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Agências funerárias modernizaram-se sem perder sentido de solidariedade e dignidade

Pessoas preparadas para dar as respostas adequadas numa altura de grande fragilidade emocional das famílias

Só quem nunca passou pela dor da perda de um familiar próximo é que não sabe a necessidade de ter a seu lado um agente funerário competente, solidário e de total confiança. Há famílias muito antigas que mantêm com as suas agências funerárias uma relação que ultrapassa em muito a mera relação profissional. E nas horas difíceis de perda é fundamental percebermos que a agência funerária contratada consegue sugerir e muitas vezes antecipar o que é necessário, respeitando-nos e não tirando provento da nossa fraqueza momentânea. Há algumas pessoas que tratam do seu próprio funeral ainda em vida e a maior parte das agências está preparada para isso. Mas se a hora da partida chega inesperadamente os agentes funerários estão preparados para cumprir a sua missão. Há quem tenha aprendido com os pais. Há quem tenha aprendido trabalhando com outros. E há cada vez mais acções de formação no ramo. Mas o fundamental são as qualidades humanas e ninguém consegue ter sucesso no sector se as não tiver. Funeral, burocracia, marcação de horas, publicação de avisos, informações sobre legislação, incluindo legislação sobre faltas, assistência a quem participa nos velórios, flores, ornamentos, etc, etc, etc. Os agentes funerários têm solução para tudo e quase todos estão também preparados para confortar quem sofre. É notória a eficácia, responsabilidade e alto grau de profissionalismo num sector em que o respeito por quem parte e por quem fica é factor essencial.

Sónia Freixo - Agência O Século - Samora Correia Há cada vez mais pessoas a tratar do seu próprio funeral enquanto estão vivasA seguir à família, os agentes funerários acabam por ser a segunda entidade onde se procura apoio no momento de enfrentar a morte de algum ente querido. A opinião é de Sónia Freixo, gerente da funerária O Século, localizada na Avenida O Século, em Samora Correia, concelho de Benavente. É preciso uma “determinada sensibilidade” para se estar à frente de uma agência funerária. “É um momento delicado, as pessoas estão muito fragilizadas e precisam de todo o apoio. Nós tentamos sempre ajudar”, conta Sónia Freixo, que tem de manter também algum distanciamento e sangue frio para conseguir prestar o serviço eficazmente. Hoje em dia, os dois irmãos e os pais que trabalham na empresa já aprenderam a lidar com a morte. “Noto que por vezes custa mais aos meus pais quando temos de tratar de um funeral de alguém muito jovem”, diz Sónia Freixo. Para além de toda a burocracia legal que é preciso tratar, tal como a cerimónia religiosa, a agência tem vindo a introduzir algumas novidades como o serviço de catering para as pessoas que passam a noite a velar o corpo nas casas mortuárias. “Sabe sempre bem terem um café para poderem tomar, dá algum conforto, especialmente quando está tudo fechado à noite”. Em Portugal, a tanatopraxia, ou seja o procedimento de preparação do cadáver para o velório para adiar a decomposição natural, não está ainda muito desenvolvida. “Existem algumas técnicas de preparação que já se vão aplicando em Portugal, mas ainda estamos longe do nível que já se atingiu noutros países, onde por exemplo, já é possível reconstituir um corpo desfigurado. Cá é um processo que acabaria por encarecer muito os serviços”, O que está a crescer é o número de pessoas que querem tratar do próprio funeral ainda em vida. “Os idosos em particular não querem sentir-se um fardo para as famílias que vivem cada vez com mais dificuldades e vêm tratar do próprio funeral”, nota Sónia Freixo. A agência estabelece um contrato e o funeral pode ser pago em mensalidades. Embora a maioria pense que este negócio não se ressente com a crise, já que as pessoas continuam a morrer, a gerente explica que não é bem assim. As maiores dificuldades prendem-se com o pagamento do funeral. Nascida em 2005, a agência O Século estão a ser gerida pelos dois irmãos e pelos pais. A agência O Século, nascida em 2005, realiza mais funerais no concelho de Benavente embora preste serviço em qualquer ponto do país. Carlos Sá - Agência Funerária Pacheco, EntroncamentoA nossa disponibilidade é total e as noites mal dormidas fazem parte da profissãoCarlos Sá abriu há dez anos a “Agência Funerária Pacheco”, no Entroncamento, onde trabalha com a esposa, Mafalda. O casal deve ter sido um dos mais jovens do país a entrar no sector. “Um dia a Mafalda foi a casa de um cliente para tratar do funeral e quando entrou o senhor disse-lhe para não fechar a porta porque estava convencido que ela ia acompanhada pelo pai”, conta, recordando que a esposa começou a trabalhar na agência com pouco mais de 25 anos. O agente funerário garante que, a partir do momento em que alguém entra na Funerária Pacheco, pode ter a certeza que tudo irá ser feito de molde a libertar os familiares do falecido de tudo o que possa afectar ainda mais a sua dolorosa situação. “Tratamos de tudo, dentro do que é possível fazer não nos esquecendo de confortar um pouco as pessoas no momento difícil que estão a viver. A forma como lidamos com as pessoas é muito importante”, refere, acrescentando que cada situação é diferente de todas