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Uma aldeia que tem muito orgulho em ser aldeia

A Festa do Bodo da Azinhaga é a festa do povo. Toda a população gosta de participar e ninguém dá o dinheiro gasto por mal empregue. Quanto melhores forem os artistas contratados, mais alto sobe o bairrismo e a auto-estima. Em tempo de crise as gentes de Azinhaga não carpem mágoas. Arregaçam as mangas e trabalham com afinco porque se consideram pessoas lutadoras por natureza. E ninguém se incomoda por a aldeia continuar a ser aldeia em vez de vila. O importante não é o título mas a forma de sentir a terra. E para quem lá vive aquela é a melhor terra do mundo.

Ana Gomes, Técnica farmacêutica, PombalinhoAzinhaga fica melhor como uma grande aldeiaVive no Pombalinho mas a maior parte do seu tempo é passado na Azinhaga onde trabalha na Farmácia Moderna. “Já aqui trabalho há muito tempo e identifico-me com as pessoas simples da aldeia, por isso sou da opinião que a Azinhaga fica melhor como uma grande aldeia do que como uma pequena vila”, afirma. Tem conhecimento do facto da Azinhaga ter sido premiada como a aldeia mais típica do Ribatejo na altura do Estado Novo e diz que o título, ainda hoje, assenta bem à localidade. Para Ana Gomes a Festa do Bodo é a festa do povo, por isso o dinheiro gasto nos espectáculos não é mal gasto. “São as pessoas que pagam. É uma tradição de grande significado para todas elas e é a altura certa para se libertarem do stress do dia-a-dia”. Mário Duarte, empresário, AzinhagaNão nasci na Azinhaga mas admiro a festa e as suas gentesÉ com prazer que Mário Duarte fala da Azinhaga a terra que o acolheu como empresário. “É uma terra diferente. Uma grande aldeia, quer no tamanho quer na união das suas gentes”, diz com admiração e conclui com convicção que a Azinhaga deve continuar como uma grande aldeia e não como uma pequena vila. Contribui com um donativo para a Festa e marca presença na mesma. “Estou de acordo com o programa. Não se gasta dinheiro de mais. Afinal é uma oportunidade para a população esquecer um pouco as agruras do momento. Por mim entendo que se toda a gente contribui é porque quer que a festa seja grande e seja de todos”, afirma.Diogo Costa Dias, Serralheiro, AzinhagaVila para quê? A Azinhaga é uma grande aldeiaQuem não tem dúvidas quanto à justiça do prémio de Aldeia Mais Típica do Ribatejo entregue à Azinhaga é João Diogo Dias. “Sou um azinhaguense de gema e não me interessa que a terra seja vila. Vila para quê?”, pergunta. “Para quê? Para deixarmos de ser uma grande aldeia com grande coração, para sermos uma pequena vila desprovida de sentimentos?”, interroga? Quanto à Festa do Bodo diz que ela reflecte esse sentimento. “É a união do povo. É o orgulho de todos os azinhaguenses, mesmo daqueles que gostam de dizer mal de tudo. Por isso o dinheiro que se gasta na festa é muito bem empregue”. A sua ajuda na festa prende-se com o facto de ser um dos mordomos. “Pago a roupa de uma das raparigas que vai no desfile”. Carmelinda Maltez, empresária, AzinhagaAproveito todos os bocadinhos para ajudar a enfeitar a minha ruaA família Maltez é uma das maiores da Azinhaga e Carmelinda Maltez que nasceu na Golegã, mas veio para a Azinhaga há 44 anos, orgulha-se da sua descendência. Participa activamente na preparação da Festa. “Faço sempre o meu donativo, já pertenci à comissão de festas e preparo activamente o embelezamento da minha rua. Aqui estou hoje a aproveitar este bocadinho livre para fazer flores. Quero que a minha rua ganhe o prémio de rua melhor engalanada”. Quanto a explicações sobre o que a sua rua está a preparar, fecha-se em copas. “Isso é segredo e todos escondemos o segredo o melhor possível. Todos queremos fazer uma surpresa”. Diz que todo o dinheiro gasto na festa é bem gasto e acha que