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“Existem grupos de forcados a mais”

“Existem grupos de forcados a mais”

Ricardo Castelo é o novo cabo do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira

Ricardo Castelo fardou-se como elemento do grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira aos 14 anos. Nesse dia tinha a seu lado o irmão gémeo, Pedro Castelo, que sempre o acompanhou nesta jornada. Doze anos depois foi eleito cabo do grupo substituindo Vasco Dotti. A primeira corrida como líder do grupo aconteceu em Março do ano passado na praça de toiros de Alcochete. O engenheiro agrónomo, 27 anos, defende que existem grupos de forcados a mais e que isso prejudica a festa brava. Não concorda com a criação de grupos femininos de forcados. “As praças ficam muito mais bonitas com as mulheres nas bancadas”.

No dia em que se fardou pela primeira vez pelo Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, aos 14 anos, Ricardo Castelo estava longe de imaginar que 12 anos depois seria cabo do grupo que o viu nascer para o mundo dos toiros. O jovem licenciado em engenharia agrónoma fez a sua primeira corrida como cabo no dia 28 de Março de 2010, na praça de toiros de Alcochete. Uma enorme responsabilidade, confessa.Quando o anterior cabo, Vasco Dotti, decidiu afastar-se da liderança dos forcados informou o grupo da sua decisão. Todos os elementos ficaram responsáveis por escolher a nova figura. A escolha recaiu em Ricardo Castelo. A reacção foi de choque. “Pensei ‘e agora?’. Caiu-me tudo em cima. Foi uma enorme responsabilidade mas tento melhorar o meu desempenho a cada dia que passa”, explica a O MIRANTE. Liderança, sentido de responsabilidade e conhecimento dos toiros são as características que um cabo deve ter. Foram essas as características que os colegas viram no novo cabo.Ricardo Castelo defende que o forcado é o elemento que dá mais emoção ao espectáculo da festa brava e aquele que o público mais admira. “Existem grupos de forcados a mais e essa é uma das causas para a figura não crescer tanto na festa. Também existem muitos interesses para lá da arena, o que prejudica o desempenho dos grupos”, disse não querendo acrescentar mais nada para “não alimentar” polémicas.O jovem forcado é totalmente contra a criação de grupos femininos de forcados e afirma que as mulheres têm o seu lugar na festa. “Gosto muito que as mulheres venham às corridas e aos nossos jantares e estejam presentes connosco mas não na arena. As praças ficam muito mais bonitas com as mulheres nas bancadas. Elas também fazem parte do grupo enquanto nossas mulheres e namoradas mas dentro da arena somos nós que trabalhamos”, sublinha. Isso não é machismo? “Claro que não”, responde Ricardo Castelo. “A fisionomia da mulher não se adequa à exigente tarefa de pegar toiros nem têm tanta força. Elas não nasceram para pegar toiros. Não é machismo. É uma questão de ser realista”, defende.78 TOIROS PEGADOSRicardo Castelo já pegou 78 bois e conta com algumas mazelas fruto de confrontos mais rijos com o toiro. Foi operado ao ombro e ao joelho devido a roturas de ligamentos e várias luxações. O forcado não consegue eleger a melhor e a pior pega. Todas são especiais e contam uma história.A partir do momento em que o toiro sai dos curros os forcados começam a analisar o seu comportamento para perceber qual a melhor forma de pegá-lo. Os forcados trocam impressões entre si. Mas é ao cabo, sempre posicionado na ponta direita do seu grupo, a quem cabe a responsabilidade de decidir quem vai para a frente do imponente animal. Quando está à frente do toiro Ricardo Castelo garante que não pensa em nada a não ser “acreditar” que a pega vai correr bem e que vai conseguir “agarrar-se bem” aos cornos do toiro. Não olha para os colegas que estão posicionados atrás de si. Se o fizesse seria um sinal de desconfiança para com os seus companheiros. Um forcado deve ser castigado quando não