as outras. Os proprietários da Agência Funerária Pacheco sabem que, num mercado com bastante concorrência, há que saber inovar. Por isso apostam em colocar textos diferentes nas pagelas (cartões) colocados junto ao livro de condolências para que as pessoas que se deslocam ao local de velamento possam ficar com uma recordação do falecido. “Antigamente usavam-se muito as rezas e as orações mas hoje em dia como há muita gente que não é católica praticante optamos por usar palavras reconfortantes: “Eu não estou longe/apenas estou do outro lado do caminho/ tu que ai estás segue em frente/Porque a vida continua linda e bela como sempre”, exemplifica. Carlos e Mafalda Sá confessam que, devido à profissão que escolheram, ainda ganham algumas noites mal dormidas e, quando trabalham, vestem uma espécie de segunda pele. Em relação a cerimónias marcantes, não esquecem o episódio em que fizeram um trabalho de tanatoestética (maquilhagem estética de cadáveres) tão bem feito que o elogio público causou constrangimento. “Estávamos no velório e houve uma senhora que se aproximou do corpo da falecida repousado no caixão e comentou, em alta voz, que ela estava mais bonita em morta do que quando era viva. José Serrano e João Nunes - Funerária Central de Vialonga Uma carrinha para transporte de familiares e amigos do falecido é a próxima inovaçãoDepois de ter trabalhado numa agência funerária e ter acumulado alguma experiência, José Serrano decidiu concretizar o sonho de abrir uma agência própria. João Nunes, militar acabado de passar à reserva, foi convencido pelo amigo de infância e juntos decidiram criar o projecto de raiz. Uma casa, com uma grande recepção e armazém, localizada na rua principal que atravessa Vialonga foi o local escolhido. Pintaram o exterior de bordeaux e o interior de branco. O espaço transmite tranquilidade. “Não queríamos criar uma funerária com uma imagem pesada, como geralmente têm a maioria e por isso optamos pelo branco”, explica José Serrano. O logótipo é uma pomba que parte em direcção ao sol, já que entendem a morte como uma etapa da própria vida. A Funerária Central de Vialonga fica no número 22 da Rua Primeiro de Maio, no Cabo de Vialonga e abriu em Dezembro. Faz todos os serviços associados a funerais. Também vende uma série de imagens religiosas. Os sócios já têm algumas ideias para inovações que querem introduzir no sector. Em estudo, está a possibilidade de arranjarem uma carrinha que assegure o transporte da família e dos amigos do falecido para as cerimónias religiosas. O pagamento do serviço também pode ser realizado em mensalidades.Escolheram Vialonga propositadamente por ser uma freguesia que só possuía uma agência funerária. “A grande vantagem para a população residente é que agora já tem possibilidade de escolha”, apontam os sócios que asseguram ter preços concorrenciais muito bons. Primam pela discrição e garantem ter a sensibilidade necessária para trabalhar no ramo. “É preciso ter algum feitio para este negócio porque mexe com os sentimentos das pessoas que estão muito fragilizadas. Mas já nos mentalizamos para este trabalho”, referem. A morte é algo que não os assusta. Qualquer falha tem um peso a triplicar e por isso os dois sócios esquecem tudo o que está à volta quando têm um funeral. “Queremos colaborar com toda a gente e que as pessoas se sintam à vontade connosco”, conclui José Serrano. Inovação, profissionalismo e bons preços são os ingredientes que apresentam no espaço que acabaram de abrir.Ricardo Mendes, 30 anos, Agência Tomarense, TomarEste trabalho não é para qualquer um“Nós somos a cabeça fria das famílias na altura em que nas famílias enlutadas é difícil ter a cabeça fria”. Quem o diz é Ricardo Mendes, neto de Fernando Mendes que abriu há 40 anos a Agência Funerária Tomarense, na Avenida Cândido Madureira, em Tomar. “Cresci no meio disto, praticamente. Eu sou assim, não consigo explicar”, conta quem abraçou ao sector mais seriamente desde há alguns meses, altura em que a agência foi obrigada a fazer a formação de um responsável técnico. A principal motivação prendeu-se com a possibilidade de dar continuidade a um nome que é uma referência nas agências funerárias de Tomar e de quem fala com orgulho. “Algumas pessoas ficam surpreendidas quando vêem que é um jovem que vai tratar do funeral mas basta dizer que sou o neto de Fernando Mendes para ficarem descansadas e confiarem totalmente. O meu avô é um dos meus heróis. Ele sabe que o que construiu vai ter continuidade”, conta. Habituado a lidar com a morte desde criança, Ricardo Mendes não tem dúvidas ao afirmar que a sua profissão não é para quem quer. “Nem toda a gente é capaz de fazer este trabalho que requer uma grande sensibilidade”, diz. O jovem agente funerário pretende facilitar ao máximo a vida das famílias enlutadas que o procuram e não explica que o sector registou inúmeras inovações. “Há 20 anos fazia-se o velar das pessoas em casa o que já não acontece hoje. Por outro lado, actualmente introduzimos o café durante o velório para criar outro tipo de conforto”. Ricardo Mendes costuma traçar um perfil psicológico das pessoas com quem lida para melhor entender o que pretendem e não as decepcionar. Alguns dos seus amigos ainda o olham com ar de espanto quando diz qual é a sua profissão mas nunca se sentiu excluído por isso. “Se calhar as pessoas