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Nem com milagres se multiplicam donativos para a festa de Benavente

Festeiros saíram desanimados do peditório mas ainda conseguiram quatro mil euros

O povo lamenta-se antes de pôr a moedinha no saco para as Festas em Honra de Nossa Senhora da Paz que decorrem entre 3 e 7 de Agosto em Benavente.

O peditório ainda não começou e já se ouve: “a malta está toda tesa!”. As cinco horas de cortejo de porta em porta para se arranjar donativos para as festas em honra de Nossa Senhora da Paz, em Benavente, acabariam por confirmar o cenário. A jornada arrancou da igreja da vila no sábado, 28 de Julho. Os membros da comissão vão vestindo as capas enquanto se queixam da malfadada crise. Os músicos da associação cultural e musical de Salvaterra de Magos afinam os instrumentos para ver se na hora de bater à porta seduzem os moradores a abrir os cordões à bolsa. Mas nem a imagem de Nossa Senhora que os acompanha faz milagres. São 25 os elementos que se fazem às ruas envergando capas azuis claras num desfile com pompa e circunstância. Debaixo de um sol escaldante, das testas dos festeiros o suor escorre em bica. Começam por atacar o bairro da Vila das Areias, conhecido por dar boas gorjetas. Já lá vai o tempo em que a chegada do peditório era assinalada com estrondo. Actualmente não há dinheiro para queimar em foguetes. Formam-se grupos de três e a jornalista junta-se aos da velha guarda. Ao fim de uns metros a desilusão começa a instalar-se. Nem uma alma caridosa apareceu à porta e já tocaram a meia dúzia de campainhas. A primeira moradora a abrir lá resmunga que “nem sequer vai à festa”, mas mete alguma coisa dentro do saco. No resto do peditório quem recebe os festeiros fá-lo com choradinhos: “não tenho nem um tostão em casa”; “isto está muito difícil”. Habituados à lamúria, João Ferreira, José Patrício ou João Lima vão vendendo o seu peixe, respondendo que até “um cêntimo ajuda” ou “o que conta não é a quantidade mas a boa vontade”. Lá vão surgindo umas moeditas. Às vezes aparecem umas notas de cinco ou, mais raramente ainda, umas de dez euros. Há muitas situações caricatas que acabam por devolver alguma boa disposição a quem se deixou desanimar com a fraca adesão. Às vezes quando se toca a uma campainha quem está lá dentro responde pelo intercomunicador que não está ninguém em casa. Também há cabeças que assomam às janelas para ouvir os músicos, mas quando chega a hora de abrir a porta o silêncio é sepulcral. Margarida Almeida vem à porta beijar a bandeira com a imagem da Nossa Senhora e deixar uma ajuda. “Nunca se volta as costas à Nossa Senhora da Paz”, explica. São muitas vezes as pessoas mais velhas da terra, muitas das quais sem grandes posses, que mais ajudam.O peditório termina no bairro do Ribassôr. “Há anos que os moradores daqui se queixam que não têm dinheiro”, segreda alguém. Toca-se à campainha dos prédios, abrem a porta de entrada, mas depois de se percorrer todos os andares não se abre uma única porta. É hora de voltar a casa com o cansaço estampado no rosto e contar os trocos. As contas dão quatro mil euros. Fica um pouco abaixo das expectativas, numa festa orçada em cerca de 80 mil euros. Mas não é por isso que as festas vão deixar de se fazer e a comissão agradece a colaboração.

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