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Quem leva o tabuleiro pela primeira vez promete sempre repetir

Quem leva o tabuleiro pela primeira vez promete sempre repetir

A Festa dos Tabuleiros em Tomar foi vista por milhares de pessoas no último domingo. Fomos saber como um casal estreante nestas andanças viveu a experiência.

Às duas da tarde já o penteado entraçado de Maria João Alves, 28 anos, dava nas vistas na Mata Nacional dos Sete Montes, em Tomar, por entre as centenas de tabuleiros que ali estiveram em exposição. Tomarense de gema, há quatro anos uma oportunidade de trabalho demoveu-a de participar na festa em honra do Espírito Santo. Este ano não quis faltar à chamada e levou o namorado, João Simões, 27 anos, para juntos viverem o espírito da festa “por dentro”. Formam o par que leva o tabuleiro n.º 8 da Junta de Freguesia de São João Baptista. Um tabuleiro onde se destaca o verde e amarelo, e alto, como Maria João que o carrega. Às quatro em ponto, um foguete anuncia que se devem posicionar. O segundo é mesmo como ordem de partida. É neste momento que os nervos afloram, tal como acontece com a maioria das mulheres e raparigas que têm uma missão igual: percorrer cinco quilómetros com um tabuleiro à cabeça sem se desequilibrar não é pêra doce. Isto tudo contra o vento, um batalhão de jornalistas, muitos polícias, aguadeiros, elementos da comissão central e o assédio normal do público que é sentido a cada paragem não programada. De manhã, pelas 10h00, enquanto uns visitavam as ruas ornamentadas, já havia quem ocupasse lugar em algumas das principais artérias da cidade. Sentados em bancos desdobráveis, vendidos a dois euros e meio, turistas, vindos de todo o país, queriam garantir que nada lhes tapava a vista dali a algumas horas. A organização estima que tenham estado em Tomar cerca de 400 mil pessoas. Ao todo, foram 704 tabuleiros transportados à cabeça de outras tantas mulheres acompanhadas pelo seu par, vindos de uma das 16 freguesias que à frente já tinham apresentado as suas coroas e pendões do Espírito Santo. Na dianteira, a banda da Sociedade Filarmónica Nabantina anima as hostes. Tarefa repetida pelos gaiteiros de Carregueiros ou pela banda da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais. “Menina, quanto pesa o seu tabuleiro?”“Menina, quanto pesa o seu tabuleiro?”, perguntam a Maria João, na Av. Cândido Madureira, com poucos minutos de marcha bem ritmada. Responde e devolve com o sorriso as palmas que recebe. Haveria de se emocionar caso desfilasse do lado direito, onde um grupo da assistência grita a pulmões: “Vivam as Mulheres! Vivam as Mulheres! Viva Tomar”. A temperatura amena e o vento fraco ajuda a que tudo decorra com normalidade até à Praça da República onde vão cumprimentar, numa tribuna montada em frente aos Paços do Concelho, o primeiro-ministro, Passos Coelho e também o ministro dos Assuntos Parlamentares e presidente da Assembleia Municipal de Tomar, Miguel Relvas. “Lindo!”, exclama o primeiro-ministro, à passagem de Maria João e João Simões. Segue-se o momento mais importante da Festa, a benção dos Tabuleiros, pelo bispo de Santarém, D. Manuel Pelino Domingues, acompanhado pelo pároco de Tomar, Mário Duarte.Os pares voltam a subir a Rua Serpa Pinto, pelas 17h30, para desfilarem durante cerca de mais duas horas. Os bois, vindos de Arganil, e que vão fazer a distribuição do bodo no dia seguinte, encerram a parada. Percorridas as duas primeiras etapas, o sorriso na cara de Maria João evidencia o seu estado de espírito. Até agora, o par só teve que a ajudar uma vez quando sentiu o tabuleiro em desequilibro. Mas levou-o sempre à cabeça. “Viva Tomar”, “A vossa Festa é linda”, “Parabéns pelo vosso trabalho”, grita o público à passagem do cortejo. São muitos meses de trabalho que culminam neste dia. De véspera e nessa manhã, os visitantes puderam visitar as ruas ornamentadas, a maioria das quais concentrada no centro histórico. Cada uma com milhares de flores de papel e simbolizando um tema que foi escolha dos moradores e comerciantes dessa rua.Os tabuleiros, esses, ficaram prontos uma semana antes do desfile. Maria João vai comprar o dela para recordação. Mesmo que algum pão se tenha esfarelado e “chovido” à sua frente, na Alameda Um de Março, a zona mais ventosa da cidade. “Foi a parte mais complicada por causa do vento mas, de resto, foi cinco estrelas. Daqui a quatro anos cá estarei”, diz, visivelmente cansada mas feliz por ter vivido “por dentro” uma festa que conhece desde pequenina.
Quem leva o tabuleiro pela primeira vez promete sempre repetir

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