olham para mim e pensam que sou de ferro mas não sei ser de outra maneira”, explica. De todas as cerimónias que realizou houve uma marcante, em que estabeleceu um laço quase umbilical com a família de um senhor que faleceu em Angola e o corpo ficou retido 15 dias a aguardar viagem. A recompensa surgiu na forma de uma carta de agradecimento, dias após o funeral. “São momentos desses que nos confortam e nos fazem acreditar que vale a pena”, atesta. Irmãos Nuno e Leonor - Agência Funerária Xavier - Alcanede e TremêsPerante o desgosto do falecimento de alguém próximo a maioria das pessoas não sabe o que fazerCom sede em Alcanede e dependência em Tremês a Agência Funerária Xavier, Lda. tem uma experiência de quase meio século na realização dos serviços fúnebres. Arnaldo Xavier, o fundador, apostou na actividade em 1965. Instalou a agência no local onde antes geria um negócios de móveis. São hoje os seus filhos, Nuno e Leonor Xavier, a assumirem a direcção da agência funerária com que começaram a lidar e a ambientar-se ainda bem novos.Estão onde são precisos. Os telefonemas podem chegar a qualquer hora do dia ou da noite. Trabalham maioritariamente nos concelhos de Santarém, Rio Maior e Alcanena mas sempre abertos aos serviços que possam vir de mais longe. Profissionalismo, aconselhamento e simpatia é o que a agência garante junto dos familiares que perderam algum ente querido. O serviço é personalizado, o aconselhamento feito seja na escolha da urna, dos artigos religiosos, passando pela preparação da sala de velamento. “Noventa por cento das pessoas não sabe, à partida, o que pretende num funeral, por isso estamos cá”, diz Nuno Xavier. A par da realização dos funerais, a Agência Xavier, realiza ainda cremações em Lisboa e facilita serviços de exumação. Dispõe de um serviço de repatriamento para que o defunto seja enterrado no seu país de origem, e tem ligação privilegiada com consulados, médicos legistas, altos comissariados, linhas aéreas ou marítimas e autoridades legais, para agilizar esses serviços. A empresa possui duas viaturas fúnebres que costumam assegurar uma média de 150 funerais por ano. Leonor Xavier começou por colaborar no negócio do pai na retaguarda, no escritório a tratar de documentação e a receber pessoas mas, aos poucos, foi-se adaptando a todo o tipo de serviço, desde a recepção ao cliente ao enterramento. “Tive de ir encarando a realidade”, conclui, admitindo que é pouco habitual ver uma mulher na frente de um funeral.Funerária Lopes e Benavente - SantarémDepois de milhares de funerais posso dizer que são todos diferentes uns dos outrosNa Urbanização Olival do Arame, Junto à rotunda da Fonte luminosa de S. Domingos, em Santarém, existe um escritório amplo, moderno e acolhedor onde está instalada a funerária Lopes e Benavente gerida pelos sócios Carlos Lopes e Acácio Benavente. Trata-se de uma empresa moderna, com grandes tradições no concelho. Tem um serviço permanente de 24 horas por dia, todos os dias do ano. Tem também um serviço personalizado e especializado, respeitando todos os credos religiosos. A sua missão é ajudar as famílias enlutadas nos momentos mais difíceis das suas vidas. Carlos Lopes começou cedo a aprender a arte dos funerais. Com dezassete anos teve o seu primeiro emprego a lavar carros de uma agência funerária. Pouco tempo depois, tirou a carta e logo começou a exercer a sério . Mais tarde abriu uma agência sua em Santarém e, algum tempo depois, uma segunda agência em Fazendas de Almeirim. Hoje em dia apesar das dificuldades inerentes à profissão, não pensa mudar de ramo. “Dediquei toda a minha vida a esta profissão. Com a idade que tenho o que mais posso fazer? Só sei trabalhar nisto”, afirma o empresário, acrescentando que, “ao contrário do que parece, se trata de uma actividade em que se ganha pouco”, tendo em conta as horas de dedicação e trabalho despendidas.Com seis funcionários, três carros funerários e outros três de apoio e todo um arsenal de equipamento que garante um serviço de qualidade e 100% português a quem procura dignidade no último adeus de um ente-querido, Carlos Lopes considera ter “a melhor agência da região”. A norma é ir ao encontro das necessidades dos clientes de acordo com as tradições e requisitos religiosos. “Trabalhamos directamente com todo o tipo de pessoas, por isso temos de identificar o tipo de família com quem estamos a lidar. A partir daí vamos desenvolvendo o nosso serviço, indo ao encontro daquilo que as pessoas querem”, explica. “Estamos sempre a aprender. Se trabalhamos cem anos nesta vida, ao fim de cem anos ainda não sabemos tudo”, concluí, explicando que nunca fez um funeral igual apesar de já ter feito milhares. Embora a sua área de actuação tenha uma maior incidência no concelho de Santarém, a funerária Lopes e Benavente assegura serviços em qualquer outro local do país, apostando sempre na inovação dos serviços.António Vieira, José Montês e Manuel Mena - Agência Funerária Alviela Especializados em serviços fúnebres nas freguesias rurais A Agência Funerária Alviela nasceu em Dezembro de 1954, três dias depois da noite de consoada. António Vieira tinha tinha 21 anos e trabalhava madeiras nos Móveis Alviela. Telefonaram de Alcanena a pedir-lhe para fazer o funeral. O jovem não hesitou, montou-se na sua bicicleta pasteleira, comprada a prestações e foi a vinte