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Carlos Henriques

Carlos Henriques

38 anos, empresário, Póvoa de Santarém

Carlos Henriques, 38 anos, empresário do El Galego, em Santarém, começou a trabalhar aos 15 anos no talho do mercado da cidade. Criou porcos, foi vendedor da Panrico e hoje gere sete estabelecimentos e 60 colaboradores. A esposa, mãe dos seus três filhos, é desde o início o seu braço direito. Vivem na Póvoa de Santarém, onde nasceram e onde abriram o primeiro talho que ainda existe.

O meu símbolo sempre foi um porco e como sou sonhador arranjei-lhe umas asas. Esse é o slogan do El Galego que representa um pouco a minha história de vida. É também uma alusão a familiares meus oriundos de Espanha. A Póvoa de Santarém já chegou a ser conhecida como a “Póvoa dos Galegos”.Aos 15 anos fui aprender a cortar carne para o talho do mercado de Santarém. Tinha que levantar-me às cinco da manhã para atravessar a cidade a pé. Na altura os meus pais tinham o mini mercado “Andaluz” ao pé das piscinas velhas de Santarém. Tínhamos casa na Póvoa de Santarém, de onde éramos, mas o meu pai tinha na cidade um apartamento onde ficávamos durante a semana.As facas eram amoladas com o suor da testa. Quando se estava a aprender uma profissão fazia-se o trabalho mais duro. Raspava chispes, amanhava mãos de vaca, preparava dobradas, ajudava a temperar carne e fazia chouriços. Foi uma boa escola. Às seis da manhã as pessoas já estavam às compras. Chegávamos mais cedo para preparar a montra. Mais tarde fui convidado para trabalhar na cooperativa e depois num hipermercado. A minha infância passou muito depressa. Comecei cedo a andar com o meu pai no comércio e na agricultura. Nas férias, quando o meu pai fazia obras, tínhamos que ajudar os pedreiros. A minha irmã e o meu irmão também. Quis ir trabalhar para ter a minha independência. Prometi aos meus pais que ia estudar à noite mas não consegui. Ainda me inscrevi mas com o frio acabei por desistir. Fiquei com o nono ano. Com o meu primeiro ordenado comprei uma porca. Pariu e fui ficando com mais animais. Comecei aos 16 anos a criar porcos. Tinha-os num barracão velho num terreno do meu avô que me ajudou muito. Dava-lhes a farinha. Eu ia lá ao fim de semana. Levava as porcas ao porco, ajudava-as a parir e dava-lhes injecções, coisas que o meu avô preferia não fazer. Como estava no talho havia quem me pedisse carne. Todos os fins de semana matava um ou dois porcos. Arranjava-os e vendia a carne. Muita gente me abordava. Foi aí que tudo começou. Quando fui para a tropa depositei cinco mil contos (25 cinco mil euros) a juros no banco. Nunca tive tanto dinheiro. Sempre fui poupado mas gastava dinheiro em roupas. Sempre gostei de ter coisas boas. Passava a vida a trabalhar e era uma compensação. Abri o primeiro talho num barracão velho no cruzamento da Póvoa de Santarém aos 22 anos. O meu pai tinha dado um curso à minha irmã e disse para fazer do espaço o que quisesse. Antes de casar eu e a minha esposa fizemos a primeira sociedade. Investi o dinheiro que tinha ganho com a venda dos porcos. Ela ajudou-me com algumas economias dela. Ela à caixa e eu no atendimento. Passado um ano casámos.Em vez de comprar um apartamento para casar comprei outro talho que tinha habitação por cima. Fomos morar para o Verdelho e abrimos o segundo talho. Acabei por conquistar a clientela da zona. Já trabalhávamos juntos e sentíamos a necessidade de não nos separar ao final do dia. O dinheiro da casa rentabilizava-se. A minha mulher foi obrigada a aprender a cortar carne e hoje sabe tanto ou mais que eu.Eu e a minha esposa sempre ouvimos a mesma música. Estamos juntos há mais de vinte anos. Compreendemo-nos e gostamos das mesmas coisas. Se a minha mulher não estudou até foi um pouco por minha causa. Começou a acompanhar-me desde cedo. Chegou a faltar às aulas para me ajudar. Fui vendedor da Panrico e o que ela queria era andar a vender comigo. Temos três filhos e construímos casa na Póvoa onde continuamos a morar. As férias têm ficado para trás mas melhores tempos virão. Ando a prometer à família que vamos tirar uns dias. Tenho mais facilidade durante a semana que ao fim de semana. Não estou muito tempo com a família mas acho que eles sentem que estou perto. Ando um pouco chateado comigo porque passei a levantar-me mais tarde. Alterei a rotina porque também me tenho deitado mais tarde. Já decidi que quero mudar. Sempre me levantei muito cedo e acho que cedo é que deve começar o dia. A minha palavra vale mais do que tudo. Sou impulsivo e quando entro nas coisas entro a sério. Se me comprometo com um objectivo não sou capaz de desligar porque quero cumprir e fazer bem feito. Nos tempos livres jogo futebol. Devia ler mais mas sou preguiçoso. À noite estou cansado e acaba por me dar o sono. Leio sobretudo suplementos económicos. As tragédias não me despertam a atenção. Ana Santiago
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