dá o exemploRicardo Castelo defende que enquanto elementos de um reconhecido grupo de forcados todos devem dar o exemplo e contribuir para causas cívicas. O actual cabo recorda a corrida de toiros que a Tauroleve e o grupo de forcados de Vila Franca de Xira decidiram organizar para angariar fundos para a construção do canil, em Fevereiro de 2010. A polémica instalou-se quando a Associação dos Amigos dos Animais de Vila Franca de Xira aceitou receber o dinheiro – metade da receita angariada revertia para a construção do canil - mas depois decidiu receber os fundos por pressão de várias entidades de defesa dos direitos dos animais. “Esta decisão não faz sentido nenhum. Nós quisemos ajudar da maneira que sabemos e podemos fazer, promovendo uma corrida. Os elementos do movimento anti-touradas só se preocuparam com os protestos e não pensaram nos animais que com o dinheiro angariado podiam viver em melhores condições”, realça Ricardo Castelo acrescentando que acabaram por entregar o dinheiro à associação.O novo cabo dos forcados de Vila Franca de Xira assume que todos os elementos que integram o grupo têm que ser um exemplo para a comunidade onde vivem. Quem se comporta bem é premiado e quem não se porta tão bem é castigado. “É uma forma de aprendizagem. Quem tem atitudes positivas vai conseguir chegar ao topo mais depressa do que quem é menos bem comportado”.O episódio em que alguns elementos do grupo de Vila Franca vandalizaram uma casa particular onde pernoitaram em Évora, em Abril de 2009, é totalmente reprovável por Ricardo Castelo, que não esteve presente nesse fim-de-semana. “É normal haver, de vez em quando, excessos uma vez que somos jovens e às vezes bebemos uns copos e temos atitudes irreflectidas mas o que se passou não tem desculpa. Somos um grupo com nome e temos que dar o exemplo. Quando alguns elementos não se portam como deveriam são castigados”, esclarece.Dois gémeos na arenaRicardo Castelo nasceu a 15 de Setembro de 1983 em Vila Franca de Xira. O jovem tem um irmão gémeo, Pedro Castelo, que também é forcado nos amadores da cidade onde nasceram. Entrar para os forcados foi algo natural uma vez que o tio também era forcado e levava os sobrinhos para as garraiadas. Quando decidiram integrar os amadores de Vila Franca ninguém na família estranhou. “Até acharam piada por sermos muito novos”, conta. Apesar de serem muito parecidos Ricardo e Pedro Castelo nunca foram confundidos pelo cabo do grupo. Ricardo preocupa-se com todos os elementos mas quando é o seu irmão a ficar magoado a inquietação aumenta. “Somos muito unidos e quando as coisas não nos correm bem ficamos logo preocupados e a querer saltar para a arena para auxiliar”, diz.Convívio na tertúlia dos forcados para descomprimirA entrevista ao actual cabo dos Amadores de Vila Franca de Xira decorreu ao final da tarde de uma quarta-feira na tertúlia dos forcados. Ricardo Castelo chega em passo apressado motivado pelo ligeiro atraso da hora marcada. Licenciado em engenharia agrónoma o jovem é técnico de campo numa empresa situada no Biscainho, Coruche, que produz arroz e milho. A tertúlia está decorada com elementos taurinos. Quando entramos salta à vista uma enorme cabeça de toiro pendurada na lareira. Pelas paredes dezenas de fotografias emolduradas de antigos e novos forcados nas arenas por onde o grupo pega toiros há 78 anos. O grupo, que actualmente conta cerca de 25 elementos dos 18 aos 34 anos, reúne-se sobretudo aos fins-de-semana na tertúlia onde falam de toiros, visionam corridas na televisão e convivem. As esposas e namoradas também entram e muitas vezes são as mais entusiastas da festa. “Aproveitamos para conviver e descomprimir de uma semana de trabalho. É um ambiente familiar”, conta deixando um convite a todas as raparigas que queiram ver como funciona o convívio entre forcados a visitar o espaço, no centro da cidade.
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