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Voltar aos bancos da escola para aprender, escrever a história de vida e conviver

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Centro de Novas Oportunidades Alves Redol certificou 70 alunos do ensino básico e secundário

O Centro de Novas Oportunidades Alves Redol, em Vila Franca de Xira, certificou este ano mais 70 alunos do ensino básico e secundário. Mais do que conseguir um diploma para tentar subir no emprego ou apresentar uma candidatura quem aproveita esta oportunidade quer acima de tudo enriquecer-se.

“Se acham que este processo é fácil experimentem o desafio de escrever sobre vós. Escrevam a vossa história mas sem omitir nada”. O mote foi dado por Joaquim José, 46 anos, durante a cerimónia de entrega dos diplomas no Centro de Novas Oportunidades Alves Redol, em Vila Franca de Xira, que decorreu ao final da tarde de terça-feira, 6 de Dezembro, na Secundária Alves Redol. Tem 46 anos, dois filhos e trabalha na área da publicidade no Carregado. Mora na Castanheira do Ribatejo mas a distância da sede de concelho não o impediu de deslocar-se à noite para Vila Franca para voltar à escola. Tinha o sexto ano e agora, dois anos depois, tem o 12º. O diploma não servirá para emoldurar ou colocar em local de destaque na sala. Joaquim José empenhou-se até ao limite sobretudo para se enriquecer.Aos 14 anos deixou a escola para trabalhar. Prometeu que concluiria os estudos à noite mas isso nunca aconteceu. O projecto foi sendo adiado ao longo da vida. “São projectos feitos naquelas idades em que se arranja sempre a desculpa de que é para o ano. Entretanto passam-se muitos anos e criamos projectos de família e a escola vai ficando para trás”, reconhece.Viu nas novas oportunidades e na flexibilidade horária o pretexto ideal para regressar à escola depois de um vazio. “Queria regressar e não me sentir frustrado”, explica. De qualquer forma recusa a ideia de facilitismo apesar de admitir que chegou a olhar o processo com cepticismo. Defende agora o processo com unhas e dentes. “Na Alves Redol este não é um processo fácil porque é feito com toda a seriedade. Os profissionais que aqui estão ensinam a sério e não facilitam”, garante.O amigo e patrão facilitou sempre a vida de Joaquim que passou a organizar o trabalho com a escola. Com os filhos de seis e onze anos partilhou os trabalhos de casa. Já era viciado na leitura mas o processo fê-lo escrever melhor. “O trabalho determinante foi escrever sobre mim, desenvolver a minha história de vida e lê-la, o que não é fácil”, descreve. A socialização foi outra das mais valias. Não pretende com o diploma subir no emprego, tão pouco candidatar-se a um lugar na administração pública mas não põe de lado a hipótese de prosseguir estudos na universidade na área de letras. Sente-se com as bases necessárias para iniciar uma vida académica mais ambiciosa.Maria do Rosário Pessoa, 43 anos, residente em Alenquer, não precisou sair do local de trabalho para frequentar o programa. A Atral Cipan foi parceira da Alves Redol e por isso os trabalhadores da empresa puderam frequentar as aulas na firma de forma mais cómodo.A técnica administrativa, que secretaria o director dos delegados de informação médica, trabalha na empresa há 15 anos. Quando era jovem deixou o 12º ano incompleto para ir trabalhar. “O meu pai era muito rígido e não me aumentava a mesada. Por isso pensei em ir trabalhar e acabei por deixar os estudos. Depois arrependi-me”, confessa. Não vai ter nenhuma benesse no trabalho e não pensa mudar de empresa mas já pensava em valorizar-se. Tinha já inscrição feita para o programa numa junta de freguesia. O tempo que roubou às filhas, de 16 e nove, foi bem aproveitado. Pesquisou sobre a agricultura, urbanismo, saúde mas também educação. “Abordámos a forma como fomos educados e a actualidade. Revivi certos momentos da minha infância. A minha mãe ia buscar-me à escola e estava todo o dia comigo. Hoje não é assim. Praticamente depositamos as crianças nas escolas”.“O processo de qualificação não pode parar”O presidente da Agência Nacional para a Qualificação, Gonçalo Xufre, residente no concelho de Vila Franca de Xira, reconheceu a importância de um programa que tem mobilizado muitos adultos e que é visto como um exemplo na Europa. “O processo de qualificação não pode parar”, garantiu. O processo, que já atingiu o pico em termos de participação, tem que dar o passo seguinte com a criação dos centros de aprendizagem ao longo da vida, defendeu. O presidente do Agrupamento de Escolas Alves Redol, Teodoro Roque, sublinhou que esta continua a ser a oportunidade para quem deixou o percurso escolar incompleto. No total receberam os diplomas 70 alunos, 19 do ensino básico e 51 do ensino secundário.
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