A tarde de sábado, 26 de Março, fica a marcar uma das iniciativas mais conseguidas da Biblioteca Municipal Ruy Gomes da Silva, na Chamusca. A oitava edição do programa Poesias de Cá propunha dizer poesia do poeta popular Custódio Mira e os seus conterrâneos responderam em força ao desafio.Os seis filhos, os netos e bisnetos do poeta que de uma forma muito simples cantou a sua terra, a sua família e os seus amigos como ninguém, estiveram presentes e eles próprios leram poemas do seu familiar, alguns deles que lhes eram dedicados. Laura Mira, a filha mais velha, abriu a sessão cantando um poema feito por ela própria de homenagem a seu pai. Acompanhada de pé, por todas as pessoas que enchiam a sala, no refrão, as lágrimas de emoção corriam dos olhos dos filhos e de muitas pessoas que tiveram a sorte de conviver com Custódio Mira.Não havia grandes declamadores entre os presentes, na sua grande maioria eram também pessoas simples como o poeta. Pessoas que sentiam como sua a vida difícil da família de Custódio Mira e da sua esposa, Francisca Correia, o amor da sua vida, que canta de forma arrebatada nos seus versos.Ao fim de duas horas de leitura de poesia, a moderadora teve que pôr um ponto final na sessão, com uma surpresa; o grupo de seniores da Juntanima, acompanhado pelo acordeonista João de Sá, cantou o poema cujos versos Custódio Mira dedicou “ às meninas e mulheres da nossa terra, linda vila da Chamusca, que plantavam o arroz desde o Carregal até Famão, indo a pé”.O refrão foi cantado em coro por todos os presentes: “Lá vão elas / Pela estrada de alcatrão / Atraentes moças belas / Onde brilha a sedução / Lá vão elas / Como a sina lhe propôs / As donzelas / Para a monda do Arroz”. No final o poeta, que faleceu em 1988, foi aplaudido de pé durante vários minutos. “Sentimos que o nosso pai esteve entre nós”No final da sessão, ainda mal refeita das emoções por que passou, Laura Mira agradeceu em nome da família os momentos emocionantes que mostraram que o seu pai estará “eternamente” no coração dos chamusquenses. “Sentimos que o nosso pai esteve aqui entre nós”, disse com as lágrimas nos olhos. “O meu pai não morreu, está sempre em alerta a olhar por nós. As pessoas ao cantarem os seus versos, simples mas cheios de amor, deixam-nos muito felizes”, desabafou.“A emoção é grande, sentimo-nos todos muito comovidos. Esta homenagem foi muito bonita, extraordinariamente emotiva. Sentimos que o nosso pai nunca morre. Obrigado a todos”, disse com orgulho e emoção.Directora da Biblioteca da Chamusca entusiasmada com adesão “A adesão das pessoas às nossas iniciativas tem sido extraordinária”. Foi assim que no final da oitava sessão do programa Poesias de Cá a directora da biblioteca, Dora César, manifestou a O MIRANTE a sua satisfação pelo êxito da iniciativa. “A dinâmica desta e de outras iniciativas levadas a cabo pela Biblioteca Municipal da Chamusca tem sido muito boa. E é sempre entusiasmante ver a receptividade das pessoas. Eu acho que é sempre importante ver as pessoas evidenciarem as coisas da sua terra, e, sem dúvida, a Chamusca é uma terra de poetas, tem um espólio muito rico e é bom que não caia no esquecimento”, disse.“O nosso trabalho na biblioteca é não deixar esse espólio cair no esquecimento, recordar e trazer à memória esses poetas que de uma maneira tão simples cantam a sua terra e as suas gentes”, disse Dora César.A trabalhar em pleno, a Biblioteca da Chamusca tem desenvolvido muitas actividades. “É verdade que tem sido uma lufa-lufa. É óbvio que estamos inseridos num concelho pouco populoso, mas olhando as estatísticas, é sem dúvida gratificante ver que o número de leitores e visitantes da biblioteca tem aumentado, estou muito satisfeita”, garantiu.