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De operário metalúrgico a especialista em sociologia

Luís Capucha licenciou-se em sociologia enquanto trabalhava na Mague, em Alverca

O director da Agência Nacional para a Qualificação, Luís Capucha, responsável pelas Novas Oportunidades, também foi trabalhador estudante. Descarregou peixe no cais de Vila Franca de Xira e atrasou a entrada para a universidade. Foi operário metalúrgico e já era encarregado do armazém do ferro, na extinta Mague, em Alverca, quando se licenciou em sociologia. É um investigador apaixonado, vila-franquense de corpo e alma, que ama as tradições da sua terra onde continua a residir.

Foi menino em Vila Franca de Xira. Como foi a sua infância?A brincar na rua. O bairro onde vivia era um espaço de brincadeira, convívio e socialização. Fazíamos deambulações em Vila Franca e arredores. Chegámos a ir acampar para o Palácio do Farrobo e para o Monte Gordo. Depois tínhamos os bandos rivais que eram os miúdos do Alto do Mesquita, mais em cima, e o bairro dos varinos, por baixo. Como se comportava na escola o futuro investigador social?Era o menino bonito da professora na escola do bacalhau. Não era um aluno particularmente bem comportado. Fazia o mesmo que os outros. Ia para a escola a pé mas era bastante bom aluno. Os meninos dessa altura andavam descalços?Alguns meninos iam descalços mas já não eram muitos. Lembro-me do Júlio que vinha do Monte Gordo e que andava descalço e do Sancho que era muito pobre. Poucos prosseguiram estudos. Muitos não tiveram tempo para ser meninos. No tempo dos meus irmãos mais velhos a pobreza era extrema. Houve um período de desenvolvimento forte em Vila Franca nos anos 50 e 60 com a expansão industrial e criaram-se muitos empregos. Sou da fase dessa transição. As oportunidades de vida cresceram mas muitas crianças passavam directamente da escola para a responsabilidade de ter um trabalho. Lembro-me de ver colegas com feridas nas mãos de andarem a aprender a ser cortadores de carne. No seu caso prosseguiu estudos.Fui estudar para o liceu Passos Manuel, em Lisboa, porque a minha mãe fez uma combinação com a professora Elsa para evitar que fizesse o exame de admissão à escola técnica onde andaram os meus irmãos mais velhos e os meus colegas que foram estudar. O meu pai não tinha dinheiro para me pôr no colégio Sousa Martins que já existia mas tinha uma bolsa de estudo que me permitia estudar. Aos 10 anos comecei a ir todos os dias para Lisboa de comboio. Lá estive até aos 15 anos até acabar o quinto ano de liceu. Tenho extraordinárias recordações. Pertenci às equipas de andebol. Fui internacional nas camadas jovens. A vida dá voltas. O colégio Sousa Martins foi adquirido pelo Estado e vim fazer o antigo 6º e 7º ano a Vila Franca de Xira. As questões políticas já o entusiasmavam?Tinha já alguma noção das coisas políticas até pela ligação dos meus irmãos com o padre Moniz e com uma série de gente que tinha actividade política. Eu próprio tinha desenvolvido algumas ideias de base anarquista. Deixei de poder jogar andebol e passei a jogar futebol. Terminei o liceu no ano do 25 de Abril em Vila Franca. Movimentava-me entre uma certa libertinagem juvenil. O meu irmão estava na secção cultural do União Desportiva Vilafranquense. Tive uma actividade política mais forte no MRPP. Na altura os jovens daqui ou eram do MRPP ou do PCP. Cheguei a ser membro do comité central mas fui expulso com 22 anos. Tive uma vida muito atribulada mas muito rica porque aprendíamos muita coisa. Fazíamo-nos adultos muito cedo. Foi trabalhar cedo...Saí de casa com 17 anos para ir trabalhar. O meu primeiro emprego foi como ajudante de servente na lota de Vila Franca de Xira a ajudar a carregar e descarregar peixe. Tinha média para entrar na universidade mas entrou o ano propedêutico. Tinha que fazer-se trabalho cívico e achei que se era para trabalhar ía trabalhar mais a sério. Primeiro nessa empresa depois, mais tarde, como operário metalúrgico na empresa que andou a montar o forno da cimentejo. Teve que aprender tudo?Tive que aprender tudo mas aprendia rápido. Essa é uma das vantagens de quem estuda. Adapta-se com mais facilidade a diversos contextos. Quando saí da tropa fui trabalhar para a Atral- Cipan como operário químico e rapidamente fazia trabalhos de pessoas que lá estavam há muito anos. Para mim era fácil ler as prescrições, as