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13 de Maio em Fátima era uma festa para os bombeiros de Ourém

13 de Maio em Fátima era uma festa para os bombeiros de Ourém

Jovens soldados da paz aproveitavam para travar conhecimento e trocar números de telefone e moradas com peregrinas. Júlio Henriques, o comandante e o bombeiro mais antigo dos voluntários de Ourém, conta essa e outras histórias de outros tempos.

Nos anos 70 do século passado os soldados da paz dos Bombeiros Voluntários de Ourém (BVO) ansiavam pela peregrinação do 13 de Maio. Esses dias, em que tinham que estar de prevenção, eram uma paródia e os jovens bombeiros aproveitavam para ver as jovens peregrinas. Os mais afoitos metiam conversa e alguns, com mais sorte, conseguiam trocar números de telefone ou moradas para se corresponderem. Júlio Henriques, que tinha na altura 20 anos e tinha entrado há pouco tempo para os bombeiros, recorda com boa-disposição esses dias de animação e convívio.Júlio Henriques, 60 anos, é o actual comandante dos BVO e é também o soldado da paz mais antigo no activo nessa corporação, que comemora este ano 100 anos de existência. Um dos episódios que guarda na memória é o seu baptismo nos bombeiros. Era quinta-feira e chovia. Júlio Henriques, mais conhecido por Julito, estava na Câmara de Ourém, onde trabalhava, quando a sirene do quartel ecoou pela localidade. Assim que chegou ao quartel soube para onde ia. Um incêndio numa habitação em Caxarias. A situação foi controlada sem complicações mas o bombeiro não esquece a adrenalina que sentiu nesse dia.O actual comandante dos BVO guarda esse episódio na memória por ter sido a primeira experiência mas há um momento que, em 43 anos ligado aos bombeiros, não vai esquecer: os incêndios que devastaram o norte do concelho de Ourém em 2005. Nessa altura foram cinco dias sem ir à cama. “Havia muitos incêndios em Portugal e éramos poucos homens para combater tantas chamas. É uma impotência muito grande ver labaredas enormes a queimarem tudo. Arderam algumas infra-estruturas mas nada que pusesse em causa a vida das pessoas. Ardeu apenas uma casa mas não era utilizada com frequência uma vez que os donos eram emigrantes”, recorda ainda emocionado.Desde que assumiu o comando da corporação, há 14 anos, Júlio Henriques fica mais na retaguarda, a organizar as coisas. Nesse Verão de 2005 entendeu que devia ir ao terreno para ter noção da dimensão dos fogos. “Peguei no jipe e fui sozinho. Na estrada que liga a Urqueira ao Olival tive medo. O cenário era pavoroso com as chamas a atravessarem a estrada mas arrisquei e consegui passar. Naquele momento não pensamos em nada, nem na nossa família. Queremos é ajudar quem está aflito e ajudá-los a resolverem os seus problemas”, afirma.Depois de mais de quatro décadas dedicado aos bombeiros de Ourém, Júlio Henriques já está a preparar a sua retirada. Diz que não é um homem saudosista nem nostálgico mas confessa que mesmo quando já não estiver no activo vai continuar a ir ao quartel todos os dias visitar os camaradas. E está também disponível para ajudar “no que for preciso” quem o for substituir.População é solidária Júlio Henriques garante que a população do concelho de Ourém sempre foi muito solidária com os bombeiros da terra. De quatro em quatro anos a corporação realiza o tradicional cortejo de oferendas - o próximo realiza-se este ano, no dia 10 de Junho - onde a população se mobiliza bastante.Em 2008 conseguiram angariar mais de 150 mil euros o que ajuda os bombeiros a gerirem o seu orçamento. Hoje o que as pessoas dão mais é dinheiro mas também há quem dê porcos, galinhas, borregos e carneiros. Depois faz-se um leilão para arrecadar dinheiro. “Antigamente as pessoas não possuíam tanto dinheiro por isso davam o que tinham, como azeite, milho, pinheiros e animais. Hoje também dão para manter a tradição mas a maioria dá dinheiro”, explica.O homem dos sete ofícios Júlio Henriques é aquilo a que se pode chamar um homem dos sete ofícios. Além de bombeiro, foi bancário, ainda exerce a profissão de advogado e canta o fado nas horas vagas. O primeiro emprego foi aos 17 anos no Grémio da Lavoura de Ourém. Depois trabalhou na Câmara de Ourém e foi aí que nasceu o ‘bichinho’ da advocacia.Licenciou-se em Direito enquanto trabalhava como bancário. Obteve autorização para exercer as duas profissões. Reformou-se da actividade de bancário há cerca de onze anos mas continua a exercer advocacia, que concilia com o cargo de comandante dos bombeiros. Nas horas vagas ainda canta o fado. Agora só para os amigos mas há 30 anos percorreu o país, e alguns países europeus, juntamente com dois amigos, a tocar viola e a cantar o fado. Alfredo Marceneiro e Manuel de Almeida são dois dos fadistas que mais admira.
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