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Drogas legais vendidas em lojas podem ser mais perigosas que as ilegais

Alerta presidente do Instituto da Droga a propósito da abertura de uma loja em Vila Franca

O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Goulão, diz que comprar uma droga numa loja que apresenta os produtos como legais cria uma “falsa sensação de segurança” entre os consumidores. Estão sempre a ser produzidas novas drogas sintéticas em laboratório, tornando o controlo por parte das autoridades muito difícil.

As drogas leves que se encontram à venda na nova loja “Sky House”, localizada mesmo no centro de Vila Franca de Xira, podem ainda ser mais perigosas para a saúde do que os estupefacientes e substâncias psicotrópicas ilegais que circulam nas ruas. O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, vê com preocupação o crescimento das lojas conhecidas por “smart shops” no país e acredita que podem ser uma porta de entrada para as drogas duras.Não existem ainda estudos sobre as consequências do consumo das drogas sintéticas que são desenvolvidas em laboratório e vendidas em lojas sob a capa de produtos naturais. O que se sabe é que estes produtos que potenciam reacções e experiências alucinogénias contêm substâncias que podem provocar viciação como outra droga qualquer, alerta João Goulão, que é médico de profissão. “Muitas não entram na lista de substâncias proibidas porque é um processo muito moroso. Basta uma alteração mínima na composição para que a droga seja considerada legal e possa ser posta à venda”, explica. Enquanto uma instituição pública analisa uma droga, multiplicam-se logo novos produtos que podem ser postos à venda se não integrarem a lista de substâncias proibidas. Muitos dos produtos que se encontram à venda nas “smart shops” não indicam sequer que se destinam ao consumo humano. Vem classificadas de “incensos”, “ambientadores”, “anestesias” e até de “fertilizantes”. No rótulo de uma embalagem de “smoke” que se encontra à venda na loja de Vila Franca de Xira, lê-se que se trata de incenso composto por ervas aromáticas naturais e óleos essenciais. Sobre indicações de uso diz apenas “balsâmico e aromático” e tem como advertência que “não deve ser ingerido”. Este produto está à venda para ser fumado num cigarro de enrolar. Segundo João Goulão, estas drogas podem ser uma porta de entrada para outras drogas mais pesadas e até terem efeitos mais perniciosos. O presidente do IDT defende uma fiscalização constante por parte da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), embora reconheça que seja muito difícil acabar com a comercialização porque estes produtos estão acessíveis para venda na internet. Recorde-se que a abertura da Sky House em Março está a gerar alguma controvérsia. A presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, esclareceu que já foi efectuada uma fiscalização de surpresa que concluiu que tudo o que vendiam estava legal. A autarca disse ainda na última reunião de câmara que se realizou no dia 2 de Maio que quando se concede uma licença de “produtos naturais” a uma loja, não existe maneira de saber os produtos que vão estar à venda. Jovens sem preconceitos contra a nova lojaOs jovens ligados a algumas associações encaram com naturalidade a abertura da nova loja de drogas leves em Vila Franca de Xira. João Pedro Baião, de 22 anos, que chegou a ser o presidente da extinta associação Nova Frente Juvenil, em Sobralinho, acha que Sky House pode até ajudar a revitalizar o comércio com a atracção de mais jovens. Não vê qualquer problema que uma loja possa vender os produtos em causa já que não estão na lista de substâncias ilegais, justificando ainda que só lá vai quem quer. Também Sérgio Dundão, presidente da Associação Caminhar com Rumo, de Alverca, não está contra. “As pessoas têm a liberdade de escolher entrar ou não na loja e de consumir”, aponta. O jovem defende que não faz sentido qualquer “preconceito” ou “moralismo” e que deveria ser promovido um debate na comunidade sobre o assunto. Já o presidente da Associação de Jovens de Samora Correia, Edgar Correia, frisa que este tipo de negócios não traz qualquer benefício a nível físico e mental, mas também recusa qualquer tipo de proibicionismo quando a legalidade é cumprida.

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