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“Saída de Ganhão abre novas possibilidades a todas as forças políticas”

“Saída de Ganhão abre novas possibilidades a todas as forças políticas”

Quando chegou a líder do PS em Benavente as relações do funcionário João Augusto Sousa com o presidente da câmara esfriaram

João Augusto Sousa, 52 anos, natural da Barrosa, concelho de Benavente, é técnico superior na Câmara Municipal de Benavente e também presidente da comissão política concelhia de Benavente do Partido Socialista (PS). Não mistura a política com o trabalho e tenta sempre dar o seu melhor quando está ao serviço da autarquia. Desde que assumiu o novo cargo político, a relação com o presidente da câmara, António José Ganhão, esfriou. As lutas fratricidas que existiram no seio do PS local conduziram-no a uma situação quase insustentável. O partido reorganizou-se nos últimos tempos e João Augusto diz que está agora mais forte para enfrentar as próximas eleições. Sobre o futuro do concelho, João Augusto Sousa não arrisca a tecer muitas considerações porque, diz, precisava de realizar estudos sobre a situação actual para apontar um rumo.

Trabalha na área financeira de uma câmara de maioria comunista. Como é que gere esta situação?Tenho a certeza que todas as pessoas que me conhecem bem sabem que eu nunca usaria qualquer instrumento de trabalho para servir de arma de arremesso na batalha política. Dentro do meu trabalho tenho o dever de fazer sempre o melhor esteja ou não de acordo com os métodos seguidos. Antes de ser socialista e trabalhar numa câmara comunista não me esqueço que o meu salário é suportado pelos impostos das pessoas e isso vem antes de qualquer luta política. O que eu gostava era que toda a gente pensasse da mesma forma. Isso não acontece?Não tenho tido qualquer problema em termos de trabalho. Estou sempre disponível para dar o meu melhor e se for preciso até fico a trabalhar depois da hora. Como é que se relaciona com o presidente da câmara sendo um seu opositor político?É uma relação institucional. Seria hipócrita se dissesse que a relação é igual à que tinha antes de ter assumido estas responsabilidades no PS. Mantivemos sempre uma relação cordial, apesar de nunca termos sido amigos íntimos. Por mim faço tudo para que continue, mas tenho de admitir que a relação esfriou... É verdade que o presidente o advertiu para não contactar com a vereadora Ana Casquinha ou com outros elementos do PS durante o trabalho?Não posso responder com a verdade porque não tenho provas, mas também não posso mentir...Como assim?Não quero comentar essa situação.O facto de estar na autarquia permite-lhe estar mais por dentro da gestão autárquica. Isso é um factor que pode usar nas próximas autárquicas.Tal como a minha formação académica ou a minha própria personalidade. São vários os factores que podem ajudar, se a população que elege valorizar esses mesmos factores. Esta também é uma questão que pressupõe a possibilidade de eu me candidatar. E está disponível para encabeçar a lista do PS?O que posso garantir é que nunca serei candidato a qualquer cargo se não existir um grande apoio por parte de todos os socialistas do concelho. Considera-se o candidato mais bem colocado?Terminámos na semana passada os perfis dos candidatos. A lista tanto poderá ser encabeçada por um militante, como um não militante ou até uma pessoa que não more no concelho. Temos um leque alargado de pessoas. Obviamente que a nossa vereadora Ana Casquinha é sempre um nome a apontar, mas não vou avançar com nomes porque não quero deixar ninguém de fora. Os nossos candidatos vão sair no primeiro semestre deste ano. Com a impossibilidade do actual presidente se candidatar esta é a grande oportunidade para o PS conquistar a câmara?Tudo depende do envolvimento que o presidente possa vir a ter na campanha. Obviamente que o presidente goza de um capital político inegável e a sua saída abre novas possibilidades não só ao PS como a outras forças políticas. Mas perco muito pouco tempo a pensar nisso. O importante é construirmos uma alternativa política válida com valores e rumos, depois a população decide. Porque é que o PS não tem conseguido ao longo dos anos impor-se no concelho? Devido à primeira lei das finanças locais que surgiu em 1979 todos os presidentes de câmara desta altura passaram a ter um conjunto de recursos e conseguiram construir muitas obras. É preciso ser muito mau para não se conseguir impor politicamente, qualquer que fosse o partido político. António