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Morreu um estafeta “património mundial”

Homenagem
Santarém perdeu mais um dos seus velhos oficiais, um estafeta de ofício com casa aberta no centro da cidade, numa ruela onde eu passo quase todos os dias. Foi depois da sua morte, que aconteceu no passado dia 18, que fiquei a conhecer melhor o Vítor da Silva, mais conhecido como o Vítor “Palito”. Éramos vista um do outro com regularidade mas nunca nos conhecemos de sentimentos. Tinha 72 anos e uma vida cheia de coisas boas e divertidas. Vítor da Silva tinha um trabalho que hoje já não se usa muito. Estafeta é cada vez mais um trabalho fora de moda. Mas ele era um homem orgulhoso do seu ofício. E, diz quem o conheceu melhor do que eu, o trabalho nunca impediu que fosse feliz. Aficionado dos quatro costados, santareno do coração, benfiquista ferrenho e um bom amante das mulheres. A melhor história que ouvi dele é a mais recente por se repetir com regularidade. Vítor da Silva ia quase todos os sábados ao mercado da cidade comprar um ramo de flores para oferecer à sua” Pantera”. Falamos da sua esposa pois claro. O Estafeta terá amado muitas mulheres ao longo da vida mas só uma foi a mulher da vida dele. E, com voz rebelde e sentimental, diz quem o conheceu muito bem, era com um sorriso largo que atravessava a cidade e dizia, para quem o conhecia e cumprimentava fazendo referência ao colorido do ramo: “aqui vão a flores para a minha pantera”.Dizem que o cemitério da cidade encheu-se de gente no dia do seu funeral. Há muito tempo que não se via uma coisa assim. O Vítor tinha lá toda a malta dos toiros porque ele era um aficionado a valer e para ser perfeito só lhe faltava no currículo uma pega de caras. Como era um benfiquista sofredor não lhe faltavam companheiros de conversa para chorarem as mágoas dos que teimam em ser benfiquistas embora já nada seja como dantes.A cidade de Santarém e a vida da cidade eram um livro aberto no pequeno espaço onde o Vítor trabalhava com vista para a calçada e, mais recentemente, para a porta de entrada do novo gabinete de massagens do António Mónica. Olhei lá para dentro mil vezes ao longo dos últimos 20 anos mas nunca entrei. Da rua via-se todo o espaço do velho escritório. Se púnhamos o pé no degrau da porta quase que ficávamos com os cotovelos no balcão da pequena oficina do Vítor Estafeta.Dizem alguns dos seus amigos que ele era a memória da cidade dos últimos 70 anos; que tinha um sorriso e uma alegria que faziam do centro histórico património mundial; diz o João Ventura, da Trifoto, vizinho do lado, que o Vítor era espectacular, e que não se perdoa o facto de só ter fotos dele das vezes em que vinha experimentar as máquinas à rua e lhe apontava a objectiva como quem diz “bom dia vizinho” e, depois do boneco tirado, “até logo vizinho”.Depois de ter deixado cair os olhos milhares de vezes na parede do fundo da oficina do Vítor “Palito”, enquanto passava na calçada da rua Eng. António Antunes Júnior, soube hoje, terça feira, dia 20 de Dezembro, que o Vítor “Estafeta” morreu e que a cidade de Santarém despediu-se dele com uma boa manifestação de pesar. Tarde e más horas lhe prestamos homenagem. Que descanse em paz.JAE

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