sínteses químicas e interpretar resultados. As outras pessoas não tinham feito essa ginástica na escola. A mesma coisa aconteceu quando fui trabalhar para a extinta Mague, nos armazéns do ferro. Quando o encarregado do armazém do ferro se reformou fui chamado para o seu lugar, o que quer dizer que com pouco mais de 20 anos era chefe de 40 homens, alguns com idade de ser meus pais, mas bastante menos qualificados. Fui de agente de produção a encarregado de armazém e acabei por ser encarregado de todos os armazéns. Trabalhei na Mague mais de seis anos. Enquanto lá estive fiz o 12º ano e voltei a estudar e fui para a universidade. Decidiu-se logo pela sociologia?Teria sido a primeira opção mas como não sabia que existia o curso de sociologia à noite inscrevi-me em direito. Fui só a algumas aulas. Não gostei. Por sorte encontrei um colega que estava em sociologia - queria mudar – e falou-me do curso. Trocámos. Ele foi para direito e hoje é advogado. Eu fui para sociologia e hoje sou sociólogo. Um amante da terra e das tradiçõesChama-se Luís Capucha. É sociólogo, vilafranquense e cosmopolita. Prefere uma boa discussão à paz podre. Detesta corruptos, principalmente se forem estúpidos, isto é, se provocarem mais males aos outros do que os benefícios ilegítimos.De operário chegou a docente no ISCTE [Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa] onde se formou a estudar à noite e a trabalhar de dia na extinta Mague, em Alverca. Concluiu o curso com média de 17 valores. Organizava-se e estudava ao fim de semana com colegas. Resolvia exercícios de matemático na antiga estação de comboios de Entrecampos, que tinha apenas um pequeno abrigo em madeira, e por vezes deixava passar o comboio de tão embrenhado que estava no estudo. É doutorado, investigador das culturas populares, das classes sociais, das políticas sociais, interessado na educação, na pobreza e reabilitação. É socialista, de esquerda por convicção. Foi director geral no Ministério do Trabalho e Segurança Social e no Ministério da Educação e é actualmente presidente da Agência Nacional para a Qualificação. Vai de carro para Lisboa porque actualmente o motorista reside na Póvoa de Santa Iria. Como professor do ISCTE chegou a viajar de comboio, um meio de transporte cómodo e que lhe agrada. É casado com uma enfermeira e pai de três filhos, os dois mais velhos de um anterior casamento. Nasceu em Lisboa a 10 de Fevereiro de 1957 mas é vilafranquense de coração. Foi o único dos sete irmãos a nascer fora de casa, no Hospital de Santa Maria, por recomendação do médico. Três dias depois estava na cidade ribeirinha onde cresceu e continua a viver. Reside no centro da cidade numa habitação que adquiriu e reconstruiu. Vila Franca vira mais facilmente à esquerda do que à direitaLuís Capucha considera que a base sociológica do concelho não se revê no PSD e por isso o PCP pode ganhar forçaSe o PS quiser ganhar as próximas eleições autárquicas em Vila Franca de Xira tem que arranjar um candidato forte para suceder a Maria da Luz Rosinha que está no limite de mandatos. A população do concelho não se revê na política de direita mesmo com um actor a encabeçar a lista, como João de Carvalho, analisa Luís Capucha. E se os efeitos da crise se mantiverem o PCP pode mesmo voltar a ganhar a força de outros tempos, vaticina o especialista em sociologia, socialista por convicção. Vila Franca de Xira vive um problema de sucessão. Maria da Luz Rosinha está a cumprir o último mandato por imposição da lei e o PS não tem um candidato forte perfilado. É uma questão que o preocupa?Preocupa-me bastante. Acho que o problema não é não haver no Partido Socialista pessoas com o perfil. O problema é que essas pessoas não estiveram propriamente ao serviço da presidente da câmara. São pessoas que tiveram a sua própria carreira e têm as suas próprias ideias. Acho que o problema do Partido Socialista poderá vir a ser eventualmente o de escolher pessoas com um de dois perfis: o de meros continuadores num tom menor daquilo que tem sido a lógica de acção da governação socialista do concelho. Aí o partido socialista corre um sério risco porque Maria da Luz Rosinha tinha um peso próprio que essas pessoas não têm. Por outro lado há sectores da sociedade que não estão propriamente muito satisfeitos com o Partido Socialista. Outro risco é o de escolher alguém que não está tão comprometido mas