Uma semana ou duas era o tempo que antigamente o pão preparado e cozido em casa costumava aguentar. Para aproveitar o pão duro os trabalhadores do campo esfregavam-no com sal e alho, ensopavam-no em azeite e depois levavam a torrar numa fogueira. A receita ganhou o nome de “torricado” e tornou-se um dos pratos típicos da região do Ribatejo. Jorginho Pinheiro, 71 anos, vai aproximando do ouvido as fatias de pão que estão a torrar na Praça do Município de Azambuja, no primeiro dia da feira de Maio, quinta-feira, 26. Se o azeite chiar é porque o torricado está pronto. “Os meus pais eram do campo e por isso cresci a comer o torricado. Hoje tentamos ensinar os mais novos para que esta tradição não se perca”, conta António Cachado, 66 anos, que vai ajudando Jorginho a virar o pão. Não falta o vinho a acompanhar os azambujenses que vão aparecendo e gabam o torricado preparado pelos Toureiros da Porta do Isaac. O nome da tertúlia é explicado pelo próprio Isaac Lopes que também se juntou ao grupo. “Os meus pais tinham uma casa na rua Cândido Abreu. Eu e um grupo de amigos começamos a esperar os toiros à porta da minha casa. Temos um fogareiro que ainda tem as marcas das marradinhas que os toiros davam”. António Cachado recorda-se animado dos 20 que conseguiam fugir para dentro de casa e dos outros 10 que ficavam à porta do Isaac. A casa passou para as mãos de outros donos e agora o grupo reúne-se num cantinho ao lado da antiga escola primária de Azambuja. É lá que assam febras nos dias de feira. Já não têm uma porta que dê para a rua onde são largados os toiros mas a festa faz-se na mesma entre o grupo de amigos de longa data. Eduarda Sousa