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“O que me move não é ganhar dinheiro”

“O que me move não é ganhar dinheiro”

João Viana Rodrigues, 59 anos, advogado, Abrantes
Aquilo que ambicionamos nem sempre é alcançável. Ser advogado foi uma decisão tardia e ponderada. Fui aconselhado a seguir Direito pela minha professora de História, que achava que tinha mais jeito para letras do que Ciências. Em criança nunca disse que queria seguir determinada profissão. Ainda hoje sinto que podemos trabalhar para construir o nosso futuro mas há circunstâncias, todos os dias, que podem alterar os nossos projectos. Não tenho horários e convivo bem com isso. Tenho dias, como a semana passada, em que começo a trabalhar às sete da manhã e acabo por terminar às 21 horas porque se juntaram uma série de prazos. Ao sábado é usual vir para o escritório trabalhar sem a azáfama dos telefones e dos clientes. Utilizo uma agenda de papel que está preenchidíssima todos os dias. Nesta actividade é essencial ser organizado. Não podemos deixar para amanhã uma tarefa cujo prazo termina hoje. Fui professor do ensino secundário durante três anos lectivos. Dei aulas de Francês em Lamego, de História em Tramagal e de Português em Abrantes. Foi uma experiência muito enriquecedora e se tivesse estabilidade no ensino teria optado, apesar de não ter formação via ensino. Mas quando dei os primeiros passos na advocacia também gostei e, através da prática, entendi que havia mais estabilidade. Faço por dormir entre sete a oito horas por dia. Depois de uma noite de descanso, o rendimento é muito melhor. Transmito uma calma que por vezes não tenho. Sou filho único, cresci sozinho e não me habituei a extravasar os meus sentimentos. Estou consciente das consequências que este feitio pode ter para a minha saúde mas é assim que sou. O nosso trabalho tem a ver com a vida das pessoas. Sou advogado há 35 anos e considero esta actividade muito interessante porque trabalhamos com a liberdade ou com o património das pessoas. Isso entusiasma-me. O que me move não é ganhar dinheiro, com esta ou aquela causa, mas sim a satisfação de ter conseguido um determinado objectivo. Consigo desligar-me facilmente dos casos. Não podemos ficar presos aos casos do passado, sob pena de não ficarmos atentos aos do presente.Gosto muito da barra do tribunal. É o local onde as coisas acontecem e onde se procura apurar a verdade para se aplicar a lei e fazer justiça. Prefiro estar na sala de Tribunal do que no escritório e, se um dia tiver outros colegas a trabalhar comigo, deixo esta parte para eles porque acho que a reforma não se fez para continuar a trabalhar. Nasci na vila mais antiga e bonita do país, Ponte de Lima. Foi lá que estudei até ingressar em Direito em Coimbra. Sou filho único. Por razões de casamento, acabei por ficar a viver em Abrantes e hoje em dia já me considero abrantino. Trabalho no escritório com a minha esposa e o meu filho, que também é advogado, embora ele esteja mais em Castelo Branco. Prezo muito a amizade que é uma coisa que se conquista mas é muito rara. Não tenho a leviandade de dizer que tenho muitos amigos.Não tive dificuldades em enraizar-me em Abrantes. Mas não prescindo de ir a Ponte de Lima todos os anos por altura das Feiras Novas (festas do concelho), em Setembro, as melhores do país. Abrantes é uma cidade agradável e bonita mas devia deixar de ser um local de passagem para ser um local de visita. Não há património que atraia pessoas e o centro histórico está deserto. Já se devia ter feito alguma coisa para mudar esta situação. Gosto muito de viajar e vou conseguindo fazê-lo nas férias porque durante o ano não consigo. Gosto de ir ao cinema e, tempos houve, em que não adormecia sem ler. O tempo que tenho para leitura não obrigatória é muito curto. O telemóvel está sempre comigo e ligado. Nas férias levo-o por causa dos familiares mas se algum cliente me liga atendo por uma questão de respeito. Não perco tempo com redes sociais. Elsa Ribeiro Gonçalves
“O que me move não é ganhar dinheiro”

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