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“O PSD em Vila Franca de Xira está mais à esquerda do que no resto do país”

“O PSD em Vila Franca de Xira está mais à esquerda do que no resto do país”

Rui Rei, vereador da Coligação Novo Rumo na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

O vereador Rui Rei, um dos três eleitos pela Coligação Novo Rumo (PSD, CDS/PP, MPT, PPM) na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, tem o pelouro das obras e da modernização administrativa. Está na oposição mas é ao mesmo tempo um dos braços no poder. Mostra-se empenhado em corrigir tudo aquilo que criticou e em mostrar trabalho. Quer transformar Vila Franca de Xira na capital do Ribatejo. Garante que a única alternativa ao PS nas próximas eleições autárquicas é a coligação onde se inclui o PSD - que em Vila Franca de Xira se apresenta como um partido à esquerda e ao lado das pessoas.

A presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha (PS), não voltará a recandidatar-se por ter chegado ao limite de mandatos. Esta saída pode ser encarada como uma oportunidade para alguns partidos mas dizem os entendidos que o concelho – até pela base sociológica que o caracteriza – mais facilmente virará à esquerda do que à direita. Como encara este cenário? Fizeram há pouco tempo uma entrevista a um ilustre socialista deste concelho [Luís Capucha, que defendeu que a base sociológica do concelho é de esquerda] que há poucos dias usou o aparelho de Estado para defender o PS com as Novas Oportunidades. Espero que se existir justiça ele venha a ser questionado. Foram feitos contactos directos a um conjunto de cidadãos, não para defender um programa, mas defender um partido e acho isso errado. Está a referir-se aos testemunhos das Novas Oportunidades?Não são só os testemunhos. É a forma como se forçou um conjunto de gente a ir ao Ateneu com Sócrates como resposta à visita de Passos Coelho a Vila Franca de Xira. Participaram funcionários da câmara, de escolas e uma empresa que deveria ser isenta, a Solvay. É uma introdução para dizer que quando esse senhor deu a entrevista a O MIRANTE reconheceu uma coisa que o PSD vinha dizendo desde 1975. Os resultados de 2009 e a transformação sociológica do concelho demonstram que a alternativa ao PS não é mais à esquerda mas é o PSD. O Partido Social Democrata em Vila Franca de Xira não é um partido à direita. Como é que não é um partido à direita?Não é nem pode ser. O Partido Social Democrata na sua génese é um partido de centro-esquerda e se há sítio onde o PSD tem que saber estar na sua génese com as pessoas é em Vila Franca de Xira. Nas eleições de 2009 passámos de nove para 11 vereadores e os dois novos eleitos foram ganhos por este movimento. Também por força do aumento de eleitos.Quem analisar isto de forma séria percebe que o único movimento alternativo ao PS é a Coligação Novo Rumo ou o PSD. Não há mais ninguém. Luís Capucha na entrevista apontava também como alternativa a CDU. Sim, eu li, assim como defende como candidato do PS o presidente da Junta do Forte da Casa. Se olharmos para a descrição percebemos que isso em nada se enquadra na alternativa que diz defender para o concelho.Porquê?São distracções que se criam mas não tenho nada a ver com as questões internas do PS. O que digo é que a única organização que as pessoas neste momento reconhecem como alternativa ao Partido Socialista é o PSD. E quem irá encabeçá-la?O futuro a Deus pertence mas o PSD teve um candidato em 2009 que foi João de Carvalho que obteve um excelente resultado. Daqui até às eleições de 2013 ainda há muito tempo.João de Carvalho vai voltar a ser cabeça de lista?Há uma coisa importante que me ensinaram: para ser é preciso querer. E não queremos gerar à volta disto muita pressão. Não temos pressa.Mas conseguiram os resultados nas últimas eleições muito à custa do candidato figura pública.Sou suspeito porque acho o João de Carvalho uma pessoa extraordinária. Uma pessoa extraordinária é sinónimo de um bom político?Aquilo que dantes era bom, que era vir da sociedade civil, parece que quando não se enquadra em determinados perfis, é mau. Não sei o que é ser bom ou mau político. Sei o que são bons ou maus profissionais. João de Carvalho mora há mais de 30 anos no concelho de Vila Franca de Xira e criou a sua família em Alverca. Se alguém tem feito alguma coisa pela cultura em Vila Franca de Xira tem sido