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“Quando meto ombros a uma tarefa esqueço-me de tudo o resto”

“Quando meto ombros a uma tarefa esqueço-me de tudo o resto”

Tem 51 anos, é licenciado em engenharia mecânica e é administrador da Itaco, empresa sedeada em Benavente. É casado há 29 anos e tem dois filhos. Nascido e criado em Lisboa, mudou-se para Benavente em 2001. Sempre muito independente, começou a trabalhar aos 17 anos. José Galvão pagou os seus próprios estudos a trabalhar. A sua maior paixão é o Sporting. Vai ver praticamente todos os jogos. Nos tempos livres gosta também de jogar futebol.

O meu pai começou a ensinar-me a ler e a escrever e quando entrei na escola fui logo para a terceira classe. Depois do ciclo preparatório inscrevi-me num curso experimental. Foram dois anos marcantes da minha vida. Tínhamos excursões quase todas as semanas, escrevíamos as letras das músicas que cantávamos no autocarro. Eram aulas muito práticas que davam azo à criatividade. De cinco em cinco anos continuamos a encontrar-nos. Comecei a trabalhar aos 17 anos numa fábrica, num turno entre as quatro da tarde e a uma da manhã. Sempre dei o meu melhor em todos os trabalhos. Num dia em que o Benfica jogou, o encarregado ausentou-se. Os outros trabalhadores aproveitaram e foram ver o jogo. Eu estive a trabalhar pelos seis e no dia seguinte o encarregado não se apercebeu das ausências. Com dinheiro no bolso, os estudos começaram a ficar para trás. Estudava através da televisão (Telescola) um sistema de ensino que já não existe. O pior é que me deitava a ver aquilo, adormecia e não via nada. Não percebia nada de desenho quando comecei a trabalhar na área. A fábrica tinha uma sede em Lisboa e existia uma vaga para desenhador. O meu irmão já lá estava a trabalhar e ajudou-me no inicio. Vivíamos ainda na casa dos nossos pais, mas eu chegava ao trabalho às 8h30 e o meu irmão às 10h00. Dois anos depois, o desenhador que eu substituí na sede convidou-me para trocar para a sua empresa. Nunca andei à procura de emprego. Passei a minha infância a brincar na rua, em Lisboa, onde nasci. Lembro-me de construir carrinhos de madeira, com rolamentos. Jogava futebol e também improvisávamos sticks e com uma bola dos matraquilhos jogávamos hóquei na rua. As sarjetas eram as balizas e quem perdia tinha de sujar as mãos para recuperar a bola. Nunca desisti de estudar e enquanto trabalhava consegui entrar na universidade para tirar engenharia mecânica à noite. Tinha de provar a mim mesmo que conseguia pagar os meus estudos. Saía de casa às 8h00 e chegava já depois da meia-noite. Ia de comboio para as aulas quase a dormir, mas era algo que me dava prazer. Quando tinha exame, ia trabalhar no dia seguinte de directa. Tinha 22 anos quando mudei novamente de empresa e passei a chefiar uma secção de desenho. Depois de tirar o curso de engenharia, concorri e comecei a dar aulas de matemática à noite no Cacém. Foi assim durante oito anos. Depois de seis anos a estudar à noite, voltei ao mesmo ritmo e continuava a chegar a casa já depois da meia-noite. Cheguei a uma altura em que já com dois filhos, tive de prescindir do emprego de professor. Uma das melhores coisas que me aconteceu foi vir trabalhar para Vila Franca de Xira. Continuei a morar no Cacém, mas passei a ter uma vida muito mais pacata. Na altura pensei que me estavam a pôr na prateleira. Depois de um colega de trabalho que ajudei na empresa me trair, decidi então passar para a Itaco. Há dez anos vim morar para Benavente. Quando me meto nos projectos, esqueço-me um pouco do resto e por isso eu a minha esposa resolvemos sair de Lisboa. Adaptei-me muito bem à nova terra. Dou aulas na universidade senior, pertenço ao grupo do Sporting de Samora Correia e vou abrir o bar duas ou três vezes por mês. Pertenço também ao grupo de futebol de Benavente, Estrelas sem Brilho. Todas as quartas-feiras à noite jogo futsal no Porto Alto. Não perco um jogo do Sporting. Comprei lugar para 20 anos. Eu e o meu filho vamos ver praticamente todos os jogos. É das coisas que me dá mais prazer. Dedico o domingo mais à família. A minha esposa foi operada e nos últimos tempos tive de tratar de toda a roupa. Aprendi todos os programas da máquina. Cozinho poucas vezes, mas desenrasco-me bem. Prezo acima de tudo a verdade. A pior coisa que pode existir na minha vida é a mentira. Gosto muito da frontalidade. Também me custa muito a inveja. Todos na vida temos algumas inverdades, mas tento sempre acima de tudo ser verdadeiro em tudo aquilo que faço. Eduarda Sousa
“Quando meto ombros a uma tarefa esqueço-me de tudo o resto”

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