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O único árbitro do distrito de Santarém na primeira categoria nacional

A época 2010/2011 foi a melhor de André Gralha que se classificou à frente de alguns colegas internacionais

Confessa que nunca se sentiu pressionado por dirigentes de qualquer clube embora não diga o mesmo dos adeptos e principalmente da comunicação social. Reconhece os erros cometidos após os jogos pois essa é a única forma de evoluir. Filho e sobrinho de árbitros cedo percebeu qual era o seu caminho. Nos jogos ainda usa o seu primeiro apito. Entra no campo com o pé direito e benze-se.

Vale a pena ser árbitro de futebol nos tempos actuais?Vale sempre a pena. Mas mais ainda no escalão em que me encontro. É público que hoje em dia um árbitro é muito bem pago. Ganho muito mais na arbitragem, uma ocupação de tempos livres, do que no meu trabalho efectivo.É também compensador na realização pessoal?Sem dúvida que sim. Faço uma coisa que gosto. Hoje sinto-me uma pessoa feliz. É uma missão exigente, cada vez temos que trabalhar mais. Estamos cada vez mais expostos, a comunicação social vasculha totalmente a nossa vida, evidenciam os nossos erros até à exaustão. É necessário termos um bom suporte psicológico para saber lidar com isso. Já teve alguma actuação menos feliz que o deixasse triste ao chegar a casa?Quando recebemos uma nomeação e quando entramos em campo, vamos sempre com a vontade de dar o nosso melhor. Mas também temos consciência de que somos humanos e temos as nossas falhas. Já me aconteceu chegar ao fim de alguns jogos e ao analisar um determinado lance chegar à conclusão de que não o fiz da forma mais correcta, e fico triste por isso.Sente-se frustrado por não ter conseguido chegar a internacional?Não me sinto frustrado porque tenho consciência de que isso seria muito difícil, para não dizer impossível. Hoje em dia para se chegar a árbitro internacional é necessário dominar muito bem a língua inglesa, tem que se ficar muito bem classificado duas ou três épocas seguidas. Por isso não sinto qualquer frustração. Gosto de ser árbitro, tanto arbitro na primeira divisão, como na segunda, na terceira ou mesmo no distrital, porque o que eu gosto é de arbitrar. É claro que se puder ficar muitos anos na primeira categoria melhor, arbitro outro tipo de jogos, tenho outra exposição e sinto-me muito mais realizado e feliz.O que é mais difícil, chegar à primeira ou garantir a manutenção?É tudo muito subjectivo. Não é fácil chegar ao topo, como não é fácil mantermo-nos lá. É preciso que as pessoas vejam que hoje os árbitros que estão na primeira categoria estão bem preparados e são muito bons. As classificações definem-se nos pormenores e isso torna tudo muito difícil.Tem alguma superstição ou algum amuleto que não dispense?Não sou supersticioso. Mas tenho algumas coisas que guardo ou uso com mais assiduidade. Guardei as botas que usei aquando da subida à primeira divisão. Tenho guardado o meu primeiro equipamento e os primeiros cartões que o meu pai me deu. Gosto de usar sempre o meu primeiro apito, e benzo-me e gosto de entrar em campo com o pé direito.Todos os anos recebe novos equipamentos. O que faz aos que ficam de um ano para o outro?Normalmente reparto os equipamentos com os meus colegas do distrital que frequentam o Núcleo de Árbitros de Futebol do Ribatejo Norte, onde sou o presidente.Já trocou alguma vez de camisola com algum jogador?Não. Nunca se proporcionou. O que já me aconteceu foi no final da época passada, no final do jogo Varzim - Arouca, um director do Varzim disse-me que gostava de ter uma camisola minha e eu dei-lhe uma camisola.Os árbitros recebem muitas prendas dos clubes?Não. Actualmente a única coisa que os árbitros têm no balneário é um pequeno lanche. Antigamente ainda havia um galhardete ou uma camisola, ou uma garrafa de vinho. Nada que seja para comprar um árbitro.Ainda tem tempos livres?A minha vida resume-se a três coisas, o trabalho, a arbitragem e a minha família.Já se sentiu magoado com uma crítica?Há dois tipos de crítica, se ela for construtiva e feita com razão, eu aceito-a bem. Se for destrutiva ou coloque em causa a minha honestidade ignoro-a. Às vezes o que me magoa é não ter conseguido fazer tudo bem.Alguma vez o tentaram aliciar para fazer o resultado de um jogo?Não. Nunca me fizeram qualquer abordagem desse género. Se isso acontecesse não tenham dúvidas de que o denunciava de imediato.Mas a pressão é muito forte antes dos jogos?