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“Encontrei no colégio interno onde estive sete anos o convívio que não tinha em casa”

“Encontrei no colégio interno onde estive sete anos o convívio que não tinha em casa”

Luciana Nelas, 63 anos, presidente da Casa S. Pedro de Alverca

Luciana Nelas, de 63 anos, assumiu a direcção da Casa S. Pedro de Alverca, concelho de Vila Franca de Xira, em Janeiro deste ano. Passou uma infância muito solitária. Só guarda bons momentos do período que passou num colégio interno em Coimbra. Depois de casar mudou-se da Figueira da Foz para Alverca. Decidiu regressar à faculdade aos 59 anos para se realizar pessoalmente. Com dois filhos, não se imagina a viver sem o marido.

Tive uma infância agradável mas também muito solitária. Nasci na Figueira da Foz. Não tenho irmãos e os meus primos eram mais velhos. De vez em quando tinha uma ou outra amiga, mas a maior parte das vezes brincava sozinha. Tinha um quarto dos brinquedos onde passava muito tempo. Também vinha para o quintal sujar-me e brincar à vontade com os cães do meu pai que era caçador.Para ir ao cinema com uma amiga aos 26 anos, tive de enganar os meus pais. Não cresci com muita liberdade. Não podia ir ao cinema, nem podia conviver com os meus colegas. Os meus pais eram muito meus amigos, mas também muito austeros. Em casa sentia-me muito aprisionada.Com medo de não terem pulso para mim, meteram-me num colégio interno. Era muito rebelde e maria rapaz por ter vivido muito aprisionada. Um dia o meu pai foi chamado à escola por eu não ter aproveitamento a francês e a partir daí entrei para um colégio interno aos 12 anos onde permaneci até aos 19. Foi um período muito bom porque encontrei no colégio a possibilidade de convívio que não tinha em casa. Vivi com raparigas de todo o país. Sempre disse a brincar que um dia também colocaria os meus filhos num colégio interno, mas o meu marido nunca achou muita graça. O meu pai dizia a brincar que o curso de direito era ideal para mim porque para aldrabona não me faltava nada. O sonho do meu pai era que eu fosse professora primária mas eu nunca tive jeito. Quis ir para Belas Artes, mas também não deixou porque achava que a escola de António Arroios, em Lisboa, era um local de “perdição”. Depois queria ser assistente social, mas como era na capital também não me deixou. Consegui convencer o meu pai a sair do colégio e aos 21 anos comecei a trabalhar na secretaria de uma escola na Figueira da Foz. Lembro-me de fugir do meu marido porque o achava muito “betinho”. Conheci-o (Alberto Mesquita, vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira) quando ainda era uma criança porque somos primos em segundo grau. Mais tarde, aos 20 anos, o meu pai deixou-me ir surpreendentemente a uma festa de carnaval e a partir daí o amor começou a nascer. Escrevemos cartas e ao fim de um ano começamos a namorar. Não me vejo a viver sem o meu marido. O que não namorei antes acabei por namorar depois do casamento em 1974 quando viemos morar para Alverca. Não vivo em função dele, mas é o meu suporte. Sempre foi um amigo extraordinário e conversamos imenso. Só isso explica os 38 anos de casamento muito felizes. Passamos por momentos muito difíceis, como quando o meu filho mais novo teve alguns problemas de saúde, mas sempre nos mantivemos unidos. Entrei para a universidade aos 59 anos. Tirei um curso de especialização tecnológica e relações laborais no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa. Foi mais por uma questão de realização pessoal e para dizer aos meus pais “vocês já não vêem mas eu entrei para a faculdade”. Estive quase para desistir porque estudar, tratar da casa e trabalhar não era fácil, mas o meu filho mais novo incentivou-me. As cadeiras acabaram por ser muito úteis para o cargo que desempenho agora na Casa S. Pedro onde lido com 115 funcionários e 198 utentes. Sempre quis realizar voluntariado quando me reformasse. Depois de trabalhar na secretaria da escola Pedro Jacques de Magalhães, passei ainda pela chefia da secretaria da Escola Básica 1,2,3 do Bom Sucesso, antes de me reformar em Junho de 2011.Tomei posse como presidente na Casa S. Pedro de Alverca no dia 4 de Janeiro deste ano. Só costumo sair daqui por volta das 21h00. O marido não se queixa porque ainda chega depois de mim. Nunca tinha trabalhado nesta área, mas tenho a sorte de ter uma equipa técnica muito boa. Eduarda Sousa
“Encontrei no colégio interno onde estive sete anos o convívio que não tinha em casa”

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