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Uma vida dedicada aos “Camponeses” de Riachos

Uma vida dedicada aos “Camponeses” de Riachos

Martinho Oliveira foi homenageado pelo rancho, que ajudou a fundar há 54 anos

Aos 87 anos, o tocador de clarinete despediu-se em Janeiro dos palcos mas confessa que já sente saudades dos ensaios.

As lágrimas correm pelo rosto e a voz de Martinho Oliveira embarga quando recorda a saída recente do rancho que ajudou a fundar e onde permaneceu durante 54 anos. A sua vontade era continuar a tocar clarinete no Rancho Folclórico “Os Camponeses”, de Riachos (concelho de Torres Novas), mas as dificuldades de locomoção, a força que é necessária para tocar os instrumentos de sopro e a saúde que já não é como antigamente ditaram a sua saída aos 87 anos. O músico foi homenageado pelos colegas e amigos do rancho no dia em que anunciou a sua despedida dos palcos. “Foi um momento difícil porque gostava de continuar mas temos que perceber quando chega a altura de parar e apesar de querer continuar foi a decisão mais sensata e acertada”, afirma.O clarinete continua guardado dentro da sua caixa, colocada em cima de uma pequena mesa redonda num anexo da sua casa. O letreiro - “O Cantinho do Avô Martinho” - não deixa dúvidas que aquele espaço é seu. Desde que deixou o rancho, em Janeiro deste ano, que nunca mais o tirou da caixa. Só o fez a pedido de O MIRANTE. A música sempre esteve presente na sua vida. O avô materno e os primos já tocavam e o menino Martinho sempre ouviu música em casa, por isso foi com naturalidade que, aos 15 anos, começou a tocar requinta na Filarmónica Riachense. Há 54 anos, ele e Joaquim Santana foram os fundadores do Rancho Folclórico de Riachos. Na altura, Joaquim Santana pediu ajuda a Celestino Graça, grande dinamizador do folclore em Santarém e um pouco por toda a região, para fazerem os melhoramentos necessários. “Nessa altura passei a tocar clarinete porque o Celestino Graça achou que seria mais adequado para mim”, recorda.Funcionário das oficinas da CP no Entroncamento durante cerca de três décadas, Martinho Oliveira, também integrou a banda da CP durante 20 anos, tocou na banda de Vila Nova da Barquinha 49 anos e na Filarmónica Riachense, onde começou e tocou durante cerca de duas décadas, mas a certa altura acabou por optar apenas pelo rancho. A ideia inicial quando decidiu deixar de tocar era abandonar também a direcção do rancho, onde ocupa o lugar de vice-presidente, mas convenceram-no a ficar até às próximas eleições que se realizam dentro de dois anos. “Quem tem um presidente como o Joaquim Santana, que faz tudo e é o principal obreiro e impulsionador deste grupo, não tem que se preocupar com nada. Só tenho que assinar os papéis necessários”, afirma, orgulhoso com o amigo que conhece há mais de meio século. Saudades dos ensaiosO reformado entretém-se agora nos tempos livres na pequena horta que possui junto à sua casa, no centro da vila, mas confessa que as saudades dos ensaios já são muitas. Com o rancho viajou 57 vezes para o estrangeiro. sobretudo pela Europa, mas também Cabo Verde, Macau, Hong-Kong e China. Foi em França que fez a actuação que mais o marcou com os grupos a tocarem e dançarem pelas ruas. Para Martinho Oliveira “Os Camponeses” foram a colectividade da freguesia que mais alto e mais longe levou o nome da vila, dando-a a conhecer ao mundo. Apenas lamenta que, hoje em dia, as pessoas estejam tão metidas nas suas vidas que não queiram integrar pequenas colectividades como o rancho de Riachos. “É difícil convencê-las a virem para o rancho”, diz, acrescentando que o grupo actualmente conta com cerca de 35 elementos mas houve alturas em que eram mais de 60 e não podiam ir todos para as actuações porque não cabiam no autocarro.Para o rancho do seu coração, que ajudou a fundar e que viu crescer, deseja apenas tanto sucesso como aquele que conseguiu alcançar nos últimos 54 anos e que ainda consiga ir acompanhando alguns espectáculos e ensaios.
Uma vida dedicada aos “Camponeses” de Riachos

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