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De mecânico de aviões a dirigente associativo

De mecânico de aviões a dirigente associativo

José Manuel Casaleiro, 61 anos, exerceu várias profissões ao longo da vida

O presidente da direcção da Associação Popular de Apoio à Criança da Póvoa de Santa Iria, é um homem que não gosta de meias palavras e confessa que nunca imaginou ver tanto jovem sem trabalho nos dias que correm. José Casaleiro foi mecânico de aviões e hoje dirige uma casa que acolhe 740 crianças.

Aos 61 anos José Manuel Casaleiro não se arrepende do percurso profissional que escolheu, apesar de sempre ter sonhado ser psicólogo ou inspector da Polícia Judiciária. “Mas já lá vamos”, diz-nos no seu gabinete, localizado numa das valências da Associação Popular de Apoio à Criança (APAC) da Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira. José Casaleiro é o presidente da APAC, considerada uma das principais Instituições Particulares de Solidariedade Social da cidade, servindo 740 utentes e empregando 120 pessoas.É natural da vizinha cidade de Alverca e o seu percurso profissional está ligado à reparação de aeronaves nas antigas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA).Fez o ensino primário na Póvoa, cidade à qual sempre se sentiu ligado. Foi bom aluno e a professora nunca levantava problemas. Mas quando entrou na escola industrial de Vila Franca de Xira virou traquina e recebeu três suspensões. “Era um pouco mimado e isso, somado à irreverência da idade, deu castigos”, confessa, ao mesmo tempo que retira das suas memórias a história do velho padre Lameiro, de Vila Franca, que conduzia o seu Volkswagen com apenas um banco. “Era para não dar boleia a mais ninguém”, recorda com uma risada.Aos 16 anos entrou como ajudante de mecânico nas OGMA, onde já trabalhava o seu irmão mais velho. O objectivo, como tantos outros jovens da altura, era fugir à mobilização para ir combater no conflito ultramarino. “Eu fui para as OGMA para me livrar à guerra”, confessa. Aos poucos começou a gostar do trabalho, subindo de ajudante de mecânico a controlador de qualidade, trabalhando nos aviões movidos a hélice e a jacto. O primeiro dia de trabalho foi passado a limpar motores. O último, 30 anos depois, a ensinar os mais novos a fazer o mesmo.“Foi mais do que uma grande empresa. Foi uma grande escola e vinha gente de todo o país para trabalhar nas oficinas. Chegou a colocar-se a hipótese de ir trabalhar para a TAP - Transportes Aéreos Portugueses - mas não fui”, conta.Ainda esteve a servir a empresa em Angola e Moçambique, em pleno conflito, reparando os aviões da Força Aérea que ajudavam nas frentes de combate. Mais tarde, no âmbito de um protocolo entre Moçambique e Portugal, foi enviado novamente a África para dar formação a quem lá se encontrava. Nos anos 90 a situação económica em Portugal agravou-se e o trabalho abrandou nas oficinas. José Casaleiro fez as contas e decidiu sair.Incapaz de estar parado no banco de jardim a ver as mulheres entrar no comboio, decidiu ajudar na APAC. Mais tarde os cooperantes decidiram dar-lhe um vencimento mensal para ocupar o cargo de presidente a tempo inteiro. “Estou nesta casa de segunda a sexta-feira, entro todos os dias às 10h00 e sou o último a sair e a fechar a porta”, garante. Em colaboração com o resto da direcção trata de tudo o que tem a ver com o dia-a-dia da instituição, gere e coordena a equipa, recolhe informação e organiza a agenda. Na última década ocupa o pouco que resta do seu tempo no cargo de secretário da direcção da CNIS _ Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade.“Quando era novo lia muitos policiais e sonhava ser agente da Judiciária. Fantasiava resolver os crimes e apanhar os ladrões. Gostava de ter tirado sociologia também, é uma área que gosto muito”, recorda. Passados 38 anos desde o golpe militar que derrubou a ditadura do Estado Novo, José Casaleiro diz estar “triste” com o crescente desemprego que aflige os jovens. “Nunca pensei que isto viesse a acontecer à nossa juventude”, lamenta. Caso o tempo voltasse atrás e José fosse hoje um recém-licenciado, garante que iria lutar por um emprego em Portugal. “Se não houvesse mesmo nada ia para África. Tem pessoas fantásticas e um clima soberbo”, conclui.
De mecânico de aviões a dirigente associativo

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