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Um treinador viciado em ganhar

Técnico de futsal do Clube Desportivo de Freixianda já foi campeão pelo Benfica e pelo Sporting

O currículo de Pedro Henriques enquanto treinador de futsal é rico e não engana: integrou as equipas técnicas dos dois grandes de Lisboa e já treinou no Japão. O novo desafio da carreira está a ser vivido na Freixianda, Ourém, onde orienta a equipa local. Não encara isso como um passo atrás na sua carreira, até porque ambição não lhe falta. O jovem técnico nascido em Castanheira do Ribatejo quer ser seleccionador nacional de futsal e assume que tem mau perder.

Ana Isabel BorregoFoi através de um anúncio colocado num jornal de classificados de tiragem nacional que Pedro Henriques encontrou o primeiro emprego, como treinador de guarda-redes da equipa de futsal do Sporting Clube de Portugal. No anúncio descreveu-se como um jovem ambicioso e trabalhador que procurava emprego como treinador de futsal. Quando recebeu um telefonema do clube leonino ainda pensou que seria um amigo a gozar consigo e só acreditou que era mesmo verdade quando marcou reunião no estádio de Alvalade.Pedro Henriques dava os primeiros passos no mundo do futsal profissional. Esteve dois anos no clube leonino, passando para o rival Benfica, onde trabalhou como treinador adjunto. Seis anos depois é convidado para exercer as mesmas funções no Belenenses, um clube que lhe ficou no coração, apesar de lá ter trabalhado apenas quatro meses. No seu currículo constam vários títulos de campeão nacional pelo Sporting e Benfica. Venceu duas vezes a Taça de Portugal e uma Supertaça pela equipa das águias.Em 2009 surge o convite para treinar a equipa japonesa do Nagoya Oceans. O antigo treinador do Benfica, Adil Amarante, - com quem Pedro Henriques tinha trabalhado em Lisboa - treinava o clube e convidou-o para seu adjunto. Além deste cargo, treinava ainda a equipa B do Nagoya. O jovem treinador diz que foi a aventura da sua vida. “Foi fácil aceitar o convite porque sempre quis ter uma experiência no estrangeiro. No Japão tive qualidade de vida e dificilmente consigo voltar a trabalhar com tão boas condições como as que me deram”, explica a O MIRANTE.A aventura na Ásia - que durou dois anos - estava a correr bem e havia possibilidade de renovar o contrato por mais dois anos mas dois acontecimentos alteraram o rumo dos planos do treinador: o terramoto que atingiu o Japão no dia 11 de Março do ano passado (ver caixa) e o facto da direcção do clube querer substituir o seu tradutor. “O tradutor é o nosso braço-direito, uma pessoa em quem temos que confiar de olhos fechados. Se não existe uma relação de confiança a carreira pode ficar destruída”, afirma.O treinador de futsal regressou a Portugal e no Verão surgiu a proposta do Clube Desportivo da Freixianda (CDF) (concelho de Ourém) para treinar a equipa de futsal e criar uma academia que apostasse na formação de jovens jogadores. O projecto seduziu Pedro Henriques que aceitou o desafio. O CDF joga na primeira divisão do distrito de Santarém tendo sido apurado para a segunda fase do campeonato podendo sagrar-se campeões distritais. “Queremos treinar bem todas as semanas e conquistar os três pontos em todos os jogos”, esclarece. A equipa está ainda na Final Four da Taça do Ribatejo.Pedro Henriques considera que passar de um campeonato internacional muito competitivo para uma equipa distrital não é desvalorização na sua carreira. O treinador garante que foi o projecto do Freixianda que o seduziu e que dá o melhor em qualquer equipa por onde passa, elogiando os seus jogadores que afirma serem “fantásticos e muito profissionais”. Muito trabalho, dedicação e competência são a receita para ser campeão em qualquer campeonato. Um dos próximos objectivos a nível desportivo é levar o CDF o mais longe possível no campeonato distrital. O contrato com o CDF termina em Agosto e existe a possibilidade de treinar