José Ganhão sempre foi um presidente muito assíduo e de muito trabalho, independentemente de concordar ou não com o seu modelo de governação. Depois o próprio PS começou a desintegrar-se com grandes lutas fratricidas. A escolha dos candidatos era sempre envolta em conflitos. Foram dados muitos tiros nos pés até se chegar a uma situação quase insustentável. Benavente está às portas de Vila Franca e próximo de Lisboa, mas continua a ser uma vila muito rural. O que tem impedido o seu crescimento?Precisamos de trazer os agentes económicos ligados à grande metrópole para o concelho. Mas isto é o que todos os políticos dizem. Precisávamos de fazer um levantamento exaustivo da situação actual do concelho para traçarmos um plano para o futuro de modo a atrair os investimentos.Isso não tem sido feito pela maioria comunista?É claro que não. Nas Grandes Opções do Plano, onde se deve incluir a estratégia para o município, temos um plano que vai de ano a ano. Não existe qualquer indicação em relação ao futuro. As câmaras de momento têm dinheiro para pagar aos funcionários e pouco maisMas aqui é que está o engano. Em épocas de abundância não precisamos de planos. É preciso traçar um caminho para à medida que surgirem os recursos sabermos como é que os vamos utilizar. Samora Correia tem crescido sobretudo ao nível da habitação e transformou-se praticamente num dormitório. Qual é a sua perspectiva para a freguesia?É muito difícil apontar um caminho porque precisava de realizar estudos, de conhecer as novas populações, de saber o que procuram, para poder elaborar uma estratégia. É preciso tempo e meios para o realizar, dos quais não disponho. O que posso dizer é que sonho com um concelho em que as freguesias se complementem. Gostava de ver as pessoas a deslocarem-se entre as quatro freguesias. O político avesso às redes sociaisJoão Augusto Sousa mora na Barrosa com a esposa, que é ajudante domiciliária na Santa Casa da Misericórdia de Benavente, e com a filha, de 28 anos, que dá explicações. Os pais de João Augusto só o conseguiram ajudar nos estudos até aos 17 anos. Mas este não desistiu e acabou por tirar uma licenciatura em administração geral e autárquica na Universidade Independente e já em 2010 tirou uma pós-graduação na mesma área na Universidade Técnica de Lisboa. Desloca-se de carro, caso contrário não conseguiria viver na Barrosa. Sem mercearias na terra, tem de deslocar-se a Benavente para realizar as suas compras. É mais um dos utentes sem médico de família no concelho, mas graças à ADSE (Direcção-Geral de Protecção Social aos Funcionários e Agentes da Administração Pública) costuma ir a um médico particular. Tem uma página no Facebook, mas raramente lá vai. Considera que a maior parte da informação que circula nas redes sociais é fútil e rouba tempo para realizar coisas mais importantes. João Augusto Sousa costuma ler três livros ao mesmo tempo, um técnico, um de filosofia e um romance. O cinema ou o teatro acabaram por ficar para trás já que o tempo é escasso. Valoriza muito a família e tenta estar sempre presente nos momentos importantes. Ao fim-de-semana costuma ser o responsável pela cozinha. Sopa de pedra é um dos pratos que confecciona e que faz mais sucesso em casa.Desilusão com CDU levou João Augusto Sousa a afastar-se da políticaJoão Augusto Sousa começou a sua actividade política como autarca na Freguesia da Barrosa. Entre 1989 e 2001 integrou as listas da CDU como independente, tendo desempenhado as funções de eleito da assembleia de freguesia, secretário e presidente da assembleia de freguesia. Nunca se reviu no partido comunista e a forma como se fazia política no concelho levou-o a colocar um ponto final. “Tive sempre imensos problemas quando queria votar ou manifestar a minha opinião”, recorda. Em 2009 resolve regressar depois de chegar à conclusão que os políticos não vêm de Marte. “Estarmos sempre a considerar-nos vítimas e a criticar os políticos não serve para nada. Os políticos não vêm de Marte e podem ser os nossos vizinhos, filhos, irmãos, primos”, refere. Interessado sempre nos assuntos da comunidade, tornou-se militante do partido com o qual sempre se identificou, o PS. Em 2009 começou a colaborar com a concelhia local do PS, assumindo as funções de presidente em Março do ano passado, e disponibilizou-se para ajudar a encontrar um novo rumo para o partido que se encontrava bastante dividido.
“Saída de Ganhão abre novas possibilidades a todas as forças políticas”

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