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O dirigente associativo que podia ter sido militar, ciclista ou toureiro

O dirigente associativo que podia ter sido militar, ciclista ou toureiro

Faustino da Mata, presidente da Sociedade Filarmónica Cartaxense desde 1996, é natural do concelho vizinho de Azambuja
Faustino da Mata é um dos mais reconhecidos dirigentes associativos do concelho do Cartaxo. Presidente da Sociedade Filarmónica Cartaxense (SFC) há vários mandatos, ajudou a transformar a colectividade numa das mais dinâmicas do concelho, com 27 secções e a envolver cerca de mil pessoas entre alunos, professores, dirigentes e associados. A construção da sede, no centro da cidade, foi uma das principais conquistas como dirigente deste homem nascido em Aveiras de Cima, no concelho de Azambuja, há 71 anos mas há quase meio século a viver no Cartaxo, cidade de que fala com visível paixão.Faustino da Mata foi o protagonista das Conversas da Taberna, promovidas mensalmente na taberna do Museu Rural e do Vinho do Concelho do Cartaxo, ao lado de um copo de tinto, no qual o convidado nem sequer tocou, por opção.Diz não esquecer a terra natal, mas também não põe de lado o seu Cartaxo. Na SFC é dirigente desde 1985 e presidente há 15 anos. Trabalha na associação, faz de professor, de director e participa em diversas actividades. “Toquei cavaquinho de oito cordas, já fiz parte do grupo coral e toco acordeão e harmónica”, recorda. O maestro José Santos Rosa passou pela casa e um dia Faustino da Mata escreveu a letra de uma música que o maestro compôs e que viria a ficar registada como “Cartaxo ó minha terra”.O presidente da SFC aposentou-se como empresário. Foi proprietário de uma empresa de transportes de mercadorias que comprou quando regressou da experiência de três anos como emigrante na Alemanha. Tinha-se dado o 25 de Abril de 1974 e Faustino da Mata, então já casado, resolveu regressar. O futuro profissional fê-lo seguir a vida de empresário por sempre ter querido gerir o seu próprio negócio. Mas admite que ao longo da vida perdeu algumas oportunidades que teve para se destacar. Com 19 anos assentou praça como voluntário na Força Aérea e fez o curso de telecomunicações de controlador aéreo, onde teve o prazer de falar com o general Humberto Delgado na sua última viagem de avião pelo país, antes de ser assassinado em Espanha. Podia ter seguido a vida militar, após sete anos de serviço, mas não o fez. “Hoje podia ser um oficial mas na altura quis regressar às origens”, comenta.Ciclista e peão de bregaCiclista amador, participou em corridas pela região e chegou a receber convite para integrar a equipa do Sporting. Apesar de até ser o seu clube de coração, voltou a não aceitar a proposta. Confessa que o gosto pelos bailaricos e pelo gozo da vida durante a juventude o fizeram tomar essas decisões.Faustino da Mata casou com 25 anos e apostou num negócio de transportes mas o roubo da viatura da empresa que tinha comprado “atropelou-lhe” o projecto. Acabou por trabalhar por conta de toureiros a transportar os cavalos. “Trabalhei para Carlos Empis, José Mestre Baptista, Sommer Andrade, Luís Miguel da Veiga e Fernando Salgueiro. Tive oportunidade até de ser peão de brega, como numa corrida em Coruche em que colaborei com o Manuel Badajoz”, recorda, admitindo que também o sonho de ser toureiro não se concretizou.Trabalhou sete anos numa casa agrícola do Cartaxo onde dirigiu seis grandes ranchos mas continuava a não visionar ali o seu futuro. Na Alemanha trabalhou numa fábrica de cablagens onde subiu profissionalmente ao longo de três anos. Sem falar alemão e com algumas noções de inglês, foi com um holandês que se deu melhor dentro da unidade. A aventura valeu-lhe a capacidade de investir no seu próprio negócio no regresso a Portugal. Com 71 anos, casado e com três filhos e cinco netos, com mais de duas décadas de dirigismo no corpo, Faustino da Mata diz que não sente que o seu trabalho acabe por aqui mas também apela a que apareçam novos dirigentes que o possam vir a suceder e que ajudem a suportar os tempos difíceis que se avizinham também para o associativismo.Jovem namoradeiro que se perdia pelas meninas bonitas Faustino da Mata confessa que sempre foi namoradeiro e que até tinha planos para só casar aos 35 anos e poder aproveitar a vida. A morte da mãe aos 24 anos fez com que pensasse de forma diferente e acabou por casar aos 25 anos. Os bailaricos foram a sua perdição durante a juventude e com 15, 16 e 17 anos percorreu toda a região sempre disposto a ir buscar para dançar a carinha laroca que mais chamasse atenção.“Gostava de me vestir a rigor e de dançar com a menina mais bonita que estivesse na sala. Sempre pedi namoro a raparigas e nunca tinha coragem de acabar namoro com elas”, referiu Faustino da Mata, esclarecendo que os namoros eram um de cada vez, ou pelo menos quase todos. “Cheguei uma vez a ter o namoro de duas raparigas porque não consegui acabar com uma delas e gostava da outra. Quando já era casado a minha mulher chegou a responder a cartas de meninas que me escreviam para casa a pedir namoro. Já tem mulher, respondia ela”, recorda Faustino da Mata com uma risada.Os episódios de Faustino da Mata relativos aos bailes são aqueles em que mais facilmente aviva a memória e esboça um sorriso. Estreou um fato com racha atrás em Cheganças, Alenquer. Viu lá uma rapariga muito engraçada e foi buscá-la para dançar. “Havia um rapaz que a convidava e ela recusava. No final de nós dançarmos o rapaz e mais alguns homens de várias idades rodearam-me. Ainda pensei em dar um sopapo num e desatar a correr para a bicicleta mas o tio da menina apareceu lá, sacou de um navalhão e disse que tratava de quem me atacasse. Nessa altura fiquei quietinho”, descreveu Faustino da Mata. O dirigente reconhece que tinha uma técnica que o fazia ser bem sucedido. “Quando as meninas dançavam e íamos falando e elas ficavam coradas e trémulas, eu agarrava as mãos com força”, lembra com uma sonora gargalhada.
O dirigente associativo que podia ter sido militar, ciclista ou toureiro

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