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Estudantes ajudam a desenterrar cidade romana

Estudantes ajudam a desenterrar cidade romana

Escavações arqueológicas no Monte dos Castelinhos em Castanheira do Ribatejo decorrem há quatro anos

Os arqueólogos dizem que é o campo arqueológico mais importante do concelho de Vila Franca de Xira. Existem profissionais que o visitam por curiosidade. Outros por amor à história que encerra. O Monte dos Castelinhos, em Castanheira do Ribatejo, guarda os vestígios de uma cidade romana que aos poucos vão sendo desenterrados.

É no alto do Monte dos Castelinhos, na Castanheira do Ribatejo, que se encontra o maior e mais importante campo arqueológico do concelho de Vila Franca de Xira, um local que não pára de surpreender os amantes da história e os alunos da Faculdade de Letras de Lisboa que colaboram nas escavações. Com vassouras e pás os jovens desenterram, lentamente, uma cidade romana, datada do século I antes de Cristo, que terá sido abandonada pouco depois da construção e permanece enterrada no monte. O trabalho exige paciência e atenção permanente. Aos poucos vai-se retirando a terra e fazendo-se descobertas. Já foram encontrados fragmentos de osso, tijolos, pesos de tear, cerâmica doméstica, aplicações em bronze e um escudo de combate. “Faltam as moedas mas elas ainda vão aparecer”, dizem os alunos com um sorriso. Para se chegar ao local das escavações é preciso ir de automóvel e ainda percorrer um troço a pé por um carreiro onde ninguém suspeitava vir a encontrar algo tão importante.“Estamos perante uma cidade que se estenderá por uma área de 10 hectares. Esta é uma quinta privada e os proprietários acharam que isto poderia ter interesse. Depois de analisarmos começámos a escavar e a destapar a cidade”, conta a O MIRANTE o arqueólogo João Pimenta. “O que temos descoberto aqui tem colocado em causa tudo o que tem sido escrito sobre o início do processo de romanização no Vale do Tejo. O que temos aqui são duas grandes habitações do tempo de Júlio César (líder militar e político romano que com as suas conquistas estendeu o domínio romano até ao oceano Atlântico)” explica o arqueólogo. “Foram construídas com esquemas ortogonais e em patamares escavados nos níveis geológicos”, acrescenta. Do que já veio à luz do dia, é possível aos especialistas dizerem que as habitações tinham “algum requinte, com paredes estucadas e telhados de telha”. O que atesta que quem morava na cidade eram romanos. “Aqui abundam os materiais de armamento itálico, que indicam que houve conflitos bélicos neste local, o que nos leva a colocar a hipótese de estarmos perante um acampamento romano da fase de conflitos entre Júlio César e Cneu Pompeu. Outra hipótese é estarmos perante a cidade clássica que vem referenciada na história e que existiria entre Lisboa e Santarém. É isso que estamos a escavar para perceber”, refere João Pimenta. “Este campo vai ser uma surpresa para muita gente”Fruto de um protocolo celebrado entre a Câmara de Vila Franca de Xira e a Faculdade de Letras de Lisboa, os alunos dos cursos de história podem inscrever-se nas aulas de campo e trabalharem no Monte dos Castelinhos. Cátia Saque, 21 anos, escolheu o campo arqueológico de Vila Franca por mera curiosidade. “Um dos professores fez uma apresentação sobre este local e resolvi inscrever-me. Estou a adorar a experiência e sinto que podemos descobrir mais coisas aqui”, refere a O MIRANTE. Outro aluno da faculdade, Fábio Soares, delimita um muro que acabou de ser descoberto. “Estamos a tirar muitos fragmentos tipicamente romanos”, diz o jovem cujo sonho era trabalhar em escavações no México.O vereador com o pelouro da Cultura na Câmara de Vila Franca, João de Carvalho, explica que a colaboração da faculdade é uma mais-valia para as duas partes e apela ao surgimento de mecenas que ajudem a que as escavações possam prosseguir. “Todos lucramos. É uma forma dos alunos terem um envolvimento directo com as escavações num local próximo de Lisboa e a câmara ganha porque assim fica a saber mais sobre a nossa história”, sublinha. João de Carvalho acredita que “este campo vai ser uma surpresa para muita gente daqui a algum tempo” e espera que a área venha a ser promovida em termos de turismo cultural. As primeiras escavações no local começaram há quase quatro anos.
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