o João de Carvalho que tem trazido ao concelho um conjunto de pessoas. Apesar de ter o estatuto que tem é discreto, não entra em grandes confusões e vai fazendo o seu trabalho. Isso é o que se pede. De folclore estamos cheios. Já que falou em folclore: um candidato que em época de campanha diz que a governação de Maria da Luz Rosinha dá vontade de rir e depois aceita partilhar os pelouros pode ser levado a sério?Aceitámos partilhar poderes com o objectivo de dar estabilidade. Aceitámos pelouros que não são de festas e romarias. Houve um momento em que criticámos a gestão e por ter um modelo alternativo fomos a única força que cresceu. Como tal chegou o momento de provar que somos capazes. Quando chegarmos ao fim vamos fazer o balanço. Hoje estou no pelouro que mais critiquei durante o meu período de oposição. Já teve que dar a mão à palmatória em algumas questões?Não tenho problema em dar a mão à palmatória. Quando cheguei um amigo disse-me que o segredo era estar sempre dentro e fora. Poder estar dentro olhando os problemas e poder estar fora olhando-os para dentro. Caso contrário a máquina acultura-nos. Continuo a estar dentro e a poder ver de fora e a achar que as coisas não estão certas. Isso porque continua a ser oposição com um pé no poder?A minha opinião, salvo raras excepções, não mudou muito. Não deixei de defender a variante de Alverca, a variante de Vila Franca, o nó dos Caniços ou do Sobralinho. Não deixei de defender que a nova zona industrial e de serviços deveria ser na zona de São João dos Montes encostada à zona de Arruda. Não deixei de defender a recuperação da zona ribeirinha a sul do concelho. Não sou um corredor de 100 metros. Não mudo de opinião facilmente. Estas participações fizeram-no crescer na política?Fizeram-me perceber as dificuldades que existem. Não é só a câmara que decide. Tenho obrigação de resolver o que critiquei. As ruas Miguel Esguelha e Gomes Freire estão a ser reconstruídas a custas do empreiteiro. Comigo à frente do departamento de obras a câmara não paga duas vezes a mesma obra. Se fosse um vereador do PS não seria assim?Não quero falar do que os outros fizeram. Quando cheguei a Lisboa Gás não pagava à câmara há dez anos 1 milhão e 700 mil euros. A Lisboa Gás pela primeira vez em dez anos pagou em Fevereiro 403 mil euros à câmara. Comigo as empresas respeitam as regras. Afinal quem é de esquerda? Isto ao nível das obras. E ao nível das urbanizações. Estava preparado para dizer basta de construção apostando por exemplo na requalificação?Isso é inevitável. Uma parte importantíssima da receita dos municípios vem do IMI porque as licenças de construção são residuais. Vila Franca de Xira este ano deve ter passado um alvará. Só podemos licenciar o que é estritamente necessário. Os novos licenciamentos têm que cumprir o objectivo de desenvolvimento do concelho. Defende a urbanização para a zona ribeirinha da Póvoa?Defendo em determinadas circunstâncias. A zona da Expo está praticamente lotada. Foi nos últimos 30 anos o grande investimento na área metropolitana norte. Todos os outros grandes investimentos foram feitos no eixo Lisboa-Oeiras-Cascais e Sintra. Por isso há alguns anos fui o único a votar contra o plano nacional de ordenamento do território. Não aceitava que o eixo Lisboa-Sacavém-Azambuja fosse considerado o eixo da desqualificação. É grave porque aqui se vão centrar os problemas dos nossos concidadãos com menos rendimentos, mais dificuldades e parte da imigração. Como se combate isso?Com estratégias de desenvolvimento e dizendo ao poder central que não aceitamos ser pobres. Acha que aceito que um ilustre socialista, responsável da CCDR [Fonseca Ferreira], tenha permitido tudo no arco ribeirinho sul e não tenha permitido nada no arco ribeirinho norte? Neste momento, na zona do Barreiro podem fazer tudo, e não podemos fazer nada no concelho de Vila Franca de Xira. A zona ribeirinha, nomeadamente a que vai da zona do Forte da Casa a Alverca, tem que ser o nosso grande eixo de desenvolvimento. Tal como Cascais tem o mar nós temos o rio. As pessoas têm que agarrar na bicicleta e ir para a Expo?Desenvolvimento com construção de mais urbanizações?