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Não tive festa quando fiz oito anos porque foi o 25 de Abril e o meu pai esteve todo o dia no quartel

Não tive festa quando fiz oito anos porque foi o 25 de Abril e o meu pai esteve todo o dia no quartel

Luís Farias, 45 anos, empresário, Golegã

Nasceu no Entroncamento a 25 de Abril de 1966 onde reside com a mulher e os dois filhos. Teve várias profissões até abrir a Goldesk, uma loja que presta serviços de informática, na Golegã, há oito anos. Em criança queria ser jornalista mas as voltas que a vida deu levaram-no a ser programador informático no Instituto Nacional de Estatística. Sem tempo livre para hobbies, considera que “querer é poder” e por isso enfrenta a crise com a convicção de que, com trabalho e determinação, é possível dar a volta por cima.

Devo ser das poucas pessoas que são mesmo naturais do Entroncamento. Nasci no Hospital da Misericórdia, no curto período em que lá se faziam partos. O meu pai era militar e fiz a pré-primária em Lourenço Marques, porque ele foi para lá em missão. O apelido Farias vem dos meus avós paternos. Faria há muitos mas Farias é mais invulgar. O meu 8.º aniversário foi muito triste porque o meu pai foi chamado para ir para o quartel e lá ficou todo o dia. Foi a 25 de Abril de 1974 e não tive festa de anos. A minha mãe esteve sobressaltada todo o dia e foi muito complicado para mim porque não percebia muito bem o que estava a passar. Uma das coisas que me lembro de dizer em criança é que gostava de ser jornalista. Tinha muito jeito para escrever e gostava muito de ler. Tinha a vontade de escrever não romances mas sobre a realidade com algum sentido crítico. Tive inclusive o incentivo da minha professora de português do 9.º ano, que gostava muito, para seguir jornalismo mas a vida dá muitas voltas. Tive uma série de profissões. Fiz o 12.º ano em regime nocturno porque comecei a trabalhar num gabinete de contabilidade do Entroncamento com 17 anos. Entretanto, ofereci-me como voluntário para o Serviço Militar na Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Dois meses depois de sair, entrei para a secção das compras nas antigas fábricas da Mendes Godinho em Tomar, onde trabalhei entre os 21 e os 23 anos. Começou a haver um desmembramento das fábricas e fui convidado para chefiar a secção de compras da fábrica de Óleos mas o meu chefe não aceitou. No dia seguinte fui aos recursos humanos despedir-me.Fiz a vida dos comboios durante 12 anos. Trabalhei 15 anos no Instituto Nacional de Estatística em Lisboa. Durante os primeiros três estive a morar em Lisboa mas, quando me casei, fiquei a morar no Entroncamento porque a minha mulher é professora em Tomar. Eram três horas e meia a quatro horas por dia em transportes. Comprava um jornal de manhã e outro jornal à tarde. Foi no INE que acabei por me ligar à informática. Tirei algumas formações e acabei por integrar o departamento de informática. Quando regressei dos censos 91 as chefias deram-me a oportunidade de trabalhar em programação. Fui uma das primeiras pessoas a fazer aplicações numa linguagem própria para a estatística. Depois comecei a entrar cada vez mais nesse mundo e, aos 26 anos, tornei-me programador informático. Ninguém é programador informático durante muito tempo. É muito desgastante e, a certa altura, achei que aquilo já não era vida. Tinha uma oficina por cima do meu apartamento no Entroncamento onde já reparava alguns computadores e dava assistência a clientes. Apesar da estabilidade profissional que tinha decidi arriscar num negócio por conta própria, numa altura de crise, e acabar com as quatro horas de viagem por dia.Queremos que o cliente se sinta sempre acompanhado. Fazemos reparações, instalações de software, configurações de servidores, entre outras. No último mês fiz três formações na CISCO. Estou sempre a aprender coisas novas. Disponibilidade para o cliente a qualquer hora e conhecimentos técnicos para apresentar a melhor solução, deixando o cliente permanentemente satisfeito, acaba por ser o nosso lema.Nunca me canso de mexer num computador. Quando há uma avaria numa máquina sou capaz de perder horas para tentar perceber o que se passa. O que me cansa mais é a burocracia. Levanto-me todos os dias às sete da manhã. Em casa é raro estar a navegar num computador. Fiz uma conta no facebook há três meses mas só lá devo ter ido dez vezes. Neste momento, depois de jantar, é para relaxar. Nos dias grandes da Feira do Cavalo da Golegã fecho porque há muita confusão e a loja não é um negócio de feira. São uma espécie de férias forçadas. Acabei por adoptar as tradições da Golegã e, há três anos, acabei mesmo por comprar um chapelinho preto, Gosto muito do São Martinho e de ver os cavaleiros e as amazonas. Não há tempo livre. Já pratiquei andebol agora não faço desporto. Rigorosamente não faço mais nada a não ser computadores e família. Nas férias, vou até ao Algarve e faço mergulho e caça submarina. Levo o telemóvel comigo mas não para a praia. Gosto de cozinhar e até tenho feito umas aventuras na cozinha mas era incapaz de cozinhar todos os dias. O meu lema de vida é querer é poder. As pessoas têm que querer primeiro para depois poderem fazer o que querem. Em relação à crise, por exemplo, temos todos que querer dar a volta por cima. Com o discurso de coitadinhos não vamos lá. Temos que arregaçar as mangas e trabalhar para mudar a nossa vida. Elsa Ribeiro Gonçalves
Não tive festa quando fiz oito anos porque foi o 25 de Abril e o meu pai esteve todo o dia no quartel

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