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Leite de burra de herdade do Couço para tratamentos de beleza

Leite de burra de herdade do Couço para tratamentos de beleza

Os animais são ordenhados duas vezes com equipamento adaptado
Há cerca de cinquenta burros e burras numa herdade do Monte das Faias, no Couço, concelho de Coruche, que tem a particularidade de ser atravessada pela Estrada Nacional 251. Os animais têm uma pelagem castanha escura e branca e pertencem à única raça autóctone portuguesa, a de Miranda. Actualmente só oito produzem leite. Têm o pelo cortado rente para as aliviar do calor. As crias (nove) estão separadas. Num outro cercado estão as burras prenhes, que se aproximam do repórter com grande à-vontade. Encostam-se à cerca, deixam-se acariciar no dorso e na cabeça e dão pequenas turras como os gatos. “Esta raça é meiga e dócil por natureza, são animais muito curiosos”, explica um dos donos, Filipe de Carvalho.O garanhão, de nome Trovisco, está na cerca ao lado das burras prenhes. Ao ver entrar gente arrebita as orelhas e zurra. Depois põe o focinho do lado de fora da cerca para cheirar as fêmeas mas não se nota qualquer excitação que requeira acasalamento urgente. Não é só ele que tem direito a nome próprio. Há a Achada; a Alfazema; a Serralha; a Negrita; a Bolota, só para citar alguns.Filipe de Carvalho e Miguel Carvalho são de Lisboa e dedicam-se à criação de gado asinino. O primeiro deixou mesmo a profissão de gestor de empresas para se dedicar a cem por cento àquela actividade. O leite das burras é transformado em leite em pó e na sua maior parte exportado para vários países europeus e sobretudo para a Ásia. O destino final é a indústria dos cosméticos devido às suas propriedades regeneradoras a restauradoras da pele. São conhecidos os famosos banhos de leite de burra da rainha Egípcia Cleópatra. No Sábado O MIRANTE assistiu a uma ordenha. O filho de Filipe de Carvalho dá uma ajuda ao pai que faz as tarefas habitualmente a cargo de um trabalhador que está de férias. Em instalações que já existiam na propriedade adequadas à criação de animais, foi criada a sala de ordenha com capacidade para quatro burras em simultâneo. O gradeamento condiciona os movimentos das burras leiteiras. A manjedoura com ração faz com que os animais entrem voluntariamente num espaço apertado. O processo é feito duas vezes por dia, às 12h30 e 18h30. Filipe de Carvalho desinfecta as duas tetas de cada burra com uma espuma e coloca as tetinas. Depois a máquina é ligada e o leite corre para um reservatório comum. Indiferentes, as burras vão comendo. O processo repete-se com mais quatro burras.Em condições normais consegue-se recolher cerca de 10 a 12 litros num ordenha. O leite é encaminhado para um tanque em frio com agitador, de maior dimensão, que se encontra no laboratório situado numa divisão próxima. O leite é acondicionado em sacos de dois litros e congelado numa arca. Os 10 a 12 litros dão para produzir um quilo de leite em pó. As crias (9) esperam para chegar aos três anos de idade quando são consideradas adultas e podem dar leite. Podem ser cobertas aos seis anos. Por isso, os empresários tentam comprar burras com três ou quatro anos. O período de gestação é de 12 meses. Aumentar a produçãoA ideia de fazer criação de burras asininas de Miranda para produção de leite em pó começou em 2006 mas só em 2008 foi criada a Naturasin, empresa que gere o negócio. Só passados três anos, em 2011, as condições foram reunidas a 100 por cento. “Penso que temos as únicas instalações mecânicas adequadas à ordenha de burras no mundo e que estão preparadas para ser aumentadas. Percorremos um processo burocrático que ficou concluído com a certificação industrial”, refere Filipe de Carvalho, apontando para 2012 o objectivo de produzir duas toneladas de leite em pó. As solicitações de leite em pó superam em muito a produção. Quase 100 por cento do leite é encaminhado para países como a França mas também para o extremo oriente. As qualidades do leite de burra são reconhecidas. Sempre se ouviu dizer que a rainha Cleópatra tomava banho em leite de burra, ritual para o qual era preciso ordenhar cerca de 300 burras. Outros tempos. O leite tem propriedades que ajudam a preservar e a manter a elasticidade de pele. Pode servir também como substituto do leite de vaca e da lactose na alimentação humana por ser o que mais se aproxima em termos de características e qualidade. “Dá um prazer enorme trabalhar e ver o trabalho reconhecido, o que não se verifica pela exposição que possamos ter nos media. No dia a dia temos vindo a vender cada vez mais”, conclui Filipe de Carvalho, admitindo que o efectivo de animais pode aumentar para o dobro. É só questão de os encontrar e adquirir. Uma burra pode chegara a custar 1.200 euros.
Leite de burra de herdade do Couço para tratamentos de beleza

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