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Ribombante Serra d’Aire

Folgo em saber que também tu sobreviveste à grande jornada de luta do Primeiro de Maio. Confesso que desde os tempos do PREC não sentia tanta adrenalina, tanta fúria em lutar pelos meus incomensuráveis direitos e pelas minhas amplas liberdades e garantias. Foram horas e horas de luta, em condições por vezes precárias, sem tempo para ir aliviar a bexiga ou beber um café, mas no final compensou. Trouxe três carros cheios de compras do pingo doce por metade do preço, o que nos tempos de carestia que vivemos se pode considerar uma grande vitória do proletariado sobre a ditadura do capital. Depois dessa experiência posso considerar-me um autêntico veterano de guerra, assim uma espécie de Rambo de trazer por casa. É verdade que nunca tive uma metralhadora nas mãos, mas manobrar carrinhos de compras no meio daquela selva humana perante uma multidão sôfrega e ululante deixou-me marcas para o resto da vida. De repente vi-me dentro de um daqueles filmes-catástrofe de Hollywood em que o fim do mundo está em contagem decrescente e ninguém sabe muito bem o que fazer. Tudo o que luzia nas prateleiras era arrebanhado com tal cobiça que parecia a corrida ao ouro no antigo faroeste. Só visto!Somos realmente um povo de extremos, que é capaz de proteger um sobreiro até à morte ao mesmo tempo que deita fogo às florestas. Um povo que só se lembra de Santa Bárbara quando faz trovoada. E o bom do São Pedro ajuda à festa, gozando com o pagode. Durante o Inverno nem uma pinga de água mandou, levando os homens da agricultura ao desespero. Depois foi o que se viu.O santo com o pelouro da meteorologia esperou pacientemente pela Primavera, cofiando as barbas brancas e fazendo sudokus enquanto se deleitava com as procissões populares e as preces da abençoada ministra da Agricultura. Depois, deu-lhe a veneta e de repente abriu a torneira encharcando as pobres andorinhas que não devem ter vindo preparadas para tanta chuva. “Ai queriam chuva? Então tomem lá, seus sacristas que querem acabar com os feriados religiosos!”, deve ter pensado o manda-chuva lá em cima.Sapiente Manel fiquei a saber recentemente que as crianças com menos de 12 anos não devem participar em brincadeiras tauromáquicas, como as largadas de bezerros que aconteceram em Samora Correia, porque só a partir dessa idade, disse uma especialista, as crianças têm maturidade cognitiva para escolher se querem ou não alinhar na vacada. O que me preocupa não é se uma criança vai pegar bezerros obrigada pelo paizinho ou se não tem consciência se gosta mesmo de andar agarrada a um animal aos saltos sujeita a aleijar-se ou a pisar bosta. O que me inquieta é se as crianças ficam tão traumatizadas com a experiência que anos mais tarde não consigam enfrentar uma boa costeleta de novilho sem se lembrarem que pode ser um naco de algum descendente da pobre vaquinha com que brincaram em crianças. E uma boa costeleta de novilho é coisa que não se deve perder sob pretexto algum, muito menos por obscuras razões freudianas.E com esta dúvida me vou. Um olé do Serafim das Neves

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