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Alves Redol foi o Aristides de Sousa Mendes Ribatejano

Alves Redol foi o Aristides de Sousa Mendes Ribatejano

Enquanto vice-cônsul do Paraguai passou vistos a refugiados judeus

Alves Redol foi vice-cônsul do Paraguai e passou vistos a refugiados judeus que de Lisboa seguiam para a América do Sul e depois alguns para os Estados Unidos da América. O homem que se tornou conhecido por ser escritor foi também um humanista à maneira de Aristides de Sousa Mendes, uma vertente até agora desconhecida.

Nos anos em que foi vice-cônsul do Paraguai Alves Redol, conhecido sobretudo por ter sido escritor neo-realista, passou vistos a refugiados judeus que de Lisboa seguiam para a América do Sul e depois, alguns, para os Estados Unidos da América. A revelação foi feita durante o segundo dia do congresso internacional que encerrou as comemorações do centenário do nascimento do escritor vilafranquense e que decorreu de 19 a 21 de Janeiro em Lisboa e Vila Franca de Xira. O livro “O Cavalo Espantado (1958-1960)” é baseado em factos reais e retrata o que Alves Redol vivenciou do drama judeu, revelou Ana Paula Ferreira, professora de português na Universidade do Minnesota, nos Estados Unidos da América.Durante a segunda guerra mundial estima-se que tenham passado por Portugal entre 50 a 200 mil judeus que fugiam do extermínio dos campos de concentração da Alemanha nazi. Muitos beneficiaram da ajuda de alguns portugueses. “Alves Redol foi um desses portugueses”, revela Ana Paula Ferreira comparando-o a Aristides de Sousa Mendes. O assunto já tinha sido abordado na biografia escrita pelo filho do escritor, António Mota Redol, que integra o catálogo da exposição “Horizonte Revelado”, inaugurada em 2011. “É uma faceta perfeitamente desconhecida do meu pai”, confirma.O livro conta a história de judeus refugiados em Portugal, durante a segunda guerra mundial, e tem muita intervenção autobiográfica.Ao contrário do que era comum entre os funcionários de embaixadas e consulados Alves Redol não cobrava dinheiro extra aos refugiados. Mesmo os mais ricos tinham dificuldade em pagar quantias avultadas já que tinham deixado tudo para trás. Pedro, personagem do livro que é o alter ego de Alves Redol, trava conhecimento com um casal de judeus endinheirados e procura conhecer melhor as suas vidas. Como não aceita dinheiro o marido desconfia que o protagonista e a mulher se envolveram e começam os ciúmes. “Algumas vezes teve que ser a minha mãe a entregar documentos”, diz recordando com humor um episódio vivido pelo pai na vida real. As mulheres judias, de passagem por Portugal, ajudaram a alterar costumes de muitas portuguesas, como testemunharam alguns dos participantes no congresso. “Lembro-me da minha avó dizer que elas ousaram usar saias sem meias. É a nossa «Casa Blanca» portuguesa”, opinou um dos elementos do público. No livro, retrato da realidade de então, Jadwiga queixa-se que os homens portugueses não deixam que as mulheres pensem. “Gostamos demasiado das mulheres - responde Pedro por gracejo”. (...) Se a tivesse visto alguma vez sem a boca pintada, talvez a despedida não se fizesse ali naquele aquário. Apeteceu-lhe perguntar, zangado, porque andava ela de boca pintada”.
Alves Redol foi o Aristides de Sousa Mendes Ribatejano

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