que está ligado a interesses, seja no âmbito da economia social ou da logística. Se o partido optar por uma dessas duas soluções acho que tem problemas mas o PS do concelho tem pessoas com o perfil. O senhor pode ser um candidato a candidato?Neste momento sou presidente da Agência Nacional para a Qualificação. Estou completamente focalizado no meu trabalho. Tenho mais de 150 mil jovens a frequentar cursos profissionais e outros cursos vocacionais nas nossas escolas públicas. Há mais de um milhão de adultos inscritos nos centros de novas oportunidades e nos cursos de educação e formação de adultos. Não tenho como objectivo obsessivo ser candidato a coisa nenhuma. Nem a dirigente da comissão política concelhia nem a candidato a presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Não posso também dizer que se houver necessidade não vou pensar nisso mas seria para mim bastante doloroso. Tenho a minha carreira académica. Já sinto saudades de publicar livros no estrangeiro, de ser citado por grandes sociólogos e de estar em conferência. A participação política irei sempre manter. Ficarei ligado a grupos que tratam da educação e discutem as políticas sociais. Sou chamado a vários fóruns como especialista.A ideia de ser presidente de câmara não o fascina?Nunca me deixei fascinar pelo poder. Nunca entrei em guerras ou insinuações no sentido de ir para este ou aquele cargo. A minha base é o ISCTE. Aquilo para que estou vocacionado é para fazer sociologia. Posso em determinados períodos da minha vida dar um contributo ao país, como tenho dado. A carreira que construí permitiu-me acumular um currículo que fala por si. Não preciso de me pôr em bicos dos pés perante ninguém no concelho de Vila Franca de Xira. A sociologia estará sempre em primeiro lugar…Nunca podemos dizer sempre. Tudo depende do que vier a acontecer. Sou, como toda a gente sabe, um apaixonado pela minha terra. Tenho muita pena de a ver como está: as pessoas descrentes, o associativismo em crise, o tecido produtivo descaracterizado sem que apareçam actividades de ponta que permitam revitalizar a economia, acessibilidades cheias de problemas, espaços desarrumados urbanisticamente e um crescimento da construção numa terra que é dormitório de Lisboa.Se calhar o concelho precisa de uma outra lógica de liderança para poder ter um novo impulso. Julgo que essa lógica não pode ser encontrada fora do Partido Socialista porque não creio que qualquer outro partido tenha a possibilidade de desenvolver um projecto que cole com aquilo que é o tecido sociológico do concelho de Vila Franca. O Partido Socialista é um partido conhecido também pela capacidade de se renovar internamente, formar novas ideias e operar rupturas respeitando aquele que é o seu património. Não estou a desvalorizar o trabalho que foi feito pela Maria da Luz Rosinha que teve muitos méritos mas há que dar um golpe de asa. Mas na concelhia não foi possível fazer essa mudança...A concelhia tem vindo também a sofrer uma modificação significativa. É preciso notar que as listas lideradas em duas eleições consecutivas pelo António José Inácio, em que participei, tiveram um aumento muito significativo, sendo listas que não tinham lá dentro as pessoas que exercem o poder no concelho. E isso conta muito no âmbito de um partido que está com um número de militantes bastante mais reduzido e quando boa parte dos militantes estão ligados ao próprio aparelho autárquico (juntas, câmara, assembleias).Está a dizer que muitos são funcionários.Uns são funcionários outros têm ligações. Há muito pouca gente que esteja completamente livre de qualquer interesse. Se o Partido Socialista quer ganhar as próximas eleições tem que escolher o melhor candidato. Há quem diga que Fernando Paulo é o melhor candidato...Julgo que o Fernando Paulo tem uma grande desvantagem. Não tem experiência de vida que não seja a de fazer política na administração à sombra de outras pessoas. Fernando Paulo licenciou-se e começou a actividade na câmara como secretário do vereador Carlos Silva. Depois passou para secretário da candidata a presidente da câmara, Maria da Luz Rosinha. Depois foi secretário pessoal de Maria da Luz Rosinha. Mais tarde passou a membro da lista e subiu a vereador quando um elemento abandonou o executivo. Tem sido sempre trazido pela mão e não se pode apresentar ao eleitorado como uma pessoa que tenha dado provas de