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O amor de mãe não cabe num só fado porque é maior do que a vida

O amor de mãe não cabe num só fado porque é maior do que a vida

A cantora Joana Amendoeira num encontro de ternura com a “mamã” Filomena

Em alguns espectáculos de Joana Amendoeira, há uma senhora que sai antes do final para, já na rua, ficar a ouvir o que dizem os espectadores que vão saindo. É a mãe, que poucos conhecem e que se deleita com os elogios que fazem à filha.

Não passa um dia sem falar com a mãe. Por vezes mais que uma vez. As raras excepções são determinadas por motivos alheios à sua vontade. Agendas apertadas de espectáculos em longínquos países. Diferenças horárias muito grandes. Joana Amendoeira, fadista, diz que tem uma relação fabulosa com o pai e com os irmãos mas com a mãe, Filomena Amendoeira, a relação tem o gosto especial das relações que todos os filhos têm com as mães. A poucos dias do dia da mãe, que se celebra este ano a 1 de Maio, fazemos-lhe a pergunta: Quando tem problemas, para quem liga em primeiro lugar? A resposta vem embrulhada num sorriso culpado. “Primeiro para a mãe e depois o pai. Quando ligo para o meu pai ele diz-me logo que se lhe estou a ligar a ele é porque não consegui falar com a mãe. Ainda por cima eu nem disfarço. Assim que ele atende pergunto-lhe: ‘Então a mamã?’ Mas ele não se importa de ser a “segunda escolha” em matéria de telefonemas porque sabe que, no meu coração, os dois são primeiras escolhas”.A conversa corre à sombra numa esplanada de Santarém. Mãe e filha chegaram juntas. O pai, Jaime Amendoeira, trouxe-as de carro ao centro da cidade e deve estar bem perto à espera, como fazia quando Joana era adolescente e ia a Lisboa para as aulas de canto da professora Maria do Rosário Coelho, que ainda hoje frequenta. “Foi a mãe que me arranjou a professora. Eu tinha 15 anos e gostava das aulas. Era aplicada. Queria aprender a respirar melhor; usar os músculos do diafragma, essas coisas todas. Eu queria melhorar. Quero melhorar sempre. Íamos às sextas-feiras depois das aulas para Lisboa. O meu pai deixava-nos no Campo Grande onde apanhávamos o metro. Ele ficava no carro à espera”.Filomena Amendoeira chama a atenção da filha para o vento que se começa a levantar. Aconselha-a a pôr um casaco pelas costas. Lembra-lhe a actuação que tem essa noite. Joana sorri e faz um gesto de carinho na sua direcção. Pedem as duas o mesmo. Café curto com adoçante. “No dia da mãe gosto de lhe dar um miminho. Mas é uma coisa simbólica. Um simples postal. Uma pequena lembrança. Para mim o dia da mãe é todos os dias”, diz a cantora.Filomena Amendoeira tenta explicar que gosta da mesma forma de todos os seus filhos. Do Pedro, guitarrista conceituado que acompanha regularmente a irmã desde as suas primeiras actuações; do Miguel, o filho do meio, que tinha mais queda para o futebol até ser travado por uma lesão e que agora integra a equipa de produção da “Nosso Fado” a empresa criada por Joana Amendoeira para gerir a sua carreira e da filha mais nova, a sua Joaninha. “ Com os rapazes é diferente. Ela acorda e ainda na cama já me está a ligar. Ela gosta mais de miminhos. De os receber e de os dar. Às vezes são beijos ou festas. Outras vezes apenas palavras. Eles são casados. Têm outra vida...”.Quando era muito nova os pais iam com ela para todos os sítios onde ela cantava. Com ela e com o irmão Pedro. Nas idas ao estrangeiro a companhia da mãe fazia parte dos contratos. Ainda adolescente Joana Amendoeira cantou no Brasil, em África e nos Estados Unidos. O pai não ia porque não dava para irem os dois. “Por causa de mim eles por vezes nem descansavam. Dormiam pouco e por vezes nem dormiam”, conta a artista. “Ainda agora os meus pais vão mais de uma vez por semana a Lisboa ver-me cantar. E fazem por vezes muitos quilómetros para estar comigo. Chegam a ir a Espanha se eu canto lá. São uns pais espectaculares que nos apoiaram sempre.”“A minha filha é uma pessoa positiva e muito forte”“Já estive doente no estrangeiro e recorri à minha mãe. Foi na Estónia. A minha mãe falou com uma médica transmitiu-me a composição química dos medicamentos a tomar porque eles lá não conheciam os medicamentos pelos nomes comerciais que eles têm em Portugal. Eu tinha três ou quatro espectáculos e adoeci logo após o primeiro. Foi ela que me salvou. É o que dá ter uma mãe enfermeira”, diz Joana Amendoeira. “É o que dá ter uma mãe”, dirá qualquer filho que sinta o amor de uma mãe como Filomena Amendoeira. A fadista não é de se ir abaixo com facilidade. É uma pessoa positiva. Resistente. Forte. A mãe conta que foi sempre assim. “Quando tinha 4 anos foi operada a um rim. Só queria que vissem esta miúda. No pós-operatório, com aqueles drenos todos, sentadinha na cama no hospital de Santa Maria, a pôr creme na cara e um batonzinho nos lábios. Era tão gira, tão gira”.A melhor cozinheira do Mundo chama-se Filomena Amendoeira. O melhor prato do mundo é o bacalhau com natas à Filomena Amendoeira. “Aquele sabor a limão” diz Joana com um ar de felicidade. A minha mãe aprendeu muito com a mãe do meu pai, a minha avó, mas superou-se nos últimos anos”. A elogiada cozinheira não se arma em modesta. Diz que até poderia melhorar se tivesse um ajudante de cozinha à altura. Mas há um senão. No último ano Joana Amendoeira teve que fazer um grande esforço para perder algum peso que tinha a mais. Um artista, para além da saúde, tem que cuidar da imagem. “Agora a minha mãe em vez de me incentivar a comer chama-me à atenção. Eu quero mais e ela diz-me para não o fazer”. Novo fôlego para “Sétimo Fado”Há precisamente um ano Joana Amendoeira editou “Sétimo Fado”. No início deste ano o disco ganhou novo fôlego ao ser editado para distribuição no estrangeiro pela prestigiada discográfica Le Chant du Monde, integrado na sua colecção Musiques Ethniques. Já foram realizados concertos em França e Espanha para divulgação do CD e ao longo deste ano outros acontecerão noutros países.A cantora vê assim recompensada a sua decisão de formar a “Nosso Fado”, uma empresa dirigida por si com o objectivo de gerir a sua carreira, que envolve membros da sua família, nomeadamente o irmão do meio, Miguel e a cunhada Sandra. “Estou contente porque as coisas estão a resultar. Sabe-me muito melhor porque está lá o meu trabalho também. Mas quero dizer que não houve qualquer conflito com o meu agente anterior, o Hélder Moutinho, de quem sou amiga”, faz questão de esclarecer. Quanto a um novo disco, diz que é cedo. “Ando a seleccionar reportório para o próximo disco mas tenho que pensar muito bem. Tenho várias ideias. Posso convidar um ou outro instrumento mas não vou divagar para outras músicas. O fado é o que me vai na alma”, afirma.
O amor de mãe não cabe num só fado porque é maior do que a vida

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