quilómetros de distância comprar uma urna. Apesar de a mesma pesar 60 quilos trouxe-a na parte de trás do velocípede amarrada com cordéis. A partir daí as encomendas para serviços idênticos começaram a chegar com frequência. A bicicleta foi trocada por uma motorizada e mais tarde por um carro. “Cheguei a ir a Amarante, onde fazem a maior parte das urnas do país, numa bicicleta a motor e a dormir em cima dela com um cordel preso ao pé para não ma roubarem”, recorda o empresário, agora com 78 anos.Actualmente a Agência Alviela tem à frente, além de António Vieira, José Montez e Manuel Mena, que se juntaram ao fundador há 16 e 6 anos, respectivamente. O trabalho é repartido pelas freguesias em redor de Abrã como Amiais de Baixo, Arneiro das Milhariças, Louriceira, Monsanto, Malhou, mas a agência está sempre atenta a solicitações que possam vir de mais longe. O papel do agente funerário é o de ter uma acção psicológica junto dos familiares do falecido e ajudá-los, com respeito nos momentos oportunos, com sociabilidade e simpatia. O aconselhamento é fundamental. Na escolha da urna, cujo preço varia entre 450 euros e 2.300 euros, no caso da madeira exótica mutene. Em Amiais de Baixo as famílias fazem ponto de honra que os seus entes queridos sejam enterrados com urnas de boa qualidade, como sinal de dignificação do enterramento, exemplificam. A agência possui cerca de 15 urnas em exposição e cerca de 50 em armazém.Enterramentos, cremações realizadas no cemitério dos Olivais, em Lisboa, exumações fazem parte do dia-a-dia de uma empresa com várias décadas de experiência no ramo dos serviços fúnebres.Elisabete Santos - Agência Funerária Rainho - EntroncamentoCrescer a brincar no armazém das urnasA “Agência Funerária Rainho” abriu portas no Entroncamento há mais de 40 anos, funcionando em novas instalações, na Rua António Lucas, desde Abril de 2010. Era do avô materno de Elisabete Santos que, em criança brincava entre as urnas, no armazém. A filosofia da “Agência Rainho” assenta em servir as pessoas “com calma, sobriedade e com a maior seriedade possível” visto que se trata de um serviço que é prestado num momento particularmente difícil para quem os procura. “Procuramos fazer tudo com a maior discrição uma vez que entramos em contacto directo com a vida das pessoas. Estando 24 horas à disposição de quem nos procura”, refere Elisabete Santos. A agência trata de todo o processo fúnebre não esquecendo a burocracia que se segue a seguir às exéquias fúnebres. “Fazemos um acompanhamento no sentido de ajudar e encaminhar as pessoas em relação a questões que tenham que tratar com pensões e Segurança Social. Ajudamos a preencher os impressos e até os entregamos nos locais apropriados”, acrescenta a agente funerária. Elisabete Santos refere que cada pessoa reage e encara a morte de maneira totalmente diferente. Quanto a ela diz que, desde que foi mãe, lhe é particularmente difícil fazer o funeral de uma criança. O falecimento de uma pessoa que lhe seja muito próxima também lhe faz muita confusão. É nessas alturas, “em que reage e sente como qualquer outra pessoa”. Nessa alturas não hesita em pedir ajuda. De situações curiosas recorda o facto de já terem entrado na agência algumas pessoas à procura da urna onde vão descansar na eternidade. “É contra a minha essência vender uma urna ou um caixão a alguém que está vivo. Não há necessidade de tratar da morte enquanto estamos vivos. Temos é que aproveitar a vida enquanto estamos cá. Mas respeito os desejos dos outros”, refere. Se antes tinha algum pudor em dizer que era agente funerária, actualmente até brinca com a situação e oferece boleia no carro funerário às colegas com quem trabalha na escola onde também dá aulas. “Já ouvi comentários engraçados quando vou a conduzir o carro funerário. As pessoas ficam muito surpreendidas, não só por verem que é uma mulher mas que é uma mulher mais jovem”, conta com um sorriso franco.José Grilo - Agência Funerária José Grilo Unipessoal, TramagalO meu sonho sempre foi ficar à frente de uma agência funeráriaJosé Grilo trabalha no ramo funerário há 23 anos mas por sua vontade tinha começado mais cedo. Foi sozinho que criou a empresa em nome individual, junto ao Largo da Igreja, em Tramagal, no concelho de Abrantes, cujo lema passa por servir bem e respeitar a dor de cada um, não esquecendo a palavra de conforto num momento tão doloroso. “Sou natural da Chamusca e quando tinha os meus 15 ou 16 anos quis ficar à frente de uma agência mas era muito jovem e não tive o apoio do meu irmão mais velho que não acreditou nas minhas capacidades”, recorda. Depois de cumprir o serviço militar e estar sete anos “exilado” em França regressou para “cair” na Metalúrgica Duarte Ferreira, em Tramagal onde exerceu a profissão de electricista. Em 1984, quando a empresa começou a vacilar decidiu retomar o antigo sonho de abrir uma agência funerária. Lidar com mortos nunca foi um problema. “Eu apareci nos Bombeiros Voluntários da Chamusca, a convite de Júlio da Conceição Moreira, comandante na altura, e foi a partir daí comecei a lidar com a morte uma vez que, na altura, se afogavam muitas pessoas no Tejo. Tive um ano em que tirei 16 corpos do Tejo e das Lagoas”, recorda. José Grilo considera que muita coisa mudou ao nível de exigências por parte dos órgãos governamentais. “Somos mais exigentes