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Vivaz Serafim das Neves

Pensei que com a crise que por aí vai seria difícil aos partidos políticos arregimentar pessoal. Se o povo diz que quem vai para a política é porque quer tacho, era natural que agora que o dinheiro escasseia deixasse de haver interessados. Enganei-me redondamente. Enganei-me eu e enganou-se o povo. Mesmo com os cofres vazios há quem se chegue à frente e queira entrar na política. E para lugares elegíveis, como se diz habitualmente. A primeira conclusão a tirar é que, afinal, as pessoas não vão para a política para se servirem mas para servir. Eu sei que antes da crise já era assim e que as bocas do povo eram injustas só que agora a verdade veio ao de cima por causa da crise, por isso eu acordo todos os dias a murmurar bem-haja à crise.O senhor Moita Flores, por exemplo, quando foi candidato à Câmara de Santarém, disse que a mesma estava na falência. Antes dele o senhor Rui Barreiro disse exactamente o mesmo. E em quase todos os concelhos foi assim, excepto naqueles em que ganharam candidatos do mesmo partido dos que lá estavam antes. Em Alcanena a Fernanda Asseiceira disse que a câmara estava falida. Em Alpiarça o Mário Pereira disse que a câmara estava falida. E tinham razão. Mas mesmo assim lutaram bravamente para se atascarem naqueles pântanos de facturas por pagar. Patriotas até à medula. Cruzados da salvação financeira das autarquias que se esgadanham todos para conseguirem uma oportunidade de mostrarem o que valem. Miguel Relvas teve que deixar a gestão das empresas. Mário Pereira deixou de dar aulas em Trancoso. Abdicou do prazer de viajar semanalmente para uma terra linda e de discutir assuntos interessantes com hordas de adolescentes. Fernanda Asseiceira deixou o conforto da Assembleia da República e da cadeira de deputada. Quem se atreverá a dizer que esta boa gente ficou a ganhar??!!! Pois é. Quem ficou a ganhar foram os eleitores que neles votaram e que agora, num gesto de ingratidão inqualificável, os vilipendiam. Cambada de ingratos!!!E há uma legião de novos candidatos na grelha de partida para mais eleições. Pessoas que se acotovelam dentro dos nossos queridos partidos políticos. Militantes determinados a mostrar como é que se enxofra. Abençoado país que tal gente tem. Dirão alguns que no fundo do tacho ainda há uns restos de arroz queimado que dão para alimentar cento e cinquenta famílias africanas durante três gerações. Não acredites Serafim. Não acredites nessa ignomínia. Eu também gostava de ser salvador da Pátria. Se não fosse da Pátria de um simples concelho. De uma minúscula freguesia rural, eu sei lá. Gostava de ajudar a endireitar as finanças públicas. Sei que já estou a ajudar quando me esmifram a torto e a direito no IRS, no IMT, no IVA, eu sei lá... mas é muito pouco. Não dá para ficar na história. Não dá para receber condecoração que se veja no 10 de Junho...é nestas alturas que eu lamento não ter a arder dentro de mim a chama do patriotismo militante. Já imaginaste o que era, eu de olhos em bico frente às câmaras de televisão, a anunciar mais sacrifícios, Serafim??!! Ali firme e hirto, tromba feita a qualquer tomate ou ovo podre que me quisessem atirar...Um abraço sacrificado Manuel Serra d’Aire

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