ser capaz de fazer seja o que for por ele próprio. Não tem para jogar o capital político que tem Maria da Luz Rosinha e teria que acarretar com todas as responsabilidades de todos os descontentamentos que foram gerados ao longo destes anos. Governar durante muito tempo gera um capital mas também acumula descontentamentos. O PS em Vila Franca vai pagar pelo descontentamento que existe a nível nacional. Sim. Há pessoas que ficam horas nas filas de trânsito e querem ir aos centros de saúde e não têm médico de família. O conjunto de problemas que aqui existe implica que o PS seja capaz de desenvolver um discurso que consiga restituir ao partido a capacidade de falar em nome do interesse das pessoas. Um candidato como Fernando Paulo, ou outros, na sequência do actual ciclo, teria sempre muita dificuldade em demarcar-se dessa lógica de continuidade. O encerramento do ciclo político devia ser levado a sério e o Partido Socialista devia procurar um novo contrato com a população do concelho. Mas há mais candidatos… Por exemplo?O meu amigo António José Inácio [presidente da Junta do Forte da Casa]. Mas não tendo ganho a concelhia colherá apoio interno?Vai haver uma altura em que as pessoas vão fazer contas e escolher o melhor candidato. Quando ele for candidato apoiá-lo-ei. Terá sempre que conjugar a candidatura com as responsabilidades que tem na gestão do Instituto de Apoio à Comunidade. António José Inácio vai ter que resolver esse problema. O candidato à câmara tem que estar livre. Não pode ser, por exemplo, alguém que aparece associado a uma empresa com interesses na logística do concelho.Como o senhor escreveu num blog se isto continua assim há fortes probabilidades da direita ganhar. Está a ver João de Carvalho ser o próximo presidente?A direita ou até o próprio PCP pode recuperar alguma coisa. Se no contexto nacional os efeitos da crise continuarem a ser aqueles que têm sido até agora os partidos à esquerda do PS podem ganhar algum peso. Até aqui estava convencido que o PCP tinha atingido o limite da sua votação mas há alguma incerteza. Mas o PCP tem o mesmo problema da falta de liderança. O PCP arranja sempre um líder. Nem que seja de fora. Acho que o PCP não se preocupou muito com a liderança para o concelho enquanto soube que ia perder. Agora pode jogar mais forte.E João de Carvalho?Sou muito amigo do João de Carvalho e da família…Acho que lhe foram proporcionadas as condições para estar em campanha há muito tempo. Ele sabe jogar com os afectos das pessoas. É actor. Tem uma vantagem à partida mas o meu amigo João de Carvalho não tem perfil para ser presidente de câmara. Não é o líder de que o concelho de Vila Franca de Xira precisa. Nunca o PSD poderá representar a população de Vila Franca. A base sociológica do concelho não se revê no PSD. O João de Carvalho não é um político com experiência. É uma pessoa útil para fazer algum trabalho de sapa, ganhar afectos, conquistar alguns corações, mas isso não chega para gerir uma câmara. Mais facilmente o concelho virará mais à esquerda…Pode dar-se uma viragem à direita o que seria mau porque o candidato não conseguiria levar a água ao seu moinho. Na governação tem que haver alguma coerência entre aquilo que é o ideário do partido que está no poder e a base sociológica da população. Seria uma governação contra–natura. Ia dar mau resultado. Julgo que isso só poderá acontecer caso o PS faça uma má escolha para o candidato à câmara.Vila Franca de Xira tem que romper com o estatuto de mera serventia de LisboaVila Franca de Xira sofre por estar demasiado próxima de Lisboa?Vila Franca de Xira está numa situação particularmente complicada porque tem servido a área metropolitana – onde vive um terço da população portuguesa - como uma zona onde se arrumam ou pessoas ou mercadorias. É o desenvolvimento da logística. Manda-se para aqui tudo. Vila Franca de Xira tem que saber romper com este estatuto que tem vindo a adquirir de mera serventia de Lisboa. O Governo tem responsabilidades mas a câmara também tem um papel importante. Os territórios competem hoje uns com os outros. Pelos quadros, pelo investimento das empresas e para o mandar para o quintal do vizinho o lixo. O concelho tem sabido ser competitivo?O que Vila Franca tem atraído? Têm saído daqui coisas. E o que vem é logística que cria pouco emprego, pouco qualificado e implica estrangulamentos ainda maiores nas