ao nível da preparação dos corpos, nas capelas e os serviços são mais bem organizados”, atesta. Para o nosso interlocutor é uma desvantagem ser agente funerário num meio e ver partir aqueles com quem convive diariamente. “Nestes meios somos uma família. Tive aqui um caso de um jovem, falecido num acidente de moto junto aos correio. Na noite anterior à sua morte, tínhamos estado a beber um copo e a brincar um com outro onde eu lhe disse que eu é que o levava à cova e, no outro dia, levei-o mesmo. Foi duro”, refere. Mas um dos serviços que mais o marcou foi o funeral que fez a uma menina de doze anos que via todos os dias e, sempre que o via, dizia para a mãe: “Olha, lá vem o grilo dos mortos”. Sérgio Neves - “Hoje & Sempre”, Riachos -Torres NovasDispositivo electrónico nas campas para dar toda a informação sobre a mesmaSérgio Neves, 35 anos, abriu em 2008, em Riachos _ Torres Novas anos, a empresa “Hoje e Sempre”, detentora da marca Jazicampa, trabalhando em tudo o que esteja relacionado com prestação de serviços em cemitérios, só não fazendo funerais. Desde o serviço de coveiro, à gestão e manutenção do cemitério, construção de ossários e composição fúnebre de mármores e granitos. Filho de um coveiro e ex-encarregado do cemitério municipal de Torres Novas, foi sozinho que começou esta empresa “quase por brincadeira” mas a crescente procura levou-o a ter que arranjar três colaboradores que se movem diariamente pela região em duas carrinhas de caixa aberta. “Actualmente já prestamos serviço em 36 cemitérios e temos pré-acordo com alguns da zona de Lisboa e já saiu da ideia para o projecto a criação de um cemitério privado “, recorda. Para Sérgio Neves, lidar com a morte é bastante natural considerando, no entanto, que é diferente fazer um funeral de alguém conhecido que morre repentinamente do que alguém que já estava numa fase terminal. Trabalhar sob o espectro da morte não lhe tira o sono. “Trato a morte por tu. Se tiver que fazer uma viagem a qualquer parte do país ou estrangeiro tenho que visitar o cemitério local”, atesta. Atento à evolução do sector, o empresário está a introduzir novidades na “Hoje & Sempre”. Para além de colocar à disposição uma linha de campas a baixo custo, graças ao facto de serem produzidas em série, Sérgio Neves revela que a empresa vai passar a colocar um dispositivo electrónico nas campas, em granito ou em mármore, que permite à pessoa ou entidade que está a gerir o cemitério identificar quem está ali está sepultado, quem são os familiares ou se o alvará está em dia. Se pudesse mudar alguma coisa na actual legislação não permitia a realização de funerais aos sábados, domingos e feriados uma vez que sente na pele o que é trabalhar sem quaisquer horários. Depois de um dia intenso de trabalho, gosta de descontrair e juntar-se aos funcionários e amigos, para beber uma cerveja. O humor é essencial para este jovem empreendedor. Mesmo que seja humor negro: “Mandei fazer uns isqueiros da marca Jazicampa que, para além do nome da empresa tem nas costas a frase “Vá fumando que eu vou esperando”, conta bem-disposto. Mário Conceição, agência funerária Campeão, SantarémDesde a morte da mãe que encara a profissão com outros olhosMário Conceição trabalha lida diariamente com a morte há 43 anos mas foi desde que perdeu a mãe, há 12 anos, que passou a encarar a profissão com outros olhos. Foi o funeral mais difícil, conta sem esconder a emoção. Diz que é sempre difícil lidar com as pessoas que perdem entes queridos mas depois de se perder uma mãe tudo muda. “Enquanto não me bateu à porta correu tudo bem. Quando a minha mãe morreu todo o rochedo se partiu. Nunca mais fui a mesma pessoa. Estava convencido que estaria preparado para a sua morte mas não estava. Hoje, muitas vezes, nem sei o que hei-de dizer porque não existem palavras que confortem”, refere.O empresário começou a trabalhar no ramo aos 22 anos na agência funerária do sogro, no Cartaxo. Ganhava 1200 escudos por mês. Entretanto, foi convidado para trabalhar no Tribunal do Cartaxo, onde ganhava mais 200 escudos. Aceitou, mas continuou a trabalhar com o sogro. Na altura, participava nas autópsias aos corpos enquanto funcionário judicial, tomava apontamentos para os relatórios médicos. Quando os médicos iam embora, Mário Conceição ficava com os colegas da funerária para lavar e vestir o morto e realizar o funeral.O destino levou-o a trabalhar na agência Campeão em Santarém. Em 1978 comprou-a ao antigo dono. O empresário faz um balanço positivo dos 33 anos e realça a “grandes” amizades que construiu ao longo de mais de três décadas e o “reconhecimento” de muitos clientes. “Sinto-me honrado em contar, por exemplo, o episódio de uma senhora a quem fiz inicialmente o funeral da irmã e que, mais de 20 anos depois, ela veio propositadamente de Loulé [Algarve] a Santarém para eu lhe mudar as ossadas da irmã e dos pais, que estavam em Lisboa, para Loulé”, conta. Lamenta que os três filhos não dêem continuidade ao negócio. Diz que o mais difícil num funeral, muitas vezes, é a burocracia dos papéis que têm de tratar. Manuela Henriques, agência funerária Henriques, AlcanenaÚltimos desejos das pessoas devem ser realizadosManuela Henriques gosta de realizar os últimos desejos das pessoas que antes de morrerem lhe confessaram como queriam que fossem os seus funerais. Um senhor, sempre