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Comerciante mais antigo de Ourém ainda gosta de ver passar as “brasas” à porta da loja

Comerciante mais antigo de Ourém ainda gosta de ver passar as “brasas” à porta da loja

Aos 89 anos Manuel “Cartucho” é um autêntico arquivo repleto de histórias e de jovialidade

Longe vão os tempos em que o comércio na cidade fervilhava de gente, mas Manuel não desiste. Diz que vai trabalhar até morrer e garante que na sua loja só vende produtos de qualidade.

Manuel ‘Cartucho’ passa os dias à porta da sua loja, junto ao Largo da Igreja, no centro de Ourém, a ver as “brasas” passar, como costuma dizer em jeito de brincadeira. Nem o frio do Inverno o afasta da porta. “Passa aqui com cada brasa que não tenho frio”, diz. Já lá vão os tempos em que a mercearia registava grandes enchentes. Às quintas-feiras, dia de mercado em Ourém, chegava a fazer 40 contos. Actualmente há dias em que nem dois euros consegue facturar. “Tinha a loja cheia desde as nove da manhã às nove da noite. Mal tínhamos tempo para almoçar. Ourém tinha um comércio como poucas terras. Vinham de todos os lugares do concelho. Este largo fervilhava com tanta gente. Hoje desapareceu tudo. Até os cauteleiros”, conta revelando que tem saudades desses tempos e da “agitação que se vivia nesses tempos”, recorda.Cartucho é o ‘nome de guerra’ pelo qual Manuel Oliveira Marques é conhecido em Ourém. Não há quem não o conheça. É o comerciante mais antigo da cidade. Durante a entrevista com O MIRANTE foram várias as pessoas que passaram à porta e cumprimentaram o comerciante. Aos 89 anos tem uma memória de fazer inveja a muitos jovens. Natural de Carcavelos de Cima, freguesia do Olival, vive na sede do concelho há 78 anos. Cartucho começou a trabalhar numa loja de venda de tecidos com onze anos depois de ter completado a quarta classe. No emprego tinha que usar uma bata semelhante às que as crianças levavam quando iam para o Convento dos Cartuchos, em Évora. “Parece mesmo um cartuchinho, baixinho e gordinho”, disse um cliente. A alcunha pegou e ninguém conhece Manuel Marques a não ser por Manuel Cartucho.Depois de 29 anos a trabalhar na loja de fazendas quis arriscar ter um negócio próprio. Ainda tentou que o patrão lhe trespassasse o estabelecimento mas não chegaram a acordo. Quando surgiu a oportunidade de arrendar um espaço na rua Teófilo Braga, junto ao Largo da Igreja, não pensou duas vezes. Já lá vão 49 anos.Só vende produtos de qualidadeA loja não tem qualquer painel publicitário a chamar a atenção. Lá dentro parece que recuamos no tempo. Atrás do balcão de pedra comprido está Manuel Cartucho. Um homem castiço, cheio de energia e bem-disposto, sempre pronto para a brincadeira. As várias prateleiras mostram os produtos para venda. A maioria produtos para a cozinha. Em latas de porcelana com os nomes de cada produto não falta a canela, o colorau ou a erva-doce. “Estes produtos não encontra nos hipermercados. Vou buscar aos melhores produtores”, conta revelando que o colorau vem directamente de Portalegre (Alentejo).Manuel Cartucho diz que na sua loja só vende produtos de qualidade. Por isso deixou de vender fiambre. E queijo só vende curado. “Onde é que compra fiambre bom hoje em dia? Prefiro não vender”, salienta. A máquina cortadora ainda lá está, em cima do balcão, mas já não é utilizada. Também não faltam a máquina de triturar café e cevada e a faca de cortar bacalhau. Quando fala no bacalhau que vende, o comerciante faz questão de tirar um exemplar da arca já com ferrugem que denuncia os seus quase cinquenta anos de vida. “Onde é que compra bacalhau de boa qualidade como este? Com certeza que não é nos hipermercados”, afirma convicto do que diz.Os dias são passados na mercearia e garante que vai continuar a cumprir o mesmo ritual até à véspera de morrer, garante sempre bem-disposto. Faz o caminho entre a casa onde vive com a filha, professora, e a mercearia no seu carocha cinzento que também conta com quase meio século de vida.
Comerciante mais antigo de Ourém ainda gosta de ver passar as “brasas” à porta da loja

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