outros clubes mas o treinador não gosta de falar no futuro, preferindo viver um dia de cada vez. Não esconde, no entanto, o sonho de vir a ser seleccionador nacional de futsal.No centro de uma guerra políticaPedro Henriques tem estado nos últimos tempos no centro de uma “guerra” com contornos políticos. Na última Assembleia Municipal de Ourém discutiu-se o que já se falava nos blogues na internet há um mês: se o actual treinador do Clube Desportivo de Freixianda seria ou não funcionário da autarquia. A oposição garante que Pedro Henriques não é funcionário da câmara e que o CDF é um clube privilegiado em relação às outras colectividades do concelho.Questionado sobre o assunto, Pedro Henriques esclarece que é funcionário da empresa municipal OurémViva e que trabalha no Agrupamento de Escolas da Freixianda. O treinador prefere não referir quanto aufere na escola e como treinador para não alimentar mais polémicas. “Esta confusão não faz sentido nenhum. Além de ser uma questão política, à qual sou alheio, é também uma forma de desestabilizar a equipa mas não vão conseguir. As pessoas deviam preocupar-se com assuntos mais importantes para o concelho do que o meu emprego e o meu ordenado. Quero fazer um bom trabalho no futsal e ajudar a desenvolver a modalidade neste clube, mas parece que há muita gente interessada em que o Freixianda não vença”, acusa.Treinador que não tinha jeito para jogar futebolPedro Henriques nasceu a 9 de Abril de 1976, em Castanheira do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, onde começou a dar os primeiros passos no mundo do futebol. Numa equipa de onze jogadores titulares não tinha uma posição fixa. “Era o tapa-buracos dos treinadores”, conta bem-disposto. Depois do Castanheira passou por outros clube da região como o Carregado, Alenquer e Barrosense. Depressa percebeu que não teria grande futuro como jogador e apostou na carreira de treinador. “Já com 15 anos gostava de liderar as equipas lá do bairro”, recorda. Estudou desporto, tirou um curso de Educação Física e outro de treinador de futebol. Quando a sua carreira se tornou mais profissional e ingressou no Sporting conciliava com os treinos nas equipas amadoras do seu concelho. Durante o dia estava no clube leonino e à noite chegou a treinar equipas de Arruda dos Vinhos, Cascais e das Cardosas, localidade do concelho de Vila Franca de Xira.O jovem treinador confessa ser ambicioso, viciado em ganhar e tem muito mau perder. Por isso dá o máximo todos os dias para que os seus jogadores, e ele próprio, sejam sempre melhores. Completamente apaixonado por futsal não coloca a hipótese de ser treinador de futebol.Terramoto do Japão precipitou regresso a PortugalOnze de Março de 2011. Passava das duas da tarde quando Pedro Henriques entrou, juntamente com o seu tradutor, numa loja de telemóveis e os edifícios começaram a abanar violentamente. O treinador já tinha sentido vários abalos mas nunca superiores a trinta segundos. Aquele, violento, durou “mais de quatro minutos”. “Foi assustador. Os prédios, verdadeiras torres, abanavam, parecia que se tocavam uns nos outros. Os telemóveis começaram a receber mensagens com alertas de tsunami. Só tive tempo de ir para casa”, recorda.Em Nagoya, uma cidade costeira a 700 quilómetros do epicentro do sismo de 9.0 na escala de Richter, não houve tsunami mas Pedro não ganhou para o susto. “Tive muito medo e o que mais me assustou foi a duração do terramoto e as mais de 400 réplicas que se sucederam nos dias seguintes”, conta o jovem a O MIRANTE.Pedro Henriques confessa que esse foi um dos principais motivos que precipitaram o seu regresso a Portugal. Admite que se não tivesse passado por essa experiência traumática talvez ainda estivesse a trabalhar no Japão. A qualidade de vida, as “excelentes” condições de trabalho e a popularidade da modalidade em terras asiáticas são memórias que guarda com carinho.

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