Um gravador e um bloco de notas sempre à mão eram as ferramentas imprescindíveis de Álvaro Pina Rodrigues sempre que ia para o terreno recolher material para a pesquisa sobre a cultura e tradição do concelho de Almeirim. A recolha foi feita na década de 50. Quando se deslocava a Fazendas de Almeirim, muitas vezes levava consigo uma bateria para o gravador porque a electricidade ainda não tinha chegado à localidade.Da recolha feita pelo estudioso e apaixonado pela cultura tradicional da terra onde nasceu em 1914 resultou o livro “Cultura Popular em Almeirim” apresentado na tarde de sábado, 26 de Março, no auditório da Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval, em Almeirim. Para o filho, Elias Rodrigues, um dos principais impulsionadores da publicação da obra, esta é uma homenagem “merecida” ao seu pai. “Este livro é um legado muito importante para as gerações vindouras do concelho de Almeirim que já não viveram estas tradições mais antigas. Quando for necessário fazer um estudo sobre a cultura do concelho este livro será uma grande ajuda”, explica no final da sessão de apresentação.Na plateia, que encheu o auditório, estava Virgínia Rosa uma das muitas pessoas que ajudaram Álvaro Pina Rodrigues no processo de recolha de informação tendo ditado cerca de duas centenas de versos que sabia de cor. Virgínia Rosa, 76 anos, trabalhava em casa dos pais do autor do livro e partilhava o que sabia. “Ele punha o gravador e eu dizia os versos que sabia de cor. Explicava-lhe como eram os bailes e as músicas das danças. Ele pedia-me para contar tudo o que sabia e eu dizia tudo de cor”, recorda sem esconder a emoção.Sob a chancela da Cosmos, o livro, que faz parte da colecção Raízes, tem 470 páginas e divide-se em vários capítulos: cantigas e danças; poesia popular; contos; romances; orações; medicina popular e crenças e superstições. Aurélio Lopes, autor do prefácio, considera que esta é uma obra actual e que torna Almeirim e as suas memórias mais compreensíveis.Fundador da primeira biblioteca pública de AlmeirimÁlvaro Pina Rodrigues nasceu em Almeirim em 1914. Tirou o curso de Gestão e Contabilidade no Instituto Comercial do Porto. Foi agricultor, comerciante de vinhos e correspondente bancário sendo, ao mesmo tempo, um estudioso e homem de cultura. O seu gosto pelo conhecimento levou-o, aos 20 anos, a viajar por toda a Europa.Foi o fundador da primeira biblioteca pública de Almeirim nos anos 30 e “insistente” defensor das campanhas de alfabetização. Foi encenador de teatro e autor de várias peças infantis, uma das quais levada à cena no Teatro ABC, em Lisboa. Morreu aos 91 anos de idade.