Frase de Ruy Belo pintada na fachada da Biblioteca de Rio Maior causa polémica
No executivo camarário há quem preferisse a manifestação artística apagada e quem ache que a polémica é bem-vinda para celebrar a obra de Ruy Belo. O grafitti feito por Cris Neves para as celebrações do 79.º aniversário do nascimento do poeta de S. João da Ribeira não passou despercebido à vereação nem à população.
“Que por todos se faça a poesia” é uma das frases marcantes do poeta natural de S. João da Ribeira, Ruy Belo, mas não tão apreciada tem sido a forma como a mesma foi exposta numa das fachadas da Biblioteca Municipal Laureano Santos de Rio Maior.A Câmara de Rio Maior encomendou um grafitti ao artista local Cris Neves a propósito do 79.º aniversário do nascimento de Ruy Belo, que transcreveu a frase do poeta numa enorme parede branca da biblioteca com letras garrafais a preto e riscos de tinta que escorreram por entre as letras. No fim da frase vem a assinatura de Ruy Belo, falecido em 1978.Há quem goste do efeito visual por ser invulgar e mais parecer um grafitti anónimo e ali colocado indesejadamente, como há quem o considere um borrão. No executivo municipal verifica-se essa diferença de sensibilidades. A vereadora socialista Ana Cristina Silva confessou que se vai habituando à imagem mas que a continua a chocar sempre que passa junto à biblioteca. “Não me parece que tenha resultado”, referiu durante a última reunião de câmara. Menos “diplomáticos” foram outros vereadores. Carlos Nazaré (PS) disse mesmo que não tinha gostado “daquilo”, garantindo que quem lá tem passado tem achado o mesmo. Carlos Frazão, vice-presidente da câmara, foi ainda mais longe e afirmou que, por ele, se tinha pintado a parede por cima logo a seguir, sublinhando que a opinião é pessoal e tem a ver com o seu gosto. “Mas pelo menos está instalada a polémica”, acrescentou.Com o pelouro da cultura e responsável pela organização das homenagens anuais a Ruy Belo, Sara Fragoso (PSD) ficou sozinha na defesa da obra. Lembrou que tudo o que foi feito obteve o assentimento da família de Ruy Belo e foi mesmo a sua viúva, Teresa Belo, a sugerir a frase a colocar.“Em relação ao grafitti é verdade que choca e o objectivo é precisamente esse. Fizemos um recital sobre o poeta Ruy Belo, momento de beleza extraordinário, e tivemos cerca de oito pessoas a assistir, sem contar com as pessoas da câmara”, recorda a autarca. Sara Fragoso considerou que se lá fosse colocada uma placa alusiva ao poeta passaria despercebida e lembrou que a obra será temporária, sem precisar até quando. “É verdade que é uma mancha negra na parede mas pretende-se chamar a atenção para o poeta. Um poeta que tanto gostamos de vangloriar que é nosso, mas a generalidade da população não aparece nas iniciativas relacionadas com ele”, concluiu.Teresa Belo, viúva de Ruy Belo, confirma que esteve a par de tudo quanto se realizou e refere que o resultado final foi consensual com os seus filhos. “A frase foi escolhida por nós e a ideia de pintá-la a preto mostra também alguma da irreverência que Ruy Belo sempre demonstrou na vida e na poesia. Lisboa está cheia dessa forma de arte, com citações, que provoca reacções a quem as vê”, afirma a O MIRANTE.Admitindo que alguns comentários de autarcas sobre o grafitti não lhe agradam, Teresa Belo considera normal e bem-vinda a polémica instalada em Rio Maior e só lamenta que se esteja a fazer uma tempestade ao lado do essencial. “O que se lamenta ainda é que a intelectualidade de Rio Maior e de Santarém se alheie das iniciativas belíssimas que foram realizadas. Ainda agora recebi o pedido de tradução de um livro para a Bulgária e vamos reeditar a obra do Ruy no Brasil. O importante é a poesia”, sublinha.
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