É o desenvolvimento que me ajuda a atrair outras populações para o concelho. Não tenho hotelaria. Não tenho serviços. Não tenho, salvo excepções, habitação de qualidade. Para pobre já cá estou eu. Quando dizemos que a mudança do aeroporto é indiferente para o concelho de Vila Franca não é verdade. O eixo de ligação ao novo aeroporto não é a recta do cabo. É a ponte do Carregado. O pólo de desenvolvimento a norte é todo o eixo que vem da Castanheira do Ribatejo até ao nó de Vila Franca independentemente de estarmos de acordo ou não com a plataforma logística da Castanheira do Ribatejo. A zona do Gado Bravo devia ter um perímetro maior do que tem neste momento. Quando participei num debate sobre a nova Vila Franca defendi o projecto. Vila Franca precisa de um choque de população.População sem emprego?População com emprego. Se consigo atrair uma faixa da população mais jovem e mais dinâmica vou forçosamente criar emprego. Eles vão obrigar os velhos do restelo a trabalhar. Nos meus tempos de estudante Vila Franca centrava Alenquer, Benavente e o Montijo. Infelizmente Vila Franca já não é o centro. Temos que perceber rapidamente o que queremos ser quando formos grandes. Temos alguns factores extraordinários, como a nossa tradição e a nossa ligação ao rio, mas têm que ser vendidos. Se o PSD for governo na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira daqui a dois anos o eixo rico vai mudar-se para a zona?Há dias fizemos uma visita à zona agrícola de Vila Franca. Ficou claro que Vila Franca é a transição entre a cidade e o campo. Não podemos dar a Santarém esta perspectiva de liderança. Santarém é importante mas nós temos mais gente e estamos mais próximos de Lisboa. Não somos só prédios, habitação e suburbano. Temos identidade. Somos capital de uma região. Temos um pé dentro de Lisboa mas a nossa essência é o Ribatejo, como tal lideramos esta região. Vila Franca de Xira deve assumir-se como capital do Ribatejo?Vila Franca de Xira tem que ser o factor identitário desta gente. Quer do nosso concelho quer do resto. Temos mais possibilidades que Benavente, Azambuja, Alenquer ou Arruda. Falámos nas novas urbanizações mas em relação ao casco mais antigo das cidades?Os próximos anos serão os anos das recuperações. Mesmo as excepções da zona sul são projectos para vinte anos. Antigamente é que se faziam urbanizações em seis meses.Maria da Luz Rosinha diz que esse é um trabalho complicado porque os proprietários ou não se encontram ou não querem. Vamos ter que melhorar a legislação e procurar uma maior intervenção do Estado. O interesse público vai ter que sobrepor-se a determinada altura ao interesse do privado. Também tem que ser alterada a lei do arrendamento. Não é justo que se peça ao proprietário que arranje uma habitação e que tenha uma renda de dois ou três euros. É o Estado que tem que fazer acção social. Não é o privado. De outra forma as zonas mais antigas vão morrer.Ao nível da habitação o concelho enfrenta problemas. A Segurança Social está a pagar pensões à comunidade cigana de Vialonga. Temos que atender a todas as especificidades mas no actual estado de coisas gastar um milhão de euros com algumas famílias é muito dinheiro. Só posso fazer solidariedade social se tiver dinheiro. Defendo a integração de todas as comunidades mas é preciso que as pessoas se queiram integrar. No dia em que quisermos analisar a situação vimos que gastámos dinheiro e não integrámos ninguém. Conta dos telefones já diminuiu trinta por cento na câmaraComo é que pensa fazer campanha para as próximas eleições autárquicas sendo um dos braços do poder em Vila Franca de Xira?No dia do julgamento – as eleições – o povo vai pronunciar-se sobre a forma como cada um introduziu o seu estilo na governança. Já teve que engolir muitos sapos?Não tenho que engolir sapos. Nota-se que não está tão à vontade para criticar.Há momentos para criticar e para fazer. Em relação a vários assuntos critiquei e apresentei uma solução. Como se sente tendo que apresentar todas as propostas à presidente. Disse numa entrevista em 2006 que até a requisição de papel higiénico tinha que passar pelo gabinete da presidente. Estamos num grupo de trabalho e as coisas têm que ser discutidas. A forma como a câmara de Vila Franca foi construída nos últimos anos leva a uma centralização para que não haja excesso de despesa. É um estilo. Criticado por uns, apoiado por outros. Compreende melhor agora?Compreendo que as despesas têm que ser contidas. Ou damos corda aos sapatos ou daqui a uns tempos a única coisa que conseguimos fazer é gestão corrente. A descentralização pode ser uma coisa positiva não ao limite do