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Há um limite para os sacrifícios ou vale tudo em nome do equilíbrio das contas públicas?

O MIRANTE ouviu alguns convidados sobre a situação que se vive em Portugal. A pergunta colocada foi a seguinte: “A primeira prioridade do Governo é o equilíbrio das contas públicas. Para atingir esse objectivo estão a ser tomadas medidas que afectam os cidadãos e todos os dias são anunciados novos sacrifícios. Sendo este objectivo considerado essencial para o país tudo deve ser subordinado a ele? Qual o limite que o Governo deve impor a si próprio?”

Luís Arrais, administrador da Scalabisport“Espero que valham a pena os sacrifícios que nos estão a ser impostos”Não sendo economista, o presidente da empresa municipal que gere o complexo desportivo de Santarém sempre vai dizendo que, pelas informações que lhe vão chegando, não existe outro caminho senão o da austeridade. Segundo Luís Arrais todas as pessoas gostariam de estar a passar por uma situação de maior conforto do que a que se vive actualmente mas entende que o resultado terá de ser positivo. “Vamos ter de fazer estes sacrifícios para depois obtermos a recompensa que é termos as contas em dia, um dos grandes problemas que Portugal atravessa”, refere.Admite que exista um limite para os sacrifícios implementados mas defende que o Governo não tem outras medidas para encarrilar o país. “Sou funcionário público e estou a sofrer como toda a gente. Espero que valham a pena os sacrifícios que nos estão a ser impostos”, conclui. Ilídio Lopes, presidente Escola Superior de Gestão de Santarém“Os sacrifícios que estão a ser pedidos não vão resolver o problema”O presidente da Escola Superior de Gestão de Santarém, Ilídio Lopes, não acredita que as medidas que estão a ser tomadas pelo Governo para equilibrar as contas públicas estejam a ajudar o país. “Todos os sacrifícios que estão a pedir aos portugueses são precisamente contrários ao que é preciso realizar para promover o relançamento económico. Precisávamos de outras medidas que não passassem pela retracção do consumo que conduz necessariamente a uma retracção do crescimento que depois tem consequências a nível nacional e europeu”, considera. Ilídio Lopes acha que o Governo deveria aplicar estas medidas a toda a sociedade e não centrar-se apenas nos funcionários públicos. A justiça, a saúde ou a educação são alguns sectores fundamentais que estão a ser descurados, na opinião do presidente, e que contribuem para agudizar os desequilíbrios sociais. Jaime Ramos, presidente da Câmara do Entroncamento“Temos que começar a olhar mais para as pessoas do que para os números”À frente da Câmara do Entroncamento, Jaime Ramos considera que a economia precisa de um estímulo a par das medidas de austeridade que estão a ser postas em prática pelo Governo. Reconhece que o objectivo de consolidar as contas públicas é fundamental mas considera que as câmaras municipais têm de ter as mesmas concessões que estão a obter algumas empresas públicas. “Acima de tudo ao nível de empréstimos, para que possamos pagar aos fornecedores que estão credores há mais de 90 dias”, exemplifica. Sobre se os sacrifícios devem ter um limite, Jaime Ramos diz que a população ainda vai sofrer mais medidas de austeridade mas considera que se tem de começar a olhar mais para as pessoas do que para números. “Temos de ajudar a economia e as pequenas empresas, sempre na perspectiva das pessoas, que são a mola real da economia desta país. Mas também tenho feito sentir entre os meus colaboradores que se estamos a fazer sacrifícios agora é para que de futuro eles não venham a ser ainda maiores”, realça. Maria Celeste Sousa - directora da Escola Secundária de Santa Maria do Olival (Tomar)“Sinto desmoronarem-se as condições de alguns dos nossos alunos”A directora da Escola Secundária de Santa Maria do Olival, em Tomar, diz que a maior parte das medidas que o governo está a tomar para equilibrar as contas são essenciais mas considera que há limites que devem ser considerados. “Todos temos consciência que a nossa situação financeira é grave e que são necessários sacrifícios para conseguirmos uma situação de equilíbrio mas não vale tudo para atingir esse objectivo”, afirma. Maria Celeste Sousa sente, como funcionária pública que é, as medidas de austeridade e chama a atenção para a necessidade de traçar alguns limites. “Não se pode exigir demasiado. As pessoas com mais possibilidades devem descontar, ao contrário de quem aufere um salário mais baixo e mal tem dinheiro para as suas necessidades mais básicas. “No meu trabalho já sinto um certo desmoronamento em relação às condições de alguns dos nossos alunos. Isso preocupa-me imenso e temos projectos já em marcha para podermos compensar a nível alimentar os alunos que mais precisarem”, informa.Octávio Oliveira, presidente do Instituto de Emprego e Formação ProfissionalCumprir o objectivo das contas públicas sem esquecer a economia e o empregoO presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional considera que o equilíbrio da equação entre pôr as contas públicas em dia e honrar os compromissos assumidos por um lado, e a criação de emprego e criação de condições de equidade que não faça disparar o nível do desemprego, é a chave para alcançar os objectivos. Octávio Oliveira admite que os compromissos assumidos e algumas das medidas têm uma expressão negativa do lado do emprego e da economia mas que cabe fazer, neste início de ano, os reajustamentos necessários à realidade. “Encontrando um conjunto de medidas que minorem os problemas do desemprego e estimulem a actividade económica. O programa Estímulo 2012 tem como objectivo estimular as empresas para a criação de postos de trabalho. É neste equilíbrio de medidas que têm a ver com as contas públicas e outras com o estímulo à actividade económica que se tem de fazer o balanceamento”, defende o presidente do IEFP. Quanto ao papel da entidade que dirige, defende que deve encontrar soluções para empregados e desempregados, melhorando o seu nível de qualificação, para voltarem ao mercado de trabalho e ao serviço da economia e da sociedade.Dionísio Mendes - presidente da Câmara Municipal de Coruche“Tem que se dar esperança às pessoas e fazer crescer a economia”O presidente da Câmara Municipal de Coruche, Dionísio Mendes, reconhece que é importante equilibrar as contas públicas, desde que não se fique também escravo dessa obrigação. “A economia deve continuar a ser o motor da sociedade e devemos continuar a reforçar a actividade económica através do apoio às pequenas e médias empresas, por exemplo. O sistema bancário precisa de voltar a injectar dinheiro na economia”. O autarca verifica que o país está a ficar “paralisado”, o que gera desemprego, contestação social e um mau estar e desânimo muito grande. Na sua opinião os sacrifícios não podem ser só pedidos aos funcionários públicos e deve-se nesse sentido procurar um maior equilíbrio. “Tem de se dar esperança às pessoas e criar condições para que a economia cresça. O desenvolvimento económico trará menos desemprego, especialmente para os mais jovens que terminam as suas licenciaturas e continuam sem respostas”. Dionísio Mendes aconselha, contudo, os portugueses a manterem a esperança que tudo vai melhorar. José Eduardo Carvalho, presidente da Associação Industrial Portuguesa“Não sei se será possível conter a despesa pública sem haver despedimentos da administração pública e local” Nas palavras de José Eduardo Carvalho o Governo tem um desafio complicadíssimo e complexo que é, ao mesmo tempo, reduzir a despesa pública e reformar o Estado colocando ainda a economia a crescer. “É uma tarefa muito complicada. Será que é possível reduzir despesa pública sem haver despedimentos na administração pública e local? É um caso a pensar seriamente”, deixa no ar o presidente da Associação Industrial Portuguesa e ex-presidente da Nersant - Associação Empresarial da Região de Santarém. Considera que as medidas de austeridade aplicadas são as correctas para o momento que se vive e que não podíamos passar sem elas mas interroga-se sobre a sua duração. “Quanto tempo é que isto demorará? Isso depende de um conjunto de factores, que tem mais a ver com a componente externa do que interna mas existe um consenso generalizado de que há necessidade de mais tempo e de um reforço do apoio da ajuda externa. Para isso temos que cumprir os compromissos assumidos, nos períodos acordados”. Quanto a medidas para libertar a economia, José Eduardo Carvalho defende uma flexibilização do período de desavalancagem financeira que os bancos fazão repercutir nas empresas, que não estão preparadas para tal.Padre Mário Duarte, Paróquia de Santa Maria dos Olivais (Tomar)“O povo tem percebido os governantes mas convém não esticar a corda”À frente da Paróquia de Santa Maria dos Olivais, em Tomar, o padre Mário Duarte tem lidado com cada vez mais pessoas em dificuldades para fazer face aos pagamentos mais urgentes, recorrendo a amigos, familiares e à Cáritas. A situação a que chegou o país, com os sacrifícios impostos pelo Governo, leva a que considere que, para já, o povo tem aceite com calma e serenidade as medidas, acreditando em quem está a governar, mas deixa o aviso. “Convém não esticar muito a corda para que aquilo que está a acontecer na Grécia nunca ocorra no nosso país. Todos percebemos que estamos numa situação difícil mas não podem ser sempre os mesmos a pagar. Aquilo que se pretende é que a gestão das contas públicas seja feita tendo em conta o bem dos cidadãos”, alerta. Para Mário Duarte a situação que se vive é fruto de, ao longo dos anos, muita gente ter abusado dos fundos públicos para um tipo de política megalómana, mais própria de países ricos do que de um país de Estado Social. “Construímos demasiados castelos e elefantes brancos e agora pagamos todos as consequências”, analisa.

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