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O cemitério como ponto de interesse turístico

O cemitério como ponto de interesse turístico

Cristina Marques quer fazer visitas guiadas a turistas no cemitério que se encontra junto à Igreja de Santa Maria do Olival, considerando-o um “museu ao ar livre”.

Não lhe perguntem porquê mas desde muito pequena que Cristina Marques, 50 anos, natural de Tomar, é fascinada por tudo o que diz respeito ao ritual da morte. Por este motivo quando há três anos entrou, através do programa Maiores de 23, no curso de Gestão Turística e Cultural na Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) sabia que o seu projecto integrado seria sobre a temática do turismo cemiterial. As estatísticas indicam que cada vez há mais turistas que procuram em Portugal “a cultura da cidade morta”, visitando cemitérios para conhecer a história. A aluna apresentou o projecto perante um júri de professores na passada semana e teve 17 valores. Mais do que uma boa nota, o que pretendia era torná-lo uma realidade, realizando visitas guiadas para turistas ao cemitério junto à Igreja de Santa Maria do Olival, no centro da cidade. Durante vários meses, Cristina Marques estudou todos os cantos e recantos do cemitério considerando que muitos turistas que visitam este templo são atraídos pela estatuária que se vislumbra através dos muros do cemitério mas não encontram nenhuma informação sobre o mesmo. Esta informação foi-lhe prestada pelos guardas do cemitério que confirmaram que muitos turistas ali entram diariamente, nomeadamente asiáticos e espanhóis, atraídos por algo que não estão habituados. “Através do cemitério conseguimos perceber o que é esta localidade pois ali estão sepultadas algumas das pessoas que mais contribuíram para a história contemporânea da cidade”, complementa. No cemitério de Santa Maria do Olival, por exemplo, podem ser encontrados jazigos de importantes famílias tomarenses que Cristina Marques se foi inteirar junto dos anais para poder explicar quem são a quem visita. Neste momento, as visitas são gratuitas, bastando aos interessados inscreverem-se no site http://sites.googles.com/site/cemiteriosantamariadoolival/home.Para além de dar a conhecer o património histórico e museológico da cidade de Tomar, o objectivo deste projecto passa também por desmistificar a temática dos cemitérios, atribuindo-lhes um valor social, cultural e pedagógico. “Quanto melhor compreendermos a morte, melhor compreenderemos a vida”. Cristina Marques cita Antero de Quental, em memória a uma sua prima que ali está sepultada. A aluna elaborou ainda um “flyer” com a planta deste cemitério, que começou a ser construído em 1840, onde estão assinalados os pontos mais interessantes a visitar como elementos de arquitectura fúnebre, estatuária, símbolos maçónicos, arte do ferro e até onde estão sepultadas pessoas que contribuíram para a história contemporânea de Tomar. “Um museu ao ar livre”“Tudo no cemitério tem uma simbologia porque há pessoas que planeiam a morte em vida. No fundo, estamos perante um museu ao ar livre. Por exemplo, existe uma campa muito bonita, que está coberta de hera, uma planta que nunca morre a que dei o nome de monumento verde. Provavelmente foi desejo da pessoa que ali está sepultada”, aponta. Contrariamente à grande maioria das pessoas, Cristina Marques enfrenta o tema da morte com naturalidade, gostando de visitar cemitérios sempre que se desloca a outras localidades. “Acho que é um lugar óptimo para reflectir e para interiorizar emoções. E, sobretudo, quando se interpreta a simbologia deste local a pessoa vai gostar e quer voltar”, defende. Na mini-visita guiada que fez com O MIRANTE pelo cemitério de Santa Maria do Olival, foi patente o entusiasmo com que descrevia cada túmulo ou com que pretendia mostrar este ou aquele aspecto mais recôndito como, por exemplo, o pano envelhecido que cobriu determinado caixão ou a mensagem gravada num epitáfio. “Este curso é um sonho e penso que o turismo é a base da economia nacional. Se fosse mais bem elaborado teria muito mais potencial. Turismo cemiterial é já uma prática na Europa e poderia ser uma mais-valia para a cidade, diferente de tudo o que existe”, considera, apelando aos céus para que as entidades competentes peguem na sua ideia.
O cemitério como ponto de interesse turístico

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