que encontrava a empresária na rua, alertava-a: “Não te esqueças, antes da urna descer à terra quero cinco litros de vinho despejados na cova”. Outro queria um lanche e outro ainda queria ir para o caixão como veio ao mundo. Manuela cumpriu todos estes desejos.A empresária, 63 anos, trabalhou durante mais de duas décadas numa fábrica de curtumes, onde era seleccionadora de peles. A agência funerária começou pela mão do avô do marido que foi passando de geração em geração. Quando o marido ficou à frente da Agência Funerária Henriques, a esposa começou a ajudá-lo.O momento mais difícil desta sua experiência foi a morte, inesperada, do marido há cerca de cinco anos. Confessa que nessa altura pensou desistir. Valeram-lhe os amigos que não a deixaram tomar essa decisão. Ainda hoje agradece-lhes o apoio todo que lhe têm dado. Também as mortes da mãe e da sogra - que morreu numa altura em que Manuela Henriques estava junto dela - foram outros momentos marcantes.Apesar de já ter muita experiência na sua actividade profissional garante que continua a ser “complicado” fazer funerais. O momento mais difícil é quando está perto da família enlutada.Fernando Figueiredo, Agência Funerária Dom Fernando, SantarémQuer construir mini complexo funerário na zona de SantarémFoi a necessidade que levou Fernando Figueiredo a procurar emprego numa agência funerária. Fazia segurança no Hospital Distrital de Santarém e nas antigas instalações da Raret, em Glória do Ribatejo [concelho de Salvaterra de Magos] quando ficou desempregado. Um ex-colega contou-lhe que fazia uns funerais para uma agência e, quando surgiu a oportunidade, Fernando Figueiredo agarrou-a com unhas e dentes.Trabalhou por conta de outrem durante 25 anos até que há cerca de seis anos decidiu abrir uma empresa por conta própria. Diz que foi o melhor que podia ter feito. O seu próximo objectivo é construir um mini complexo funerário que vai contemplar duas capelas, florista e as instalações da empresa. O terreno já foi comprado, agora só falta avançar com a obra.Confessa que não foi fácil adaptar-se a todo o processo relacionado com os funerais. Na sua opinião é preciso muita sensibilidade e honestidade com os clientes que estão mais fragilizados. Diz que lida bem com os mortos. Já fez autópsias e embalsamentos. Faz-lhe mais confusão assistir a uma cirurgia ou ver alguém a sofrer. O que custa mais é, depois de vestir uma criança que morreu, chegar a casa e, na manhã seguinte, vestir os filhos da mesma idade. “É impossível não fazermos uma associação e pensarmos que os nossos filhos também ser vítimas de uma tragédia”, afirma.O empresário diz que quem trabalha nesta profissão é mais cauteloso, por exemplo, a conduzir na estrada. “Temos mais noção que podemos morrer do que as outras pessoas porque lidarmos diariamente com a morte. Assistimos a tanta coisa todos os dias que sabemos que a mínima distracção pode ser fatal”, realça.Além dos funerais do avô e do pai há um funeral que fica marcado na memória de Fernando Figueiredo. “A criança tinha dois anos e era deficiente. Várias pessoas, incluindo eu, andamos a angariar tampinhas para adquirir uma cadeira de rodas para o menino. Pouco tempo depois de ter recebido a cadeira de rodas faleceu. Foi muito duro encarar essa morte”, recorda.Fernando Figueiredo garante que não há funeral que não faça. Quer as pessoas tenham ou não dinheiro. Recentemente realizou o funeral de uma pessoa que estava por enterrar há dois meses. “Tem que haver boa vontade”, conclui.Fernando Tomé, marmorista, AlpiarçaFez questão de construir as campas do pai e do irmão Fernando Tomé fez questão de ser o próprio a criar as campas do seu pai e irmão já falecidos. Marmorista de profissão fazer campas por medida é o seu ofício. As do pai e do irmão foram especiais e ocuparam-lhe algum tempo. “Não tinha nada de especial em mente. À medida que ia fazendo ia decidindo e alterando como achava que ficava melhor. Tem sempre um ou outro pormenor especial porque as pessoas também me são muito especiais”, refere acrescentando que é “sempre difícil” colocar o nome e foto de um ente querido numa campa.O empresário começou a trabalhar o mármore por acaso. Quando terminou os estudos, aos 15 anos, e decidiu começar a trabalhar não sabia bem que rumo seguir. Começou por aprender a fazer tacos para chão mas, em conversa de amigos, disseram-lhe que quem laborasse em mármore nunca tinha falta de trabalho. Fernando Tomé ouviu os sábios conselhos. Trabalhou muitos anos numa empresa em Almeirim onde aprendeu os segredos da profissão. Era raro o dia em que não ficava a desenvolver a técnica de trabalhar o mármore após as horas de trabalho. “Queria aprender como se fazia, como se moldava a pedra na perfeição. Começava a desenhar no mármore e nem dava pelas horas passarem”, conta, acrescentando que é necessário gostar desta profissão para as coisas resultarem.Com o passar dos anos percebeu que podia começar a trabalhar por conta própria tendo inaugurado a sua empresa, que funciona no espaço contíguo à sua casa em Alpiarça, há cerca de 13 anos. O marmorista conta que actualmente as pessoas preferem as campas cada vez mais simples, mas há uns anos não era assim. “Normalmente as pessoas queriam o desenho de um objecto que representasse a sua profissão. Cheguei a fazer uma guitarra, motas ou colheres de