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Megafónico Serafim das Neves

No sábado fecha o circo. Não vai haver mais zés-pereiras a malhar nos bombos, beijinhos a granel nas senhoras com meninos ao colo, trocas de mimos através das televisões. Fico triste com estes finais de festa Serafim. Acaba-se a campanha eleitoral e parte-se-me o coração. Ontem recebi um panfleto do PSD com as fotografias dos candidatos de Santarém. Com a pressa a tipografia não acertou a impressão. Cada cara eram quatro caras mal sobrepostas. Pensei logo que tínhamos candidatos novos e que eram todos extraterrestres. Por pouco não me decidia a votar neles. Infelizmente consegui ver que aquele senhor com tri-papeira, olhar acentuadamente estrábico e cabelo tipo capacete de mota era o luso-brasileiro Miguel Relvas. O primeiro da lista. Agora voltei à ideia inicial, vou votar em todos. Eu sei que não me deixam mas eu voto à mesma. Eles merecem. Quanto mais não seja pelo esforço. Foi ao sol e à chuva. Em ruas calcetadas e estradas de terra batida. Caminhos de pé-posto, carreiros de cabras. Mais incansáveis que robocops. Apitos, cornetas, bombos, música em altos berros e eles em passo de corrida a atirar papéis, a beijocar tudo o que tinha forma de gente e a emborcar minis e copos de vinho logo ao pequeno-almoço. Fantástico. Eu sempre a ver quando algum rebentava e nada. Mais depressa rebentava um maratonista. A resistência dos candidatos é compreensível. Lutam por um lugar ao sol. Por um minuto de tempo de antena por uma fotografia na primeira página dos jornais encharcados em suor a esbracejarem como se se estivessem a afogar. E o mesmo acontece com o pessoal das caravanas. Andam ali para ganharem a vida. Para ganharem um lugar qualquer em caso de vitória. Os jornalistas não. Andam lá por devoção. Por amor à profissão. Só ganham escaldões se o sol é muito. Encontrões dos seguranças. Molhas tsunamicas quando chove. Otites medonhas de tanto lhes gritarem aos ouvidos a partir dos estúdios as perguntas que devem fazer aos candidatos e que eles não deixam de fazer mesmo que sejam as mais perfeitas idiotices que alguém pode perguntar a alguém. “O outro candidato chamou-lhe camelo. O que é que tem a dizer sobre isso?”. E na passada fica a resposta. “Pentelhos!! Eu não ligo a pentelhos”, frase sublinhada por um urro que sai de um megafone. Se dizem a verdade arriscam-se a levar na corneta que os das claques são assim, quer seja no futebol ou na política. Durante semanas transformam-se em amplificadores de dislates. “Manel disse hoje em Torres Novas que o candidato da direita é uma besta”. “ A besta respondeu já em Tremês que o Manel é uma cavalgadura”. E eu deliciado com tanta informação pertinente. Cheio de intenções programáticas que nem um sapo feito boi. As campanhas eleitorais deviam acontecer mais vezes. Quatro ou cinco eleições por ano e a democracia fortalecia-se mais que um andróide. Os eleitores ficavam imunes a tudo. Ao vírus dos pepinos espanhóis; à gripe das aves; às caganeiras de todas as etiologias. Que bom que era eu conseguir manter este sorriso permanente um ano inteiro. Tiro o som da televisão e fico muito tempo a ver as imagens da campanha. Rio que nem um pedido. A Maria vem da cozinha perguntar se estou bem e eu respondo-lhe que nunca estive tão bem. Enquanto eles andam naquilo não estão a tramar-nos a vida. Andam entretidos. Pelo menos até domingo o país está salvo. Brindemos à campanha, pois então. Saudações sufrágicas Manuel Serra d’Aire

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