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A diva de um fado diferente

A diva de um fado diferente

Fadista Ana Lains regressa às origens para um concerto em Ourém

Nascida em Tomar, viveu em Ourém e em Montalvo antes de rumar a Lisboa, aos 18 anos, para tentar vingar no mundo da música. A aposta foi ganha apesar de sentir que a sua música é mais apreciada no estrangeiro.

Ana Lains não se lembra de não cantar. A primeira vez que cantou em público tinha seis anos, mas a mãe recorda que a filha ainda mal andava e já trauteava. Apesar de actualmente cantar fado e ser uma apaixonada por esse estilo musical, o fado só entrou na sua vida aos 14 anos, pela mão do fadista da Chamusca, João Chora. “Ele ouviu-me cantar e disse ao meu pai que eu era capaz de ter jeito para cantar fado. Na altura estranhei aquela opinião porque nunca tinha cantado fado e, com 14 anos, não era o meu estilo preferido. Mesmo assim resolvi experimentar e a verdade é que me apaixonei”, recorda.A fadista nasceu em Tomar há 32 anos, embora a família materna seja de Ourém, onde viveu até completar um ano de idade. Devido à profissão do pai, militar, mudaram-se para Montalvo, concelho de Constância, onde Ana Lains viveu até aos 18 anos, altura em que foi em busca do sonho de ser cantora. Este sábado, 26 de Maio, regressa a Ourém para um espectáculo no cine-teatro local. A única vez que actuou em Ourém foi numa noite do fado realizada no quartel dos bombeiros voluntários, quando ainda era amadora. Ana Lains prevê que este vai ser um concerto estimulante e emocionante. “Estou expectante mas tenho a certeza que as pessoas se vão divertir imenso”, diz.Apesar de só agora estar a tornar-se mais conhecida do grande público a verdade é que Ana Lains já comemorou uma década de carreira e lançou dois álbuns. “Sentidos” foi o disco de estreia, editado em 2006, tendo sido considerado um dos dez melhores discos do mundo na Holanda. Na Grécia foi apelidada de “a diva de um fado diferente”. A maior parte dos seus espectáculos é no estrangeiro. A cantora garante que esses concertos fora de Portugal não são para a comunidade lusa. Um fadista para ver o seu trabalho reconhecido em Portugal tem que ter sucesso primeiro lá fora? “A minha experiência pessoal diz-me que sim mas ainda vivo a utopia de querer acreditar que não. Sinto que a minha música tem sido mais solicitada e apreciada lá fora”, afirma durante a entrevista a O MIRANTE que se realizou na Chamusca, horas antes de subir ao palco dos festejos da Semana da Ascensão.“O fado alimenta-me a alma”Os primeiros fados que cantou foram “Lágrima” e “Zanguei-me com o meu primeiro amor”, ambos de Amália Rodrigues. Apesar de ser uma apaixonada pelo estilo musical confessa que tem uma relação de amor/ódio com o fado. E explica porquê: “O facto de não ter cantado só fado desde pequena ainda é motivo de discórdia no meio fadista. Há quem ainda me olhe de lado porque acham que só canto fado porque agora está na moda. E não é verdade. Eu adoro fado. O fado alimenta-me a alma. Há música para dançar e para descontrair e há música para alimentar a alma”, sublinha.Projectos não lhe faltam. O mais recente é aquele em que participa no livro e disco “Os Mensageiros”, uma antologia de Fernando Pessoa. A obra, lançada no âmbito dos 125 anos do nascimento de Fernando Pessoa, contém 14 composições originais inspiradas na poesia de Pessoa, e reúne artistas portugueses e brasileiros como Dulce Pontes, Joaquim de Almeida, Ruy de Carvalho, Osvaldo Montenegro, Ana Lains, entre outros.Boy George convidou-a para um duetoAna Lains não esquece o dia em que a sua editora lhe ligou a informá-la que o músico britânico Boy George tinha ouvido a sua voz e queria fazer um dueto consigo para incluir no seu disco. O músico ficou a conhecer a sua voz através da rede social na Internet My Space. “Primeiro não acreditei, pensei que estavam a brincar ou que havia um engano qualquer. Quando percebi que era verdade, fiquei atónita mas aceitei imediatamente. Acho que tive sorte porque ele deve ter começado a pesquisar por ordem alfabética e encontrou logo a minha voz”, afirma em jeito de brincadeira.A música, intitulada “Amazing Grace”, faz parte do seu mais recente álbum (Ordinary Alien) lançado em 2010. O músico pediu a Ana Lains que escrevesse o refrão da letra que ela ia cantar. Apesar da parceria nunca estiveram juntos pessoalmente, comunicaram apenas por email e internet. Ana gravou a sua parte em Portugal. “Foi uma grande responsabilidade e uma grande honra cantar com o Boy George. Foi um acontecimento que faz tudo isto valer a pena”, afirma.Dinheiro ganho em concursos de televisão ajudou a construir carreira Ana Lains revolucionou a sua casa quando, depois de terminar o ensino secundário, com 18 anos, avisou os pais que via viver para Lisboa lutar pelo seu sonho de vingar no mundo da música. Depressa percebeu que não seria assim tão fácil e resolveu ir para a universidade. Licenciou-se em Desenho de Moda mas nunca deixou de lado a música.A jovem fadista participou em diversos concursos e nunca desistiu. Aos 14 anos participou no primeiro concurso de imitações no Tramagal (Abrantes) e ganhou. No ano seguinte voltou a concorrer e arrecadou novamente o primeiro prémio. Participou nos programas de televisão Chuva de Estrelas e Cantigas da Rua. Mas foi o Big Show Sic, apresentado por João Baião, que a ajudou a dar os primeiros passos na sua carreira.Com a participação nesse concurso de talentos amadores, Ana Lains amealhou cerca de 1500 contos (7500 euros) e com esse dinheiro arrendou um quarto na capital portuguesa e foi à procura do seu sonho. Depois concorreu à Grande Noite do Fado, em 1999, e ganhou. A partir daí a carreira engrenou. “Comecei a conhecer as pessoas ligadas ao mundo do fado que me foram apresentando a outras e os espectáculos foram aparecendo”, explica acrescentando que começou a cantar profissionalmente aos 19 anos no Casino Estoril.
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