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Os campinos do campo não se curvam como os mordomos de palácio

Outro dia, enquanto estive num consultório médico à espera de ser atendido entre as 11h 45m e as 14h00, deu para ver muitas (demasiadas) vezes um anúncio que mostra um cacilheiro a caminho do Terreiro do Paço e o concerto do Toni qualquer coisa. Pois o anúncio tem um pormenor repugnante - mostra três campinos cumprimentando quem chega ao cacilheiro com uma vénia que só pode ser copiada de um mordomo de palácio e que nada tem a ver com os campinos - que são pessoas do campo.Eu bem sei que a publicidade tem um importante papel social. Nos anos 60 em Portugal foi graças à publicidade que as pessoas passaram a comprar o chamado «ovo carimbado», deixando assim de adquirir os ovos sem a etiqueta de origem e isto sem esquecer o «Tio Safio» que mostrava aquilo que anos mais tarde aprendi com o especialista José Quitério - vale mais um bom congelado que um mau fresco. Vi dezenas de vezes o anúncio da festa do Terreiro do Paço com os produtos portugueses e sempre aquele gesto horrível dos campinos me surgiu como repugnante - porque me repugna a ideia de que um campino pode fazer umas mesuras, uns salamaleques como qualquer mordomo de palácio.Onde os campinos se curvam sem dúvida é na Ermida da Senhora de Alcamé. Aí, na porta ou perto do altar, entre o pó da lezíria e o cheiro feliz do incenso, o campino curva-se para rezar. Mas isso já é outra conversa, pois se trata de ligar de novo os Mundos que o Tempo separou. Entre a água dos esteiros do Tejo e a terra da Lezíria sem fim, quando o campino reza é a sua alma que respira mas isso não cabe nos anúncios publicitários. E ainda bem.José do Carmo Francisco

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