papel higiénico. Na mesma entrevista de 2006 queixava-se que tinha uma cadeira e pouco mais para trabalhar.Tenho um gabinete na câmara que tem os mesmos móveis, a mesma cadeira e as mesmas duas mesas que tinha quando cheguei. O computador com que trabalho é meu. Só vou ter um computador quando os outros tiverem as suas condições de trabalho. É uma questão de exemplo. Nós hoje estamos com diminuição dos consumos de telemóvel na ordem dos 30 por cento. Vamos tentar baixar ainda mais. Na área da iluminação pública a câmara paga por ano um milhão e 600 mil euros. Vamos até ao fim do ano baixar este valor. A EDP está a ser obrigada a instalar contadores – até aqui pagávamos por estimativa – para medir a quantidade de energia gasta e poder reduzir.A grande cidade do sulA questão da reorganização administrativa está na ordem do dia. O que defende para o concelho?A câmara de Vila Franca descentraliza muito mas, muitas vezes, nas zonas urbanas nem os espaços verdes estão arranjados nem as ruas limpas. A câmara só pode pagar aquilo que é efectivamente feito. O concelho pode ter muito menos freguesias. Não podemos continuar neste caminho que não traz valor acrescentado aos cidadãos. A solução passa por fusões de freguesias.Reduzir para metade?Se calhar admito a possibilidade de criar a grande cidade do sul, como defendeu um companheiro meu há dez anos. Se calhar mais tarde ou mais cedo a Póvoa, Forte da Casa e Vialonga serão uma só freguesia. Ganhando escala conseguimos gerir melhor as coisas. O que temos é que ter gente motivada, bem paga e a trabalhar por objectivos. Não podemos continuar a achar que quem trabalha na administração pública são os malandros cá do sítio. A administração pública é o que os vários partidos ao longo do tempo quiseram que ela fosse. Não tiveram coragem de mudar as regras e criaram empresas paralelas para fazer o que a administração pública não pode fazer. “Se Vila Franca é a Sevilha portuguesa tem que assumir-se como lugar de culto”A sua esposa [Odete Silva] é canditada a deputada pelo PSD. Lá em casa fala-se de política?Quando há tempo conversamos sobre essas coisas. Ultimamente, à noite, tenho ficado eu mais com o meu filho. Temos que ir equilibrando as coisas. Fico satisfeito por ter uma pessoa que está comigo e tem um conjunto de qualidades que lhe permite fazer o trabalho que faz. Às vezes até conversamos mais ao telefone que em casa. Às vezes a Odete sabe o que vou fazer por outras pessoas. Muitas mulheres estão limitadas exactamente por questões familiares. É apenas isso que as inibe da participação política? A nossa sociedade tem sido constituída desta forma. As mulheres ficam com a responsabilidade da família, mais do que os homens. Não tenho dúvidas de que no dia em que as mulheres quiserem assumir uma posição de liderança terão condições para o fazer. Na autarquia já está uma mulher. Se fosse um homem a sua relação seria diferente? É sempre diferente ter uma conversa com uma senhora. Há limites que não se ultrapassam. Apesar disso nunca deixei de dar opinião. Falo com a presidente de câmara de igual para igual mas respeito-a. Que estátua despiria na cidade, tal como está a de Alves Redol ?Acho que as pessoas devem ser reconhecidas enquanto estão vivas. Em Vila Franca de Xira, por exemplo, fala-se muito de tauromaquia mas não fazemos o que deveríamos. A capital tauromáquica do país é Vila Franca. Não é Santarém. Faz sentido que não tenha na praça de toiros o expoente máximo da tauromaquia? Se Vila Franca é a Sevilha portuguesa tem que assumir-se como lugar de culto. Tem que ser romaria dos aficionados. Tem que ser elevada à categoria de estrela. Se por um dia vestisse a pele de toureiro quem toureava?Se algum dia pudesse liderar verdadeiramente gostaria de transformar Vila Franca de Xira num concelho líder na área metropolitana de Lisboa acabando com este eixo principal: Lisboa, Oeiras, Cascais, Sintra. Mudar as prioridades para este lado. Esta população merece que a gente faça isto. Foram a cintura industrial do distrito, alimentaram uma boa parte do país durante anos e viveram na ilusão a seguir a 1974 . Aproveitaram-se deles e destruíram a indústria. Queremos que acreditem que é possível fazer de Vila Franca uma área de liderança da área metropolitana de Lisboa.
“O PSD em Vila Franca de Xira está mais à esquerda do que no resto do país”

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