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Como Napoleão “ajudou” à criação do concelho do Cartaxo

Como Napoleão “ajudou” à criação do concelho do Cartaxo

O historiador e antigo deputado municipal do Cartaxo pela CDU, Rogério Coito, autor do livro “Cartaxo - No cruzar dos tempos”, comemorativo dos 700 anos do Foral do Cartaxo, diz que há muito por fazer para retratar uma terra antiga e com história. E, entre outros exemplos da sua investigação, refere o contributo que as invasões francesas deram para a criação do concelho do Cartaxo, em 1815.

Ao contrário da percepção que se tem, possivelmente pela falta de edifícios, monumentos ou de igrejas que sobressaiam na arquitectura da cidade, o Cartaxo é mais antigo e tem mais história do que a maioria das pessoas poderá pensar. Foi esse o trabalho a que se dedicou Rogério Coito, 75 anos, ex-deputado municipal do Cartaxo pela CDU e historiador, com o livro “Cartaxo - no cruzar dos tempos”, comemorativo dos 700 anos da atribuição do foral, concedido por D. Dinis e D. Isabel de Aragão.Em cerca de 200 páginas, prefaciadas por Ana Benavente, Rogério Coito honra as gentes que tornaram um lugar ermo numa terra produtiva. Um volume que foi o resultado de investigação e pesquisas que o autor, natural da Ereira mas há muito a residir na sede de concelho, efectuou na Torre do Tombo e que, através da escrita, fotografias, imagens e cópias de documentos, relata factos até à data desconhecidos.Como o facto de ter existido um pelourinho no Cartaxo, cujos restos ficam junto à actual Casa de Santa Cruz, os importantes achados de cerâmica fenícia encontrados na quinta da Aramenha e outros achados arqueológicos em Pontével, bem como o convento de S. Francisco, que terá existido no local onde veio a ser edificado o edifício dos Paços do Concelho.“O Foral do Cartaxo é um marco datado de 1350, de acordo com a era de César. De acordo com a era cristã foi atribuído 38 anos antes, em 1312”, lembrou Rogério Coito.O contributo dos franceses para a autonomia do concelhoO autor ama a sua terra. Gosta da paisagem do Cartaxo, do verde, das cambiantes entre a lezíria e o azul do Tejo em Valada, à parte mais castanha do bairro. E dá ainda mais valor às pessoas. “Gosto muito das pessoas ditas populares, com as suas histórias, o folclore, a sensibilidade e liberdade de falar”, refere.O livro traz muito dessa vertente popular, retratos de vida, lendas. “O general Junot veio dormir ao Cartaxo durante as invasões francesas. Abrigou-se na casa mais rica, os cavalos ficaram no estábulo, mas a senhora da casa teve uma menina nessa noite. O Junot achou que esse nascimento era um sinal positivo e quis ser padrinho da menina. Só que de noite é avisado que a corte está a embarcar para o Brasil e ele que vinha para aprisionar o rei e tornar-se ele próprio rei, pega em duas éguas do futuro compadre e nunca mais as devolveu”, recorda Rogério Coito.O concelho do Cartaxo desanexou-se de Santarém em 1815 por ordem do rei D. João VI. O autor conta como a terra se sentia atrofiada à medida que crescia. São recordados documentos de diferentes séculos, como do século XVI, mencionando que o Cartaxo já teria quase 400 fogos, o suficiente para não estar sob o jugo de Santarém. “Mas conseguiu desanexar-se, graças a Napoleão. Se este não invade o Cartaxo, a corte não teria ido para o Brasil e tudo ficaria na mesma. Antes, existia apenas Cartaxo e Vale da Pinta como terras reguengueiras. Ereira, Pontével e Valada pertenciam à Ordem do Hospital, uma espécie de Estado dentro de um Estado”, conta.Foram editados 250 exemplares do livro com apoio da Pulsar - Associação de Animação Cultural do Cartaxo e da autarquia. Custa 8,5 euros.História do Cartaxo por retratar em museuO historiador considera que falta ao Cartaxo um espaço museológico mais abrangente que o Museu Rural e do Vinho, que mostra apenas uma realidade. “Podia ser criado um espaço novo ou um anexo deste museu que valorizasse as pessoas que com o seu suor fizeram de um local ermo uma terra com vida e história. Haverá certamente espólio público e de privados, não existe é espaço museológico dedicado à história do Cartaxo”, admite, com alguma tristeza.Para Rogério Coito os presidentes que lideraram os município ao longo de anos tinham a faca e o queijo na mão para retratar essa realidade, como fez António Ribeiro da Costa, presidente da câmara no século XIX, de quem o autor encontrou vários relatos da vivência local, desde a história do pelourinho ao comentário crítico sobre o homem de fracas posses que deu grande contributo para a construção da praça de toiros em 1874.“Os presidentes que convivem com as pessoas e com os casos, podiam retratar melhor as suas terras. Parece que os presidentes só gostam de falar politicamente correcto para encher actas de reuniões”, confessa Rogério Coito.Sobre a realidade actual da cidade do concelho, o autor mostra-se decepcionado. “O Cartaxo podia ser uma excelente vila e não uma cidade pequena, que não tem os espaços culturais e diversões de uma cidade. Decepcionam-me especialmente os grupos que lideram a autarquia e não fazem o melhor pelo Cartaxo. Na altura, quando os avisávamos, chamavam-nos velhos do Restelo. Vêem-se agora endividamentos, dívidas por pagar, falsas promessas, no fundo o que se faz para ganhar tempo politicamente e votos”, conclui.
Como Napoleão “ajudou” à criação do concelho do Cartaxo

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