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Dois aglomerados de barracas às escuras à beira da auto-estrada do Norte

Dois aglomerados de barracas às escuras à beira da auto-estrada do Norte

Famílias ciganas instalaram-se no Sobralinho há 19 anos e esperam por uma casa

Há 19 anos assentaram arraiais na freguesia do Sobralinho, no concelho de Vila Franca de Xira. Os bairros do Clarimundo e traseiras da Improsite vislumbram-se da auto-estrada do Norte. São um aglomerado de barracões, alguns em risco de ruir. Ali vivem dezenas de famílias - às escuras - desde que há um mês uma operação pôs fim às ligações clandestinas de electricidade.

Quem atravessa a Auto-estrada do Norte, no sentido Vila Franca de Xira – Lisboa, vislumbra aglomerados de barracas em madeira na zona do Sobralinho. De um lado fica o bairro do Clarimundo, do outro o das traseiras da Improsite. Muitas das barracas ameaçam ruir e à falta de água no interior das infra-estruturas junta-se agora a falta de electricidade desde que há um mês a EDP, com a ajuda da Polícia, procedeu ao corte das ligações clandestinas que alimentavam as barracas. Quinze pessoas foram constituídas arguidas.As mães deixaram de passar a roupa para os meninos levarem à escola e a televisão já não se ouve. O frigorífico serve agora de armário. A comida tem que ser comprada com mais regularidade. Uma mulher grávida aparece com uma menina ao regaço no bairro das traseiras da Improsite. A barriga só se percebe quando a mulher avisa que espera o quinto filho. A irmã, mais velha, abre a porta da barraca para mostrar como o vento sopra à cabeceira da filha na cama onde dormem as duas. A menina, hoje com 11 anos, foi mordida em bebé por um rato da lixeira que se manteve perto do local durante vários anos. Está na escola e a mãe diz que sonha com uma casa nova. A mãe das duas mulheres, a matriarca da família, mãe de seis filhos, deixou de usar a única lâmpada que tinha em casa, o frigorífico e televisão. O marido, alentejano, com quem fugiu aos 15 anos, já faleceu. Foi servente de pedreiro e trabalhou até adoecer. Ela foi vendedora ambulante de vestidos, cortinados, colchas e toalhas. Em tempos viveu numa habitação social, em Vialonga, mas entregou-a ao filho mais velho por não ter mais nada para lhe oferecer no dia do casamento.Alguns dos habitantes dos dois bairros “vão à venda”, mas a maior parte vive do rendimento social de inserção. Os cursos de formação são obrigatórios, mas quando chega a altura asseguram que sofrem na pele a discriminação de serem ciganos.Mais em baixo, no Bairro do Clarimundo, há quem tenha resolvido o problema da falta de electricidade com um gerador. Por ali há também antenas de televisão por cabo, um plasma à beira de uma cama de um doente e um carro de alta cilindrada. As famílias ciganas que ali residem instalaram-se no local há 19 anos. Garantem a pés juntos que deram dinheiro pelos terrenos, mas o negócio não passou da palavra e não há documentos a comprovar. Esperam que o tempo lhes dê o direito de ter acesso a uma habitação social. O nó de acesso à auto-estrada do Sobralinho está projectado para passar pela zona do bairro, mas as negociações ainda não avançaram. A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira diz que não está previsto o realojamento das famílias.
Dois aglomerados de barracas às escuras à beira da auto-estrada do Norte

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