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“O fado é o meu destino”

“O fado é o meu destino”

Célia Leiria apresenta domingo o seu primeiro CD em Santarém, concelho de onde é natural

Há dez anos que vive em exclusivo do fado mas só agora decidiu lançar o primeiro CD. “Caminhos” é uma edição de autor com 13 temas que vai ser lançado este domingo no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém. O espectáculo esgotou por isso Célia Leiria vai actuar novamente na noite de segunda-feira no mesmo local. Lamenta que as editoras portuguesas não apostem em fadistas portugueses menos conhecidos do grande público.

A fadista de 32 anos começou a cantar aos quatro pela mão do pai e do avô que a levavam às casas de fado da região. Depois de uma ‘zanga’ com o fado aos nove anos abraçou a paixão aos 14 anos e nunca mais a largou. Numa altura em que o fado foi consagrado como património da humanidade, a fadista escalabitana trilha o caminho para integrar a galeria dos homens e mulheres que fazem a história da canção portuguesa.Quando é que descobriu que tinha voz para ser cantora?O meu pai e o meu avô já cantavam e eu ia com eles às noites de fado aqui da região. Tinha quatro anos. Mais tarde, aos nove anos, aborreci-me com o fado, adormecia, achava chato e deixei de ir. Disse ao meu pai que não queria cantar.Quando é que fez as ‘pazes’ com o fado?Aos 14 anos pedi ao meu pai para ir a uma noite de fados com ele e pedi-lhe para cantar. Ele estranhou e perguntou-me se me lembrava de alguma letra. Eu respondi que sim e lá fui. Cantei “O Amor é Louco” e nunca mais deixei o fado.Porquê o fado?Não sei. Talvez por ter crescido no meio do fado amador. O fado representa bem aquilo que somos. Os sentimentos que vivemos no dia-a-dia são um fado. Costumo dizer que o fado é um sentimento. No fado conseguimos transmitir as nossas alegrias e tristezas. Nas casas de fados em Lisboa, os estrangeiros dizem que apesar de não perceberem o que estamos a dizer conseguem sentir a nossa forma de nos expressarmos ao cantarmos fado. É um tipo de música que não tem tradução e que cada um sente à sua maneira.Quando é que decidiu que queria ganhar a vida a cantar?A partir dos 14 anos fui cantando com regularidade pelas noites de fado que se realizavam na região. Entretanto conheci o fadista Carlos Zel numa noite de fados em casa da actriz Sílvia Rizzo, na Golegã, e ele convidou-me para o espectáculo “Quartas de Fado” no Casino Estoril. Foi a partir daí que decidi que queria fazer do fado o meu modo de vida.Foi um risco bem medido começar a viver só da música?Medi bem todas as minhas decisões mas este é um emprego inconstante. Hoje podemos ter trabalho e amanhã já não. Foi um risco que resolvi assumir. Umas vezes é fácil outras nem por isso.Vai lançar o seu primeiro CD - que será apresentado este domingo e segunda-feira no Teatro Sá da Bandeira em Santarém - que é uma edição de autor. Porquê?Há muitos fadistas que tiveram que editar os seus primeiros discos no estrangeiro. A Mariza, Cristina Branco, Celeste Rodrigues. As editoras portuguesas não apostam nos fadistas portugueses que estão a começar, que querem editar um disco e ainda não são conhecidos do grande público. Infelizmente acho que em Portugal funciona muito o factor ‘cunha’ para se conseguir que as produtoras apostem nos seus trabalhos e não pelo valor que as pessoas têm.Começou a sua carreira artística há uma década. Porquê só agora um trabalho discográfico?Se fosse para gravar por gravar já o tinha feito há uns anos, mas defendo que um disco é uma coisa que nos acompanha sempre e deve ser feito no momento certo. Tinha que ser algo mais maduro e com conhecimento fiel daquilo que queria.Ainda existe a ideia preconcebida que o fado é para os mais velhos?Acho que não. Há cada vez mais poetas e músicos