a Azinhaga já deveria ter sido elevada à qualidade de vila. João Luís Grais, Serralheiro, AzinhagaA Azinhaga já merecia ser vilaJoão Luís Grais é uma voz que contraria a maioria das pessoas com quem O MIRANTE falou. Para ele, que nasceu no Pombalinho mas que se considera um azinhaguense de gema, a terra já merecia ser vila. “Tem tudo o que é preciso e é maior e mais bem cuidada do que muitas vilas que conheço”, explica. Se fosse responsável pela organização da Festa do Bodo faria exactamente igual ao que fazem os homens e mulheres que estão à frente da comissão da festa. “A população faz coisas extraordinárias. O dinheiro gasto com artistas e espectáculos é muito bem empregue”, afirma. Gosta de participar na festa e ajuda a enfeitar a sua rua. “Já ganhámos o prémio da rua mais bem enfeitada e este ano, mesmo que não voltemos a ganhar, tenho a certeza que vai ser uma rua sempre em festa e com petiscos para receber bem os amigos”. Sónia Félix, cabeleireira, PombalinhoSe as coisas estão mal o que faz falta é arregaçar as mangas Sónia Félix é natural e vive no Pombalinho, mas tem o seu salão na Azinhaga há dez anos. Tem visto crescer a terra e garante que os valores tradicionais nunca se perderam. “As pessoas continuam muito ligadas à Azinhaga, mesmo quando vão trabalhar para fora”, testemunha. Quanto à crise diz que por aqueles lados encontra resistência. “As pessoas daqui não ficam a carpir-se. Arregaçam as mangas e trabalham mais”. A questão da elevação a vila é assunto secundário. Para ela a Festa do Bodo é um prémio que a população dá a si própria e a quem visita a aldeia. “É uma festa bonita e diferente. Uma festa do povo, onde toda a gente tem uma maior ou menor participação”, diz.Rui Maltez, empresário de hotelaria, AzinhagaA Festa do Bodo é uma festa do povo“Somos uma grande aldeia, no tamanho, na união das pessoas e no amor que todos dedicamos à terra. Não precisamos de ser vila para dar lições de vida a muita gente de grandes vilas e cidades”, diz Rui Maltez. E acrescenta. “Ao longo dos anos a Azinhaga tem mantido algumas características muito próprias. As pessoas são muito bairristas e têm um cuidado muito grande em manter a aldeia bonita. Entusiasta da Festa do Bodo é, como muitos outros, mordomo e por isso acha que o programa da festa não é exagerado. “É uma festa para a qual todos contribuem e só se faz de quatro em quatro anos, por isso merece um programa com classe. Serve para nos divertirmos e para mostrarmos aos nossos vizinhos que somos uma terra bem viva”. Compete-lhe pagar a roupa que vai ser usada por uma das jovens que transporta um dos tabuleiros . “Ajudo naquilo que posso, com o meu trabalho e com a disponibilidade”.Clarisse Nunes, funcionária pública, AzinhagaVou participar no cortejo levando um tabuleiroA jovem Clarisse Nunes já tem prontos os três vestidos que vai usar nos desfiles. “O azul para ir recolher os tabuleiros a casa dos mordomos (padrinhos) no primeiro dia da festa, o rosa para o desfile do segundo dia e o branco para fazer a distribuição do pão e da carne no domingo”. Confessa que está ansiosa para que a festa comece. Para ela não interessa o facto de a Azinhaga ser aldeia. “Isso é apenas uma designação. Temos tudo o que é necessário, vivemos em harmonia e sossegados. A união entre as pessoas é muito forte e daí termos uma festa diferente das que se fazem em todo o Ribatejo”. Nunca lhe passou pela cabeça que as pessoas pudessem acreditar que o facto da festa ter um naipe de artistas de grande nome fosse um estragar de dinheiro. Lembra que o seu entusiasmo é o de toda a gente. “Dá gosto ver a minha mãe e outras pessoas de mais idade entregarem-se com amor à feitura de flores e ornamentos para enfeitarem as suas ruas. É bonito”, garante.

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