Pessoa. Mas são as imagens do Tejo, os barcos atracados ao cais, o mouchão de Alhandra, as casas típicas da terra e a tauromaquia que lhe despertam maior paixão. “Imaginei que estava lá”, diz por diversas vezes o artista que gosta de partir de uma ideia simples para depois deixar correr a imaginação. “Tinha a imagem do cais 14 na cabeça, conheço-o bem, depois imaginei este barco e coloquei-o lá”, explica enquanto aponta para um azulejo da sua autoria. Noutro azulejo está um jarro, uvas e maças. A imagem surgiu-lhe num catálogo e António Silva decidiu passá-la a azulejo. Já imaginou também como seria a vista do mouchão de Alhandra. Deixou depois as mãos fazer o resto. Motivos religiosos são igualmente frequentes no trabalho de António Silva que mostra dois painéis de azulejos na entrada da Paróquia de Alhandra, realizados para assinalar os 100 anos de restauração da igreja em 2010. Em tom azul está representado São João Baptista, padroeiro de Alhandra. O segundo painel apresenta pessoas a percorrer um caminho em direcção a uma bíblia e a Deus, sobre uma luz radiosa. “É muito difícil vender arte. Procuro fazer um preço acessível, mas as pessoas de não têm muito dinheiro para comprar arte”, conta António Silva que tenta vender os seus trabalhos para fora do concelho. O dinheiro sempre ajuda a pagar o esforço, mas não chega para o sustento. Todos os dias o artista alhandrense levanta-se para trabalhar numa lavandaria em Alverca do Ribatejo, entre as 6h00 e as 14h00. Depois é hora de se dedicar aos seus quadros e azulejos, embora os últimos o ocupem mais tempo já que a tela não é tão rentável. Desenha e pinta em casa os azulejos e depois leva-os a cozer no forno de um amigo que mora em Povos. “Gostava muito de comprar um forno, mas são muito caros. Não tive ainda oportunidade”, revela. Sempre que pode, António Silva também gosta de pintar cenários para teatro ou carnaval e paredes de casas. “Já pintei uma parede para um quarto de bebé com uma paisagem muito suave. Sei que os donos que vieram depois não a quiseram apagar”, conta. Entrou com sete anos para a escola e o dom que nasceu com o artista logo se revelou. “Fazia sempre desenhos originais e passava por debaixo das secretárias de madeira para os meus colegas verem. Os meus professores também me elogiavam imenso e nunca mais parei”. Fez o primeiro ciclo e depois teve de ir trabalhar, continuando sempre a desenhar. Não teve qualquer mestre, foi aprendendo por tentativa e erro, enquanto aperfeiçoava a sua arte. Hoje os amigos dizem que têm umas “mãos espectaculares”. Diz que as pessoas de Alhandra o acarinham muito e isso enche-o de gratidão.

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