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Só em Abrantes se continuam a trocar croquetes por nós de gravata

Só em Abrantes se continuam a trocar croquetes por nós de gravata

O primeiro Banco do Tempo a ser criado foi o único que ainda não “faliu” na região

Os Bancos do Tempo criados nos últimos anos na região também se ressentiram com a crise. As agências de Alverca, Torres Novas, Alcanena e Santarém faliram. Só em Abrantes se continuam a trocar croquetes por nós de gravata.

Por força da sua profissão de vigilante, Francisco Catarino, 47 anos, foi obrigado a tornar-se um especialista em nós de gravata com a ajuda do sogro. Não admira por isso que Marisa Fábrica, a coordenadora do Banco do Tempo de Abrantes, que funciona no CIAC, no edifício da câmara, lhe tenha um dia deixado dez gravatas para ajustar. Foi o pedido mais exótico que chegou àquela agência. A primeira a ser criada, em 2002, e a única que ainda resiste na região. Em Alverca, Alcanena, Torres Novas e Santarém os Bancos do Tempo deixaram de registar transacções e faliram. A agência continua a pulsar alheia à crise, mas não só à custa dos nós de gravata de Francisco Catarino que entretanto deixou de praticar a arte porque a empresa passou a disponibilizar nós de gravata já feitos. Em Abrantes trocam-se também refeições preparadas, como bacalhau com natas, croquetes e outras iguarias, por uma ajuda com os sacos das compras do supermercado ou uma ida à farmácia. Os mais novos recorrem à arte culinária dos mais velhos e ajudam com a mobilidade que têm. “Nunca houve uma tarefa recusada”, assegura Marisa Fábrica. No ano passado entre os serviços mais trocados estiveram as aulas de informática e o acompanhamento nos trabalhos de casa, tarefa pedida pelos pais. As trocas não são directas, por isso quem dá pode não receber da mesma pessoa.A recorrer aos serviços da agência há profissionais de todas as áreas. Desde médicos a advogados passando por estudantes, professores e engenheiros. Os clientes têm entre 30 e 60 anos. Em Abrantes o Banco do Tempo não só resiste como está a acumular lucro. Em 2011 tinha 112 elementos e este ano já soma 114. No ano passado foram contabilizadas 1509 horas “levantadas” e 1589 horas “depositadas”.Santarém morreu quase à nascençaO Banco do Tempo de Santarém nasceu em 2003 e acabou pouco depois de ter começado. Alcanena seguiu o mesmo caminho. Em Torres Novas o projecto conheceu grande dinamismo mas o entusiasmo inicial acabou por arrefecer em 2010. Ao contrário de Abrantes, que conta com o apoio logístico da câmara, factor fundamental para a sobrevivência do projecto, em Torres Novas a agência funcionou no Centro de Bem Estar Social da Zona Alta que tem muitas valências e parcos recursos para se desdobrar. Com a saída de uma voluntária foi difícil dar continuidade ao projecto, admite a coordenadora Anabela Isidoro que não põe de lado a hipótese de reabertura. Quando houver voluntários e disponibilidade para dar e receber. Em Alverca, no concelho de Vila Franca de Xira, o Banco do Tempo já fechou a conta mas o saldo global também foi positivo. Ao longo de cinco anos os objectivos foram alcançados na agência e por isso a equipa decidiu pôr termo ao projecto. “A agência promoveu o apoio à família e a conciliação entre vida profissional e familiar, para homens e mulheres, através da oferta de soluções para necessidades práticas da organização da vida quotidiana. Facilitou também o encontro de pessoas que convivem nos mesmos espaços diminuindo o efeito de problemas ligados ao isolamento e à ausência de contactos sociais”, explica Nádia Braga, que coordenou o projecto. A partir do terceiro ano as trocas passaram a ser realizadas directamente entre membros, sem recurso à agência. Já não se verificaram novas inscrições no último ano de funcionamento.
Só em Abrantes se continuam a trocar croquetes por nós de gravata

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