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Manuel Couceiro

60 anos, agricultor, Azambuja

“Considero-me um marialva. Gosto de toiros, fado, vinho e de mulheres também (risos). Acho que é uma maneira de estar das pessoas que são criadas no campo e em liberdade. Não são pessoas da cidade, que têm uma maneira mais civilizada, mais redonda e às vezes mais fingida de ser. O ribatejano ou o alentejano são assim. Quem não gosta come menos.

Se pudesse voltar atrás escolheria a mesma profissão?Sem dúvida. Não me estou a ver fechado num escritório. Quero é rua e ar puro. Basta dizer que nasci no meio da natureza no Alentejo.A crise poderá levar algumas pessoas a ir trabalhar no campo?É possível mas o campo tem especificidades muito próprias. Uma pessoa que tenha trabalhado num escritório a mexer em papéis terá sempre dificuldade em ver que uma planta foi atacada por uma praga. Trabalhar ao sol não é o pior. No campo um ano nunca é igual ao outro. É preciso não só saber como ter intuição. Preferia que Portugal tivesse um rei em vez de um Presidente da República?Em tempos de crise ter um rei simplificaria muita coisa mas teria que ser um homem sério, de pulso firme. Não me importava de ter um rei desde que fosse bom. Se em vez disso existisse um bom presidente da República serviria na mesma. Um copo de vinho à refeição faz bem à saúde?Quando como de garfo e faca normalmente bebo vinho, a não ser que tenha que conduzir. Ajuda-me a fazer a digestão. Nunca fui apanhado com álcool. Nem poderia pensar em ficar sem carta. Seria o mesmo que ficar coxo. Por que razão os cidadãos se afastam da política e até da participação cívica?A política neste momento em Portugal está mal vista. Na minha família chamam-me nomes por me ter dedicado à política. A seguir ao 25 de Abril toda a gente tinha vontade de participar. Hoje com os casos de corrupção e as suspeitas, muitas vezes infundadas, de aproveitamento político é preciso ter a cara muito limpa para poder dar a cara pela política. Não se podem ter rabos de palha. É pena porque há pessoas válidas que não participam.O Ribatejo ainda é marialva?Considero-me um marialva. Gosto de toiros, fado, vinho e de mulheres também (risos). Acho que é uma maneira de estar das pessoas que são criadas no campo e em liberdade. Não são pessoas da cidade, que têm uma maneira mais civilizada e às vezes mais fingida de ser. O ribatejano ou o alentejano são assim. Quem não gosta come menos. Temos que afirmar a nossa identidade de povo rural e rude mas sério e honesto. Isto só tem mal para quem não concebe a liberdade dos outros. Qual foi o momento mais romântico que proporcionou a uma mulher?Quando estava em África tive acesso a um telefone da Polícia e fiz uma chamada com pré-marcação para a Azambuja. Falei com a minha namorada que é agora minha esposa. Não lhe digo a desgraça que foi aquela conversa! Ela atrapalhadíssima porque não estava à espera. Eu envergonhado a mais de cinco mil quilómetros. Estávamos habituados a corresponder-nos só por aerograma… Foi engraçado.

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