que tentam escrever e compor de uma forma mais leve para agarrar as pessoas. A Ana Moura, a Carminho, Joana Amendoeira, por exemplo, têm lançado muitos temas que têm cativado a malta mais jovem.O fado tem conhecido nos últimos anos muitas caras novas que se tornaram protagonistas. O fado voltou a estar na moda?Talvez. Pelo menos fala-se mais e apareceram novas vozes jovens que conseguem ‘agarrar’ os jovens. E eles começam a achar giro. Felizmente há cada vez mais gente jovem, com valor, a começar a cantar o fado.O fado foi considerado, recentemente, pela Unesco Património Imaterial da Humanidade. Isso deve-se a esta nova geração de fadistas?Não. Esta consagração já vem de trás. Temos que agradecer a fadistas como Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Celeste Rodrigues, Maria Amélia Proença, Maria da Nazaré, entre outros, que trouxeram o legado do fado até aos nossos tempos.Esta distinção é importante para os fadistas?Acho que sim, sobretudo a nível mundial porque as pessoas vão começar a respeitar e a ouvir o fado de outra forma. As pessoas vão perceber que afinal o fado não é apenas uma cantiga de um povo e começa a ser mais representativo lá fora.Revê-se na atmosfera que caracteriza o fado?Sim. O fado é muito nosso e acho que só o povo português consegue sentir o fado como nós sentimos. Os estrangeiros sentem o que nós estamos a dizer mas nós, além de sentirmos, entendemos o poema e talvez por isso conseguimos senti-lo de forma mais forte.O fado é o seu destino?Tenho a certeza que sim. É o que quero fazer. Fiz um disco agora porque decidi estar na altura de registar o que tenho vindo a fazer nos últimos anos e também porque gosto daquilo que faço. Mas, infelizmente, neste meio acho que as pessoas andam numa de competição e eu não ando aqui para competir com ninguém.Teatro Sá da Bandeira lotado para receber a fadista de AlcanhõesHá dez anos que Célia Leiria deixou o seu emprego na área da publicidade para se dedicar em exclusivo ao fado, mas só uma década depois é que decide lançar o seu primeiro CD. Uma edição de autor, com 13 temas, que vai ser lançada este domingo, 11 de Dezembro, no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém. Como este concerto esgotou a fadista vai actuar novamente na noite seguinte, no mesmo local. Este é o primeiro espectáculo a solo “em casa”. A responsabilidade é por isso, confessa, maior. O nervosismo e a ansiedade já se faziam sentir no dia da entrevista com O MIRANTE, na semana passada. Decidiu avançar com uma edição de autor porque, diz, as editoras não apostam em fadistas, muito menos quando os rostos não aparecem com muita frequência na televisão.Célia Leiria nasceu a 8 de Fevereiro de 1979 em Alcanhões, concelho de Santarém. “Lisboa à Noite” é o nome do primeiro fado que cantou numa festa da sua vila natal. A paixão pelo fado começou bem cedo. Aos quatro anos acompanhava o pai às casas de fado da região. Os dotes artísticos vêm do pai e do avô que também gostam de cantar. Aos nove anos zangou-se com o fado mas voltou aos 14 anos para não mais parar.No início da carreira conseguia conciliar o fado com o emprego mas os convites começaram a surgir e Célia teve que optar. “Em 2001 tive um convite para cantar durante um mês no Luxemburgo e não podia estar de férias tanto tempo por isso decidi arriscar. Foi mais um risco assumido. Desde então que me dedico só ao fado”, conta.Este ano foi convidada para actuar em dois festivais internacionais, um na Bélgica e outro na Lituânia. Célia Leiria tem gostos variados. Além do fado, gosta de música brasileira e africana. Tina Turner e Céline Dion são duas das cantoras de referência. Tem dois irmãos DJ. Nos tempos livres gosta de ir ter com eles e dançar ao som das músicas que passam.
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