É claro que há sempre alguma pressão. Mas de um modo geral estamos preparados para lidar com essa pressão, que geralmente é feita mais pela comunicação social e por isso nos passa ao lado. Mas nos campos os clubes também fazem alguma pressão?Nunca me senti pressionado por nenhum clube. Normalmente sou bem recebido sem que seja sujeito a qualquer pressão, a não ser a normal pressão do público, mas a essa resisto muito bem.Na Atalaia uma terra pequena, nunca foi abordado de forma agressiva?Nós sabemos bem quem são os nossos amigos. Gosto de viver na Atalaia. Raramente vejo um jogo no café. Mas é normal que às vezes me dirijam algumas críticas. Mas criticas de modo ofensivo nunca me aconteceu.Aos 35 anos continua solteiro a viver com os pais. Tem sido o futebol a impedir a constituição de uma família própria?Não, de forma alguma. É uma casualidade, ainda não aconteceu o clic. Eu dou prioridade ao futebol, mas não foi por causa disso que ainda não constitui família. Mas é uma situação que vai acontecer quando me sentir preparado para isso. Tenho uma família maravilhosa, os meus pais, a minha irmã, a minha afilhada complementam muito a minha vida fora do futebol.Nunca pensou em ir viver para uma terra maior onde tivesse menos visibilidade?Não. Em princípio a minha vida vai ser feita na Atalaia. Gosto da minha terra e tenho aqui os meus amigos e a minha família, não vejo necessidade de sair daqui. Já comprei um terreno e em breve vou começar a construir a minha casa. Onde e com quem é que treina habitualmente?Actualmente vou treinar duas vezes por semana a Leiria com o preparador físico da Liga e com os colegas do nacional. E normalmente nos outros dias venho descontrair um pouco com um treino mais ligeiro aqui nestas magníficas instalações do Atalaiense.Estreou-se na arbitragem aos 15 anos André Miguel Furtado Alves Gralha, nasceu no Entroncamento no dia 6 de Março de 1976 mas logo que saiu da maternidade foi viver para a sua verdadeira terra natal, a Atalaia, Vila Nova da Barquinha. Com 15 anos estreou-se na arbitragem acompanhando o pai na direcção de jogos do Campeonato Distrital do Inatel. Onde depois começou a arbitrar e esteve até aos 17 anos. Oriundo de uma família de árbitros, o pai Fernando Gralha e o tio João Gralha foram árbitros do distrito de Santarém durante muitos anos, André Gralha nunca teve dúvida de que queria ser árbitro de futebol e chegar ao topo da arbitragem nacional.Ao chegar aos 17 anos fez o curso de árbitro na Associação de Futebol de Santarém e como árbitro estagiário começou a arbitrar jogos das camadas jovens. O primeiro jogo oficial que arbitrou foi um CADE - Linhaceira, que o clube do Entroncamento venceu 31-0 e um jogador, de nome Pêpa, que ainda chegou a jogar no Benfica e a ser uma esperança do futebol português, marcou 25 golos.Muito jovem integrou a equipa de António Vitório, com quem andou durante um ano. No ano seguinte subiu à segunda categoria distrital e foi convidado para fazer parte da equipa de Paulo Inácio, aceitou e andou com ele mais um ano. Andou ainda com Amílcar Mendes. No ano seguinte subiu à primeira divisão distrital e formou equipa própria e traçou desde logo a meta de subir aos nacionais o mais rápido possível. Cuidou da imagem da sua equipa procurando dois árbitros jovens que se lhe igualassem nas característica físicas. Foi então que encontrou os amigos Hélder Pardal e José Pedro Carapinha, que juntamente com Francisco Conde o ajudaram muito.A sua carreira no distrital foi fulgurante e em 2000 subiu à terceira categoria nacional, e no final da época ficou no nono lugar, situação que lhe deu para subir à segunda categoria nacional. Foi uma subida muito rápida. Manteve-se durante três épocas na segunda categoria. Na época de 2002/2003 foi primeiro classificado e subiu à primeira categoria nacional, onde, por culpa própria, como gosta de dizer, apenas se manteve um ano. Como não é de se ficar a lamentar voltou à luta e no ano seguinte voltou a subir ao escalão mais alto da arbitragem nacional, onde se mantém até hoje. A época de 2010/2011 foi efectivamente aquela onde subiu mais alto, conseguiu a sua melhor classificação no quadro dos 25 melhores árbitros nacionais, arbitrou jogos de todos os clubes profissionais e garantiu a continuidade de um árbitro do distrito de Santarém no grupo de elite. Não esquece aqueles que o ajudaram a chegar ao topo, o pai, o tio, Jacinto Guardado, Francisco Conde e todos os que o acompanharam como chefes de equipa ou como auxiliares. Por isso também continua a oferecer a sua ajuda na formação dos árbitros do distrito, é presidente do Núcleo de Árbitros de Futebol do Ribatejo Norte.

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