pedreiros”, diz.Fernando Tomé explica que esta é uma profissão dura e exigente e, talvez por isso, diz, não exista muita gente a querer trabalhar nela. Com a ajuda de um funcionário e um carrinho são eles que transportam a pedra e colocam o produto final nas campas.Gabriel Bento, Agência Funerária Bento & Lucas, Chamusca“Funerais da família são sempre os mais complicados”A Agência Funerária Bento & Lucas surgiu de uma brincadeira. Gabriel Bento trabalhava numa empresa de moagem e possuía uma camioneta de transporte. Um dia um senhor de uma agência funerária pediu-lhe a camioneta emprestada para realizar um funeral. Gabriel acabou por ajudar no funeral e no final ainda lhe foi proposto que comprasse a agência funerária. O empresário ficou entusiasmado com a ideia mas desistiu depois de conversar com a esposa. Mas o ‘bichinho’ não morreu. Em conversa com o actual sócio falou-lhe da proposta que lhe tinham feito e, em conjunto, decidiram avançar com um projecto que se tornou o projecto das suas vidas.Os primeiros tempos ainda trabalharam com o antigo dono. “O senhor costumava fazer um funeral por ano, connosco ainda fez dois ou três”, conta bem-disposto. Gabriel Bento confessa que custa sempre realizar um funeral. O facto de trabalhar numa vila onde toda a gente se conhece faz com que os funerais sejam sempre de pessoas conhecidas e amigos. Trabalhar neste ramo é uma questão de hábito. Ao início arrepiava-se sempre que tinha que entrar num cemitério durante a noite, agora já uma coisa banal.Os funerais mais complicados continuam a ser o de jovens. “Nunca estamos à espera da morte de alguém jovem. A primeira ideia, mesmo que inconsciente, é pensar que pode acontecer o mesmo aos nossos filhos. São situações muito complicadas”, refere. Uma autópsia - das centenas a que assistiu - que guarda na memória foi a de uma criança, de quatro anos, que o pai matou acidentalmente durante uma viagem de automóvel. Os funerais mais difíceis que fez até hoje foram os da família sobretudo os dos pais. “O facto de morrerem com bastante idade podemos ficar mais confortados porque pensamos que é a lei da vida mas é sempre muito complicado. É uma dor muito grande”, sublinha.Lucinda Marques - Agência Funerária Marques e Pimentel - Foros de SalvaterraFizemos formação em psicologia do luto para estarmos melhor preparadosA Agência Funerária Marques e Pimentel é uma empresa familiar gerida por Lucinda Marques e Carlos Pimentel, marido e mulher. A filha, Cláudia, também ajuda sempre que é preciso. O negócio começou há 29 anos quando um agente funerário pediu ajuda a Carlos Pimentel para fazer uns ‘fretes’. Mais tarde, foi-lhe proposto comprar a agência funerária e foi assim que tudo começou.Lucinda tinha 23 anos e Carlos 26. Os empresários confessam que ainda hoje é difícil a profissão que escolheram. “Esta actividade exige muito respeito e é preciso muita calma uma vez que nem todos reagem da mesma maneira”, explica Lucinda Marques. Apesar de lidarem diariamente com a morte não significa que estejam melhor preparados quando esta lhe bate à porta. Lucinda Marques ainda hoje se emociona ao recordar a morte, inesperada, do filho aos 18 anos, vítima de um aneurisma. “Depois de perder um filho o trabalho é ainda mais difícil”, refere.Entre Dezembro de 2010 e Maio de 2011 fizeram formação para lidar com o luto, na disciplina de Psicologia do Luto que ambos consideraram importante para conseguirem lidar “ainda” melhor com os clientes. “Esta é uma fase complicada na vida das pessoas e temos que ter muita sensibilidade”, afirma. Actualmente possuem também três lojas de flores.Lucinda Marques faz um balanço positivo das quase três décadas de actividade profissional. Apenas lamenta que neste ramo não haja mais união. “Existe muita falta de respeito entre colegas. Muita competição sem necessidade nenhuma para que isso aconteça. O mais importante é respeitarmos o cliente e a sua dor”, sublinha.Manuel Gardão e Olga Rosa - Scalcovas - PernesEmpresa de , com sede em Pernes, aposta ainda na venda de campas e adquiriu recentemente uma máquina para escavar.A Scalcovas - Serviços Funerários, Lda., tem mais um cemitério a seu cargo. O contrato com a Junta de Freguesia do Pombalinho, Santarém, foi assinado esta quarta-feira para a abertura de covas no cemitério local. É mais um ponto da região onde a empresa, gerida por Manuel Gardão e Olga Rosa, apresenta o seu emblema e mostra o que vale, estando ainda em negociações com outras autarquias locais. A empresa aposta cada vez mais que autarquias locais e os municípios contratem serviços especializados como a da Scalcovas. A empresa surge no mercado em Junho de 2011, com sede em Pernes, herdando a tradição familiar de Manuel Gardão que, em miúdo, acompanhou o pai que era coveiro e, mais tarde, o seu sogro, coveiro em Azóia de Baixo. Aos serviços de abertura de covas e limpeza de terreno, levantamento de pedras, exumação de cadáveres, aprofundamento de covais, a Scalcovas disponibiliza agora de um catálogo de venda de campas. “É uma oportunidade que estamos a lançar de vender este material, seja de granito, mármore ou outro. Fazemos a gravação de letras, colocação de fotografias e outros objectos e podemos acordar com o cliente fazer a sua manutenção”, realça Manuel Gardão.Para melhor trabalhar num meio como é um cemitério e para optimizar tempo e recursos