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Uma Europa com dignidade mínima

Paulo Fonseca*

Esta “coisa” a que chamamos Europa e que se constituiu no nosso sonho colectivo, dos portugueses e de todos os restantes 26 povos, precisa de parar para pensar, encontrar os diálogos da fundamental articulação entre si, garantir uma unidade coesa dos seus líderes políticos e definir o seu (nosso) caminho colectivo de uma vez por todas.Basta pensar que na sua ansiosa ingenuidade - na minha terra chama-se burrice - a “coisa” mais não tem feito do que afugentar os recursos financeiros numa doentia e galopante perseguição ao dinheiro. Já escrevi sobre isto. O dinheiro foi “corrido” daqui para o BRIC e para países emergentes da vizinhança geográfica, que não de estratégia, como a Turquia ou a velha e esperta Suiça...e agora são os Europeus, quer dizer, os “coisos” que padecem na sua alma empedernida, à procura de cêntimos que lhes permitam alimentar os filhos.A crise existiu, sim senhor, a partir dos EUA, alastrou sob batutas da intelligentzia liberal e fixou-se na velha e ingénua Europa, como lapa em rocha decadente,... e ausente. Entretanto a crise passou nos locais onde está hoje o dinheiro dos Europeus mas agrava-se na terra dos Europeus.É como aquela história de uma família de Lisboa que recebe a dramática notícia de um grave acidente de viação com o seu filho, no Porto, e que logo conclui : precisamos de pagar o automóvel destruído e a operação do rapaz...daí “pensam” : só há uma solução. Para começar a poupar, ele não se opera no imediato e vem a pé para Lisboa para poupar no transporte. É a única maneira de poder pagar a reparação do automóvel e, quando houver disponibilidade, logo fará a operação no Hospital.A “coisa” está assim, de facto. Como esta família.E esquece-se do mais elementar. A primeira obrigação, num tempo de dificuldade é, sem dúvida, garantir a dignidade mínima a todos os cidadãos, impor regras rigorosas para o futuro mas desenhar o caminho do equilíbrio social, exigir o cumprimento de todos os deveres, A TODOS, mas permitir que todos tenham oportunidade de dar comida aos seus filhos. Esta é a primeira de todas as obrigações de um país ou da União Europeia. E se o tempo é difícil, não basta mergulhar, alienados, na fossa dos rácios, apertando cada cidadão até ao tutano - é preciso, se preciso for, alargar os rácios por forma a permitir aos Humanos viverem. Sob regras apertadas e que responsabilizem. Mas com oportunidade de viver. Com dignidade mínima.Se a decisão for aumentar cada tarifa para responder a cada dificuldade, aumentar cada taxa por cada rácio não cumprido, reprimir a apertar com os cidadãos, e com as empresas, até à morte para garantir que se cumprem os rácios definidos na alienação da “coisa”, só tem uma conclusão óbvia : nenhum rácio será cumprido pela simples razão de que os potenciais contribuintes rebentarão muito antes. E com uma decorrente consequência : agrava-se uma crise social em cima de uma crise financeira e regredimos muitos degraus nesta escada da sobrevivência colectiva.« As agências de rating não estão a dormir e sabem o que fazem». Porque eles sabem muito bem que este caminho é o caminho do suicídio colectivo. Seja com Passos Coelho ou fosse com Sócrates à frente de um país pequeno e pouco influente, numa esfera de estúpida e engravatada galhardia dos novos mangas de alpaca da aritmética como se define a intelligentzia da “coisa”. As agências de rating sabem muito bem que, numa primeira fase - no curto prazo - os números das contas públicas de Portugal, da Grécia, de Espanha, da Irlanda, da Dinamarca, etc, vão melhorar porque cada estado vai encaixar mais (leia-se dinheiro). Mas que todo um Povo de Portugal e da Europa vai rebentar sem retorno... e vai passar ao estatuto de cadastrado perante o fisco, a segurança social e os bancos e, pior, ao estatuto de cadastrado, na esfera do Código Penal, porque tudo fará para matar a fome aos seus filhos...E as agências de rating sabem muito bem que são, cada vez maiores, as probabilidades de nenhum rácio ser cumprido no dia em que as pessoas e as empresas deixarem de poder responder a tanto, tanto, tanto, aperto...* Presidente da Câmara Municipal de Ourém

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