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Viúva de homem colhido por toiro vive apenas com pensão de sobrevivência

Guiomar Costa sai de Azambuja nos dias da feira e vai para casa da filha

Nos dias da Feira de Maio a viúva do homem colhido mortalmente durante as largadas de 2010 sai de Azambuja e passa cinco dias com a filha mais velha na Amadora. Guiomar Costa, 64 anos, subsiste com uma pensão de sobrevivência de pouco mais de 300 euros que mal chega para contas e medicamentos. Dentro de si guarda a revolta de saber que os toiros saem às ruas em pontas.

A viúva do homem que há dois anos foi colhido mortalmente por um toiro na Feira de Maio de Azambuja vive em dificuldades com uma pensão de sobrevivência de pouco mais de 300 euros que mal chega para as contas e medicamentos. Guiomar Costa, 64 anos, mãe de quatro filhos (uma faleceu ainda em criança), nunca trabalhou fora de casa por causa de uma doença crónica e era o falecido marido, José Feijão, aposentado da Câmara Municipal de Azambuja que auferia cerca de 700 euros de reforma, que sustentava a família. Na frontaria da casa térrea, onde vive, nas imediações da igreja matriz, ainda está inscrito o projecto que o casal estava a concretizar : “o nosso sonho”. José Feijão ainda ajudou a recuperar a fachada da casa mas no interior os tectos da cozinha e do quarto, em madeira, continuam a precisar da intervenção. “Um familiar meu colocou aqui fitas adesivas para evitar que chova. Ele já não conseguiu acabar o que começámos”, lamenta a viúva que se vê sem possibilidades de realizar o que falta. Para remodelar a habitação o casal pediu um empréstimo mas os últimos dois mil euros foram usados para pagar o funeral e a ornamentação da campa. A câmara ofereceu o terreno.Nos cinco dias da Feira de Maio, que lhe trazem à memória o trágico acidente, Guiomar Costa, que vive no centro da vila, sai de Azambuja e refugia-se na casa da filha mais velha, na Amadora. Não suporta ouvir as vozes e a música que ecoam nas ruelas. “O que me revolta é saber que os toiros saem à rua em pontas e muitas vezes eles dizem que não”, confessa.Uma das filhas queria que a mãe avançasse com um processo em tribunal mas Guiomar Costa preferiu não o fazer e recusa imputar responsabilidades já que na altura o marido estava no espaço delimitado pelas tranqueiras. “Penso que ele deve ter deixado cair alguma coisa e escorregou”, justifica-se. Nunca chegou a ver o vídeo de O MIRANTE que registou a imagens da colhidaJosé Feijão faleceu aos 65 anos em Maio de 2010 no primeiro dia da feira, já no hospital de São José, na sequência de ferimentos causados por um toiro nas largadas. Nesse dia saiu de casa sem beber, o que até causou estranheza a um dos netos, por ser dia de festa. “Ouvi o tiro a avisar que o toiro tinha saído e pouco depois ouvi muito barulho. Aproximei-me e, não sei por que razão, achei que era alguém meu. Tinha muito medo que fosse um neto mas nunca pensei que fosse o meu marido que era muito cuidadoso”, diz com mágoa. O filho acorreu ao local pouco depois e um dos netos ainda se deparou com o avô estendido. A casa ainda conserva a tertúlia que José Feijão decorou ao longo dos anos e que acabou de completar no dia em que faleceu. Estava reformado há quatro anos da câmara, onde era pedreiro. A viúva garante que era muito aficionado. Abriu e fechou tranqueiras ao longo dos mais de 30 anos em que trabalhou na autarquia.O filho, Paulo Santos, 42 anos, motorista de profissão e bombeiro voluntário na corporação da terra, sente a revolta pela má hora que coube ao pai mas não culpa ninguém. “O meu pai teve o azar de ali estar mas já tinha que acontecer. Ele conhecia a festa muito bem”, mentaliza-se. Alguns filhos e netos permanecem na vila por esses dias. Paulo Santos guarda dentro de si o bichinho dos toiros que o seu pai já tinha. Contudo nunca se aventurou para lá das tranqueiras. Continuará a não o fazer.

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