a Scalcovas investiu na compra de uma escavadora mini-giratória, uma Terex TC16, que permite fazer o trabalho de dois homens na escavação de covas. “Poupa-se muito tempo, até para deixar o local envolvente tão limpo quanto o encontrámos “, garante o empresário. Manuel Gardão trabalhou para juntas de freguesia durante 11 anos, trabalhou em nome individual durante três anos e finalmente estabeleceu-se em parceria com Olga Rosa.António Mendes - Agência Funerária de VialongaHá cada vez mais pedidos de cremaçãoHá já 20 anos que António Mendes tem a Agência Funerária de Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira. O director técnico encarou sempre a morte como uma realidade, mas continua a custar-lhe os funerais dos mais jovens. Acredita que o futuro passará pela cremação.” É claro que também me custa a morte dos mais idosos, mas estes ao contrário dos mais novos já viveram uma vida”, nota. O trabalho no ramo é sensível, já se que trabalha com sentimentos e por isso o director técnico também encontra muitas dificuldades. “As pessoas estão num momento de dor profunda e às vezes é muito complicado gerir toda a situação. Não aceitam aquilo que dizemos”, refere António Mendes, que mesmo nos casos mais complicados prima por encontrar sempre as soluções que deixem os clientes satisfeitos. A empresa, garante, faz a diferença no tratamento que estabelece com os clientes. Muitas vezes são mesmo chamados a dar apoio psicológico, mas a equipa possui formação no ramo. Embora as pessoas continuem a morrer, o negócio também está em crise. “O problema não é realizar funerais, mas receber depois os respectivos pagamentos, especialmente quando as pessoas pedem para esperarmos pelo dinheiro que vem da segurança social”, revela.O sonho de criar uma agência funerária começou como uma brincadeira durante um almoço de convívio com uns amigos numa tarde de 1992. A ideia começou a ganhar forma e o sonho tornou-se realidade. O primeiro ano não foi fácil. António Mendes só conseguiu realizar quatro funerais em Vialonga. “Geralmente as pessoas procuram empresas já com currículo e é muito difícil uma pessoa implantar-se”, revela. Não desistiu e hoje realiza perto de 15 funerais por mês, sendo uma funerária bastante reconhecida no meio. A maior parte dos funerais acabam mesmo por ser fora de Vialonga.Em relação ao futuro, António Mendes acredita que o negócio passará pela cremação. Mesmo as pessoas de idade já mostram interesse na cremação. “Não é preciso comprar lápide, flores ou ir com regularidade limpar a campa. Os mais novos também já não frequentam muito os cemitérios”, conclui.Nuno Tavares, 30 anos, Funerária “Tavares e Manso” , Cardigos - Mação“Não gosto de ganhar dinheiro com a desgraça dos outros mas alguém tem que fazer este trabalho”Servir os clientes com empenho, contribuindo para que o momento de perda de um ente querido se torne menos doloroso é o lema da agência Funerária “Tavares e Manso” que abriu em Cardigos, no concelho de Mação, em Maio de 2001. Trata-se de um negócio iniciado aos 19 anos por Nuno Tavares, filho de uma enfermeira e de um taxista, que não quis estudar mais e tirou um ano sabático para aproveitar a vida antes de se lançar no mercado de trabalho. “Não tinha ideias de abrir uma agência funerária mas o meu pai, que já tinha pensado nisso há 27 anos mas não avançou por hesitação da minha mãe, mandou-me ir assistir a funerais durante três meses para ver se tinha estômago para isto”, conta. A experiência não foi decisiva mas levou Nuno a avançar. Hoje, com 30 anos, refere que o facto de ser uma pessoa jovem a trabalhar neste negócio da morte até lhe traz vantagens quando, por exemplo, tem que tratar de cerimónias com pessoas da sua idade. A lidar com a morte há 11 anos, Nuno Tavares diz que, apesar de ser assolado com alguns pensamentos, tem a boa sorte de dormir com facilidade. “A única coisa que ainda não encaro muito bem é ganhar dinheiro com a desgraça dos outros. Mas alguém tem que fazer este trabalho”, refere. A família, os animais, o cão Max, a aquariofilia e os desportos motorizados são o seu escape. Abrir uma agência funerária num meio mais pequeno faz com que os serviços sejam procurados, normalmente, por pessoas que já têm referências positivas sobre o seu modo de trabalhar. “Ajudamos não só a organizar as cerimónias fúnebres como também esclarecemos e tratamos de todos os procedimentos burocráticos”, complementa. Atento à evolução do sector, Nuno Tavares refere que a sua agência funerária se empenha com rigor na ornamentação da capela, distribuindo pagelas de última recordação da pessoa falecida, que ficam disponíveis para quem as queira levar, prestando ainda um serviço de catering, gratuito, a todos os presentes. O serviço que mais o marcou foi o do funeral de um feto com 7 meses. “Foi a primeira vez que me deparei com um acontecimento destes. Marcou-me também pela dor que vi naqueles pais uma vez que já era o segundo filho que perdiam daquela forma”. E também já viveu de perto uma peripécia que não esquece, quando, à hora marcada para o funeral, passaram-se 40 minutos e o padre não aparecia. “Foi difícil falar com ele telefonicamente, porque não tinha rede mas lá se conseguiu resolver o problema. O padre tinha-se esquecido. Afinal todos somos humanos”, atesta.

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