infra-estruturas de transportes. Não é o perfil de desenvolvimento económico que interessa ao concelho de Vila Franca de Xira. Não podemos ficar aqui toda a vida penhorados por causa do atravessamento de serventias para Lisboa. O mesmo acontece na cultura. Hoje em dia os circuitos culturais são disputadíssimos. Há municípios que inscrevem a oferta cultural nos programas nacionais. Vila Franca tem feito alguma coisa nessa área….Tem o Museu do Neo-Realismo. Quantas pessoas o visitam? Quantos acontecimentos de grande alcance? Ainda no outro dia tivemos a inauguração do Cartoon Xira – tendo nós condições únicas até por causa da feliz coincidência de aqui ter nascido o cartoonista António Antunes – mas quantas pessoas estavam no evento? Até a própria presidente estava num evento com o Sócrates e nem foi à cerimónia. Não é assim que se inscrevem os eventos no calendário das pessoas. As pessoas antigamente diziam: vamos a Vila Franca ao colete encarnado ou à Feira de Outubro. Hoje dizem: Vamos a Vila Franca e onde paramos o carro? Os restaurantes estão abertos?O Colete Encarnado não tem a mesma força?Julgo que não. O Colete Encarnado para mim será sempre a melhor festa do mundo mas objectivamente estamos a ver que terras aqui ao lado, como Benavente, Alenquer e Azambuja, até Samora Correia, que estão a fazer uma oferta fortíssima neste mesmo campo. Nós temos as vantagens todas: o rio, a lezíria, os toiros, a cidade, os montes. O capital está todo aqui e parece estar a esvair-se entre os dedos. O evento poderia transformar-se numa festa de interesse internacional como já foi. É preciso inovar para atrair forasteiros. Há pessoas que há muito tempo falam da necessidade de criar um centro de interpretação da cultura tauromáquica e de reorganizar os eventos mais atractivos para que a cidade se tornasse mais acolhedora para quem vem de fora. A suburbanidade também não ajuda…Não ajuda mas nós felizmente ainda temos aqui um núcleo relativamente grande de pessoas que não são ainda suburbanos. Estão é a desaparecer. O centro de Vila Franca está a ficar desertificado. Os filhos das pessoas que vivem em Vila Franca são obrigados a ir para a periferia porque o que se está a fazer é destruir a possibilidade de ter em Vila Franca um núcleo urbano vivo.A escola de toureio José Falcão deveria evoluir para uma escola profissionalO que fazer para ajudar a revitalizar a tauromaquia em Vila Franca de Xira? Há várias coisas a fazer. Em primeiro lugar era tempo da escola de toureio José Falcão evoluir para uma escola profissional. Deixaria de ser uma escola onde só se ensinasse toureio. Passaria a ser uma escola onde se ensinariam as profissões ligadas à agricultura, à transformação de produtos animais, mas também a algumas actividades artesanais, como a de ferreiro de cavalos. Defende o regresso a essas áreas que se perderam?Ou outras nas quais não tem havido formação. É o caso da metalurgia. Vila Franca tem dezenas de pessoas que podiam ser grandes mestres de metalurgia. Estavam aqui algumas das maiores empresas metalúrgicas do país e as pessoas ainda aí estão. Fazia sentido haver uma escola profissional que faça a ligação entre a velha tradição industrial - que já não se vai renovar mas que em alguns aspectos carece de qualificação de quadros - e uma área de grande inovação que é a da agricultura e da agropecuária porque temos a lezíria. A qualificação de jovens para o trabalho na agricultura seria essencial e ao mesmo tempo permitiria estruturar de uma outra forma mais completa aquilo que é a alma da escola que é o toureio. A verdade é que nem todos os miúdos chegam a toureiros ou matadores de toiros. Mas se não vão para uma coisa vão para outra e podiam aprender uma profissão. Uma escola profissional era essencial. Não vê essa vontade?Nunca vi. Acho que falta imaginação e capacidade de imaginação neste momento no concelho de Vila Franca. O António José Inácio, como presidente da escola, como acontece em projectos liderados pela câmara, está muito condicionado por aquilo que é a opinião da presidente. O concelho com a complexidade que tem o nosso precisa de uma liderança política com uma visão mais estratégica, que não seja baseado no que uma pessoa decide fazer no dia a dia. Agora também já não vale a pena falar nisso. Maria da Luz Rosinha já fez o seu trabalho e teve coisas boas.

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